Repórter do Future of Money
Publicado em 11 de dezembro de 2024 às 17h35.
Desde que o Google anunciou uma nova geração de chips para computação quântica que trouxe avanços significativos para a área, o mercado de criptomoedas foi consumido por debates sobre o impacto para o setor. E o próprio criador do bitcoin já alertava sobre o risco que a tecnologia representava para o ativo.
A preocupação do mercado envolve a tecnologia por trás das criptomoedas, o blockchain, que é uma rede de blocos de informação que conta com uma criptografia avançada para garantir a imutabilidade e inviolabilidade dos mesmos. Até hoje, o poder computacional necessário para quebrar essa criptografia era economicamente inviável, exigindo um gasto grande demais.
Mas os avanços em computação quântica revivera temores de que a quebra das criptografias de blockchain se tornarão mais fáceis e baratas. Com isso, o bitcoin e outras criptomoedas estariam vulneráveis a manipulações, roubo de informações e controle externo, na prática perdendo a atratividade e potenciais usos.
De um lado, o medo dos investidores pode estar exagerado. É o que avalia a gestora Bernstein em um relatório divulgado após o anúncio do Google. Analistas da empresa reconheceram a ameaça da computação quântica para cripto, mas acreditam que ela ainda está a "décadas" de distância de se concretizar, mesmo com os avanços recentes, já que o mercado ainda está distante de chegar no poder computacional necessário para "quebrar" o bitcoin.
Do outro, o próprio criador da criptomoeda, Satoshi Nakamoto, reconheceu que os algoritmos atuais do bitcoin precisarão ser substituídos para evitar a quebra dos mesmos pela computação quântica.
Em 2010, alguns anos antes de desaparecer, Nakamoto fez uma publicação em um fórum de discussões em que falou sobre a possibilidade do SHA-256, código de criptografia e integridade de dados do blockchain do bitcoin, ser violado, buscando oferecer uma solução para o problema.
"Caso o SHA-256 fosse completamente quebrado, eu imagino que nós precisaríamos chegar a um acordo sobre qual seria a blockchain mais honesta antes do problema começar, travá-la e então continuá-la com uma nova função de hash", disse, se referindo aos códigos de criptografia da rede.
Ou seja, os usuários e desenvolvedores do projeto precisariam suspender a atividade na rede, definir até qual bloco de informações não houve manipulações ou violações pela computação quântica e, então reiniciar a rede a partir desse bloco, mas com um novo algoritmo de criptografia por trás.
Nakamoto disse ainda que, caso essa quebra de algoritmo ocorresse de forma mais gradual, seria possível realizar essa transição de forma mais ordenada, definindo a partir de qual bloco entraria em ação o novo código de criptografia e dando "o tempo para todos se atualizarem".
O misterioso criador do bitcoin, porém, pode ter criado um outro problema para o projeto. Emin Gün Sirer, criador do blockchain Avalanche, destacou que, com os avanços da computação quântica, seria possível que alguém quebrasse a segurança da carteira digital de Nakamoto e tivesse acesso ao montante bilionário de bitcoins que ele acumulou antes de desaparecer.
A recomendação de Sirer é que os desenvolvedores atuais por trás do projeto congelem as criptomoedas armazenadas antes que isso ocorra, já que os responsáveis poderiam vendê-las, aumentar repentinamente a oferta do ativo e derrubar ou manipular o seu preço.
Enquanto isso, o Bernstein destaca que "os contribuidores do bitcoin já estão debatendo a transição para uma criptografia resistente à computação quântica". E tudo indica que eles ainda terão muitos anos para implementar essa solução antes que a tecnologia efetivamente se torne uma ameaça para a criptomoeda.