B3 tem investido em iniciativas no mercado cripto (Eduardo Frazão/Exame)
Repórter do Future of Money
Publicado em 15 de abril de 2024 às 16h25.
Última atualização em 15 de abril de 2024 às 16h33.
A B3 vai lançar nesta quarta-feira, 17, os primeiros contratos futuros de preço de bitcoin na Bolsa de Valores. Entretanto, os planos da empresa para o segmento de criptomoedas vão além. É o que revela, em entrevista exclusiva à EXAME, Jochen Mielke de Lima, CEO da B3 Digitas, braço da companhia focado no desenvolvimento de produtos na área de ativos digitais.
Lima explica que a responsável pela Bolsa de Valores vê atualmente três dimensões de atuação no espaço cripto. A primeira é a de utilização da própria tecnologia blockchain na criação de novos produtos e estruturas de mercado. A área tem sido explorada pela empresa desde 2015, com testes e provas de conceito, buscando explorar seus pontos fortes e fracos mirando na aplicação no mercado financeiro.
"Hoje, é uma tecnologia que temos na nossa prateleira. Podemos avaliar para usá-la em diferentes projetos", explica. A segunda área envolve os investidores interessados em produtos de exposição a criptoativos, mas ofertados em um "ambiente regulado".
O principal "expoente" dessa vertical é o grupo de mais de dez fundos negociados em bolsa, os ETFs, que já existem no Brasil e foram lançados por gestoras na bolsa antes mesmo de grandes mercados, como o dos Estados Unidos. Outro diferencial é que os ETFs já permitem diferentes combinações de oferta, indo desde os temáticos até os de investimento exclusivo em uma criptomoeda.
A novidade será, agora, os contratos de preços futuros do bitcoin, que se somam aos contratos de derivativos de balcão que já existem na bolsa. E há, por fim, a terceira área: um esforço da B3 de se inserir em um mercado "mais nativo de criptoativos, construir capacidade, fornecer serviços e soluções", explica o CEO da B3 Digitas.
O surgimento da B3 Digitas ocorreu exatamente para atender a essa missão, buscando desenvolver "soluções e serviços mais ativos para o mundo de cripto". O foco da empresa, porém, não está nos investidores finais, mas sim nas empresas que estão interessadas ou em obter uma exposição a essa classe de ativos ou ofertá-la aos seus clientes.
No momento, a B3 Digitas já disponibiliza uma tecnologia que permite que instituições ofereçam esse investimento, com a estreia envolvendo uma parceria com o Inter. A empresa oferece investimentos em 25 criptomoedas, que então podem ser selecionadas pela instituição financeira contratante.
Há, ainda, uma plataforma de serviços que busca cobrir "todos os elos da cadeia de valor para a tokenização, da criação de contratos inteligentes até um ambiente para transações, negociação de tokens e aí a liquidação", além de uma consultoria sobre esse segmento para empresas interessadas. Mas Lima destaca que a B3 planeja lançar novidades nessa área ainda em 2024.
Uma delas é a prática de custódia própria de ativos digitais de outras empresas, anunciada no começo do ano. A outra, revela o CEO da B3 Digitas, é o lançamento de uma corretora de criptomoedas exclusiva para investidores institucionais, como bancos e gestoras. O objetivo é oferecer um ambiente regulado de investimento e com uma análise prévia de todos os tokens que serão oferecidos.
A empresa pretende desenvolver o projeto ao longo de 2024, sem uma data definida para lançamento. Entretanto, o CEO da B3 Digitas descarta no momento a criação de uma corretora voltada a investidores de varejo. "O DNA da B3 é de serviços B2B ou B2B2C [empresa para empresa ou empresa para empresa para consumidor], a gente está próximo da pessoa física, mas não é um cliente da B3", explica Lima.
Apesar do interesse da B3 na área, Jochen Mielke de Lima pontua que também há uma https://exame.com/noticias-sobre/tokenizacao/expectativa em torno da conclusão da regulamentação do mercado de criptomoedas, em especial na etapa atual, em que o Banco Central definirá o funcionamento e as regras necessárias para que as empresas obtenham a licença de atuação no segmento.
"O avanço da regulação tem contribuído pra um interesse maior das empresas, ele está bastante alto, mas também flutua com um interesse do investidor final. A Receita Federal aponta que temos pouco mais de 4 milhões de CPFs únicos, e é um número que cresceu muito, e o interesse das instituições reflete isso. Há um interesse institucional em ter essa posição, mas ainda é relativamente tímido, o mercado está em compasso de espera da regulação", afirma.
Na visão do CEO da B3 Digitas, "a ausência de um arcabouço regulatório claro mantém essa demanda relativamente tímida. Com a regulação, e após um período de adaptação, deve ter destravamento de valor". Ao mesmo tempo, Lima acredita que outra frente que deve ajudar a impulsionar esse interesse é o lançamento do Drex.
A B3 participa da fase de testes do piloto do projeto do Banco Central, e Lima compartilha a visão de que "o Drex vem como um viabilizador. É um trilho, não um fim por si só, se fosse fim por si só, como meio de pagamentos, seria ruim, porque já temos o Pix. A proposta não é ser meio de pagamento, você pode usar como isso, mas o grande benefício é o pagamento programável".
"O Banco Central está deixando isso claro, e é uma representação tokenizada de moeda fiduciária. A stablecoin, hoje, pode ser algorítmica ou lastreada, mas tem um risco alocado no emissor, a questão da paridade. O Drex mitiga, quase remove o risco, porque aí passa [o risco] para a moeda fiduciária em si, o Banco Central", destaca.
Ao mesmo tempo, ele pontua que "para o dinheiro programável funcionar de forma eficiente, precisa ter um ativo tokenizado na outra ponta. A segunda fase do piloto, com os cases que poderão ser montados em cima dessa infraestrutura, deverá ter isso como ponto central".
"A discussão do Drex é positiva para identificar o que não deveria estar no mercado atualmente. Podem existir ineficiências que o Drex pode trazer como provocação e questionamento, aquela reflexão de porque fazer certas coisas nos processos. É algo importante, pode trazer muita eficiência, mas com responsabilidade", defende.
O CEO da B3 Digitas também adota uma postura mais cautelosa ao avaliar como será essa "onda de tokenização" que o Drex pode gerar. Na visão dele, a tendência é que os primeiros ativos tokenizados sejam aqueles que não estão na Bolsa de Valores hoje, como veículos e imóveis.
"Quando fala de ativos regulados, os papéis que existem no mercado hoje existem por uma razão, para dar segurança ao mercado, é o papel da custodiante, corretora, ambiente de negociação. O Drex permite entrar nisso, mas tem que vir acompanhado de uma discussão de como fazer isso de forma segura", defende.
Para o executivo, o Drex deverá resultar na passagem "de um modelo de governança centralizada e processamento centralizado para governança centralizada e processamento distribuído, mas os papéis de governança centralizada vão existir em um futuro médio, é uma cadeia de responsabilidade. O investidor precisa ter alguém para quem ligar quando as coisas dão errado, as instituições também".
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