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‘Birdman’ impressiona pela técnica e pela volta triunfal de Michael Keaton

Com técnica e atuações apuradas e recheado de metalinguagem, 'Birdman' impressiona e deve ser favorito ao Oscar

birdman (Divulgação)

birdman (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 29 de janeiro de 2015 às 08h36.

Não dá para dizer que o nome de Michael Keaton seja desconhecido nos cinemas. Afinal, poucos atores tiveram a oportunidade de ser Bruce Wayne em mais de um filme (Batman, de 1989, e Batman: O Retorno, de 1992). Batman marcou a carreira deste ator americano de 63 anos. Porém, poucos se lembram de Keaton como o vilão de Robocop, a voz do boneco Ken em Toy Story 3 ou um organizador de corridas em Need for Speed. E é justamente essa queda na popularidade do ator que torna a comparação entre Keaton e Riggan Thomson, o protagonista do ótimo Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), tão possível.

No filme metalinguístico, Thomson foi a estrela da trilogia de longas-metragens do super-herói Birdman – mais ou menos como Keaton foi Batman. Mas incomodado com a sobreposição de sua figura pela do herói fantasiado, o ator recusou participar de uma quarta obra – caindo, depois disso, em um limbo entre o ostracismo e a fama. É uma queda bem mais radical do que a enfrentada por Keaton, o responsável por interpretá-lo, mas ainda dá para manter o paralelo.

As semelhanças, porém, acabam por aí. Tanto que Keaton, excelente no papel, chegou a dizer, em entrevista concedida ao site da Vulture, que Riggan foi o personagem com que menos se identificou, em especial por causa do desespero. E não sem razão: o personagem de Birdman precisa (e por isso tenta a todo custo) voltar ao estrelato que perdeu.

Mas vamos à história, finalmente: no longa-metragem de Iñarritu (o mesmo diretor de Babel, 21 Gramas e Biutiful), o protagonista tenta reerguer sua carreira no teatro, dirigindo e atuando em uma adaptação do livro What We Talk About When We Talk About Love (“Sobre o Que Falamos Quando Falamos sobre Amor”, em tradução livre), de Raymond Carver.

Riggan, obviamente, é o protagonista da peça, mas precisa lidar praticamente sozinho com uma equipe só um pouco menos transtornada do que ele mesmo. Temos nos bastidores Jake (Zach Galifianakis), o advogado e produtor surtado de Thomson, e Sam (a ótima Emma Stone), a filha ex-viciada e recém-saída da reabilitação.

No elenco da peça, por sua vez, estão Lesley (uma atriz que está pela primeira vez na Broadway, papel de Naomi Watts) e Laura (Andrea Riseborough, como a namorada do ator), e ambas precisam contracenar com a estrela Mike Shiner (o também excelente Edward Norton, como um artista de um ego gigantesco).

O diretor da peça ainda tem como obstáculo para seu retorno a ameaça de uma crítica, que nem o conhece, mas já o odeia por tudo que fez, fará, ou pior, deixou de fazer. E mais perigoso do que essa víbora fícticia do The New York Times, Riggan também precisa encarar seus próprios medos e cobranças. Seu superego é representado pela figura do Birdman – que fala muito, mas na verdade pouco é mostrado.

O enredo desta sátira pode não deixar muito claro, mas trata-se de uma comédia – de humor negro, mas ainda assim uma comédia. É um lado que Iñarritu pouco explorou em seus três sucessos anteriores (Babel, 21 Gramas e Biutiful), mas que ainda assim mostra ter um bom domínio. Mesmo não sendo capaz de levar a plateia às gargalhadas, Birdman diverte pelas situações apresentadas – a briga de Riggan com Mike, recém-saído de uma sessão de bronzeamento artificial e trajando só uma cueca, é uma das mais cômicas, mesmo que ainda carrega certo grau de drama.

Mas é no aspecto técnico que o filme surpreende. Para começar, pela fotografia, umas das categorias na qual o longa-metragem concorre no Oscar. Birdman parece uma gravação em uma tomada única, contínua, que ainda assim é capaz de comprimir a semana da pré-estreia da peça em apenas 119 minutos. O efeito, porém, é obra da edição que funciona muito bem. São poucos os cortes visíveis.

 

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A trilha sonora é outro ponto que trabalha bem no desenvolvimento da película. Riggan passa por situações estressantes, que o fazem ir da aparentemente calmaria ao nervosismo e raiva em questão de minutos. E essa evolução é acompanhada pelo ritmo constante de uma bateria, tocada por um instrumentista que acaba virando parte dos cenários – o teatro, o palco, seus corredores, e os bastidores, principalmente.

A todo esse conjunto, que por si só já valeria as indicações da Academia, ainda se junta o aspecto metalinguístico do filme. É um ponto que lembra os também indicados ao Oscar recentemente Cisne Negro e O Artista – e que, se não ajuda a produção a ganhar uma estatueta, ao menos colabora para transformar o longa-metragem em um clássico cult.

Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) estreia no Brasil nesta quinta-feira, 29 de janeiro. Assista ao trailer abaixo.

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