Drex tem previsão de lançamento para o público até o início de 2025 (Banco Central/Divulgação/Divulgação)
Repórter do Future of Money
Publicado em 29 de dezembro de 2023 às 16h01.
Última atualização em 29 de dezembro de 2023 às 16h08.
O Banco Central teve avanços significativos em 2023 para a criação e o lançamento de uma versão digital do real. O projeto, que iniciou o ano batizado de Real Digital, chega em dezembro na metade dos testes com uma versão piloto, participação das principais empresas do mercado financeiro, um novo nome — Drex — e um calendário mais claro de lançamento, até janeiro de 2025 em escala mais restrita.
Comparado aos últimos anos, em que a autarquia falou pouco sobre a iniciativa enquanto focava no Pix e no Open Finance, o Drex passou em 2023 ao centro da agenda de inovação do Banco Central. E isso deve continuar em 2024. A previsão é que os testes com o piloto cheguem ao fim até maio, com uma análise dos resultados e possível lançamento para o público ainda no fim do próximo ano. Enquanto isso, as empresas participantes seguem realizando diversas operações.
Ao mesmo tempo, o projeto também enfrenta alguns desafios que precisarão ser superados em 2024. O principal gira em torno das questões de segurança e privacidade de dados envolvendo a rede escolhida para os testes, a Hyperledger Besu.
A dificuldade em torno dessa questão foi a responsável pelo primeiro adiamento no piloto, cuja previsão de término passou de março de 2024 para maio. Será preciso, ainda, verificar a escalabilidade da rede, que poderá abrigar toda uma nova infraestrutura para o mercado financeiro, apoiada no potencial do blockchain.
Rodrigoh Henriques, diretor de Inovação da Federação Nacional de Associações dos Servidores do Banco Central (Fenasbac) acredita que "2024 será um ano definidor para a criação do Drex. Este foi um ano de muito aprendizado com a divulgação das diretrizes do projeto piloto, a seleção das instituições financeiras participantes deste projeto e os primeiros testes de emissão e negociação de tokens em uma rede regulada pelo Banco Central".
Já para o próximo ano, ele acredita que haverá a oportunidade de "discutir, com o BC e todos as instituições financeiras participantes do projeto, as lições aprendidas do piloto, a efetividade das tecnologias e plataformas escolhidas e validar as primeiras soluções de programabilidade e privacidade da rede multiativos construída para a criação da CBDC [moeda digital de banco central] brasileira".
Uma das empresas que está participando do piloto do Drex é a TecBan, que recentemente concluiu sua primeira operação com uma das ferramentas de privacidade que estão sendo testadas. Tiago Aguiar, superintendente de Novas Plataformas na empresa, ressalta que a Hyperledger Besu "já demonstrou ser eficiente, com a realização bem-sucedida de transações no modelo atacado".
"Além disso, o projeto avançou com a implementação das operações com TPFt e a tecnologia Anonymous Zether, reforçando a segurança e privacidade. Para 2024, o desafio principal é aprofundar os testes de privacidade na rede Hyperledger Besu, assegurando a confidencialidade e o anonimato das operações na rede, enquanto se mantém focado na escalabilidade dessas transações", projeta.
Ele avalia ainda que o Banco Central deverá intensificar os testes envolvendo a questão de privacidade até maio, com uma análise sobre o piloto em junho. "Este enfoque reflete um compromisso significativo com a inovação e segurança, posicionando o projeto Drex para estabelecer novos padrões no uso de blockchain no sistema financeiro", diz.
Fernando Freitas, superintendente executivo do Bradesco - que também está entre os participantes do piloto -, acredita que o grande desafio do projeto em 2024 estará no "trilema privacidade, escalabilidade e programabilidade".
"Ele diz respeito a um difícil problema de engenharia, e que tangencia o estado da arte atual no âmbito da criptografia e de sistemas computacionais distribuídos, forçando-nos a fazer escolhas que comprometem requisitos nos aspectos capturados pelo trilema – e também num quarto aspecto, que é o desempenho computacional", explica.
Para o executivo, ainda é preciso realizar mais testes para entender até que ponto é possível haver uma garantia de privacidade - como exigido pela lei - com uma manutenção da escalabilidade necessária para a plataforma. Ao mesmo tempo, o próprio processamento do sistema - pensando em tempo e energia gastos - também precisará ser melhor discutido em 2024.
Ele ressalta que alguns casos de uso já vislumbrados - como tokenização de títulos públicos - demandarão "alguma solução de privacidade e sigilo bancário", mas ao mesmo tempo a manutenção da capacidade de programabilidade dos contratos inteligentes que poderão ser criados na rede blockchain escolhida.
"Caso o piloto do Drex encontre a solução de privacidade ideal na visão do BC, permitindo avançar com o Drex, o desafio será habilitar novos ativos na rede, como títulos privados do perímetro regulatório e, eventualmente, ativos de outros reguladores como valores mobiliários", explica.
Freitas afirma ainda que "um dos grandes desafios para os próximos anos para a rede do Drex será sobre a dimensão de soluções de identidade digital, descentralizada ou não, para facilitar a identificação das partes para cumprimento regulatório e a prevenção a atos ilícitos".
Outro tema espinhoso que também precisará ser discutido no próximo ano envolve a revisão dos "papéis e a necessidade" da atual infraestrutura do mercado financeiro, com intermediários e exigências que poderão se tornar desnecessários com a adoção da versão digital do real e sua plataforma.
"No fundo, estamos falando de reconstruir produtos e serviços do mercado financeiro e de capitais em uma nova tecnologia, possivelmente rodando de forma 24x7x365 [24 horas, sete dias da semana, 365 dias do ano] e de maneira instantânea, o que também pode impactar leis e regulações para que as mudanças possam ser de fato, implantadas em produção", pondera.
Por isso, ele acredita que "a hipótese a ser provada em 2024 é se a economia tokenizada é melhor e mais eficiente que os sistemas atuais no seu presente estado ou mesmo evoluídos para acomodar as novas necessidades dos clientes e os novos casos de uso", uma questão cuja resposta deverá ser determinante para o futuro do Drex.
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