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ChatGPT cria ideia falsa que qualquer um pode ser programador, diz especialista

Inteligência artificial pode ajudar no trabalho de programadores, mas exige cuidado e atuação de um profissional

ChatGPT já é usado para criar códigos de sites e aplicativos do zero (NurPhoto/Getty Images)
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 12 de maio de 2023 às 16h43.

Última atualização em 12 de maio de 2023 às 17h18.

O ChatGPT tem sido usado em diversas áreas desde o seu lançamento para o público, em novembro de 2022. Apenas no Twitter, é possível encontrar diariamente dezenas de posts mostrando usos para criação de textos, revisão de materiais, fornecimento de informação, entre outros. E uma das áreas em que a inteligência artificial tem sido bastante usada é a programação. Entretanto, o seu uso também demanda alguns cuidados.

Em entrevista à EXAME, Daniel Kriger, fundador e CEO da escola de ensino de programação Kenzie Academy, destacou que, no estágio atual dessa tecnologia, ele não acredita que o ChatGPT já seja capaz de democratizar a prática de programação para todos, e na verdade "dá uma falsa sensação que todo mundo virou programador".

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"Ser um programador não é fácil, exige trabalho e dedicação, entender a lógica, funcionamento, e quando tem a base por trás consegue suar bem as ferramentas. Sem o conhecimento prévio, elas [inteligências artificias] podem ajudar a aprender, testar, tirar dúvidas, mas não sei se está estabelecido o suficiente, não acha que democratizou ainda. E precisa usar com cautela", defende o especialista.

ChatGPT como programador?

Na visão de Kriger, o ChatGPT "é uma ferramenta que pode apoiar e auxiliar desenvolvedores para fazer algumas atividades". Entra elas, ele cita a capacidade de explicar as linhas de código, explicitando qual será o resultado da aplicação delas, além de conseguir apontar com boa precisão erros ou possíveis problemas em determinados códigos, permitindo sua correção.

Alguns usuários, porém, têm ido além, e compartilhado posts em que usam a inteligência artificial para criar sites, jogos ou aplicativos do zero, transformando a ferramenta em um programador quando eles mesmos não possuem conhecimento na área. Kriger afirma que a ferramenta "até consegue fazer" esses produtos, mas o resultado "não é avançado".

Não são produtos que grandes empresas usariam. Para demonstração é legal, funciona, mas para uso de caso em larga escala, não funciona", pontua o executivo. Por isso, ele diz que o ChatGPT "não compete" com os programadores ou vai roubar os empregos desses profissionais: "o programador precisa fazer algumas coisas, ter uma atuação, que inteligências artificiais como o ChatGPT estão muito longe de conseguir fazer".

Entre essas capacidades, está a de entender claramente um problema e um pedido de um cliente ou colega. Esse entendimento demanda o compreendimento do contexto por trás daquele pedido, a capacidade de encaixar as informações nele, e Kriger avalia que "a máquina está longe de pegar essas complexidades". Em muitos casos, os próprios clientes e colegas não sabem explicar bem suas demandas, o que demanda uma capacidade de entender problemas e nuances que "o ser humano faz melhor que ninguém".

Há, ainda, habilidades comportamentais que são constantemente exigidas no ambiente de trabalho: "Se você está desenvolvendo um programa complexo, precisa de pessoas, trabalho em equipe, precisa de comunicação, e as ferramentas não suprem isso". Nesse sentido, ele defende que "vai demorar muito" para uma inteligência artificial como o ChatGPT conseguir substituir um programador.

Como usar inteligência artificial na programação?

Entretanto, isso não significa que as inteligências artificiais não possam ser usadas por um programador para facilitar o trabalho. Atualmente, Kriger afirma que existem muitas ferramentas de IA "que são muito boas e também ajudam muito", mas o ChatGPT está longe de ser a melhor.

A mais conhecida e com bons resultados, segundo o executivo, é o GitHub Copilot, desenvolvido pelo GitHub, um dos maiores e mais usados acervos de códigos e organização de programações. "Eles criaram essa ferramenta que, principalmente, serve para completar código, ele vem com sugestões do que poderia ser o resto do código. No caso de produtos simples, ele também consegue criar o código do zero", comenta.

A expectativa dele é que ferramentas voltadas para "eliminar trabalhos rotineiros" dos programadores - e não a profissão em si - vão melhorar cada vez mais, tornando a rotina desses profissionais "mais positiva, eficiente e satisfatória". "A natureza do trabalho muda, mas o humano continua", defende Kriger.

Ele cita ainda uma pesquisa que avaliou a relação entre o GitHub Copilot e desenvolvedores que passaram a usá-lo. O resultado foi que o sentimento dos programadores em relação ao seu trabalho se tornou mais positivo, com os entrevistados afirmando que a inteligência artificial conseguiu eliminar tarefas repetitivas, dar mais agilidade e aumentar a produtividade.

Por isso, Kriger considera será preciso que os programadores aprendam como usar bem inteligências artificiais em seus trabalho. "Se todo mundo passa a utilizar para aumentar produtividade, deixar coisas funcionando de forma mais rápida, quem não usa fica para trás e pode ser demitido ou não ser contratado, vai ser um pré-requisito. Ter isso em um currículo ajuda, saber utilizar há um tempo, as melhores formas de usar, entender o que ela não faz tão bem, o que precisa avaliar, revisar", aconselha o executivo.

Ao mesmo tempo, esses usos demandam alguns cuidados. Ferramentas como o ChatGPT são inteligências artificias generativas, que conseguem criar conteúdos a partir do treinamento usando uma grande base de dados. Um primeiro cuidado ao usar a ferramenta é entender a origem desses dados e, principalmente, o quão atualizados eles são.

O ChatGPT, por exemplo, tem um banco de dados que termina em 2021, então há o risco dele não conseguir usar "novas tecnologias e lógicas de programação, ou mudanças nas formas de usá-las que tenham surgido nos anos seguintes". Para Kriger, isso "reforça a importância de ter o ser humano por trás".

Outro cuidado que os programadores precisam ter é com as chamadas "alucinações", que ocorrem quando a inteligência artificial inventa informações, ressaltando a importância de verificá-las. Por fim, ele destaca que é preciso saber "quem é o dono" dos dados usados para treinar as inteligências artificias, em especial devido a questões de propriedade intelectual ainda pouco claras.

"Pensando no contexto de empresas, essa discussão se torna muito importante. Você vai usar código do ChatGPT mas e se alguém questiona essa propriedade? Para realmente ajudar em empresas, vai ter que se pensar também em como treinar bases de código da empresa dentro de um algoritmo para poder ser mais útil ainda para as pessoas naquele contexto", defende.

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