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Academia Cinematográfica expulsa Weinstein após assédio

Expulsão de academia que premiou com 80 Oscars os filmes de seus estúdios acontece em meio a um escândalo sexual

Harvey Weinstein: denúncias de abuso sexual e estupro contra o produtor não param de crescer (Andrew Kelly/Reuters)

Harvey Weinstein: denúncias de abuso sexual e estupro contra o produtor não param de crescer (Andrew Kelly/Reuters)

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AFP

Publicado em 15 de outubro de 2017 às 10h39.

Última atualização em 15 de outubro de 2017 às 14h44.

Os dias de glória de Harvey Weinstein em Hollywood ficaram no passado: ele foi expulso pela Academia do Cinema dos Estados Unidos, que premiou com 80 Oscars os filmes de seus estúdios, em meio a um escândalo sexual que não para de crescer.

Após uma reunião de emergência, a junta diretora da Academia votou por ampla maioria - mais de dois terços - a expulsão imediata do produtor de 65 anos, centro de um escândalo desde que o jornal The New York Times publicou em 5 de outubro uma matéria explosiva sobre seus abusos sexuais contra jovens atrizes e assistentes de produção.

"Não só nos distanciamos de alguém que não merece o respeito de seus colegas como enviamos uma mensagem para que termine a era de ignorância deliberada e vergonhosa cumplicidade em conduta sexual depredadora em nossa indústria", diz o comunicado da Academia americana.

"O que está em jogo aqui é um problema profundamente preocupante que não tem espaço em nossa sociedade", acrescenta.

A Academia Britânica de Artes Cinematográficas e de Televisão (Bafta) o suspendeu na quarta-feira e o Sindicato dos Produtores (PGA) adiou para segunda-feira uma reunião para "considerar procedimentos disciplinares". O encontro estava programado inicialmente para sábado.

O reconhecido produtor - os filmes de seus estúdios já receberam mais de 300 indicações ao Oscar e 80 estatuetas - é o segundo membro da Academia a ser expulso.

O ator de "O Poderoso Chefão II", Carmine Caridi, foi o primeiro, acusado de empresar fitas VHD dos filmes que concorreriam ao Oscar para um vizinho comerciante de filmes pirateados.

A decisão, contudo, não tirou de Weinstein o Oscar que ele ganhou em 1999 como produtor de "Shakespeare apaixonado".

- Precedente -

Desde que o escândalo veio à tona, quase 30 atrizes, entre elas Mira Sorvino, Rosana Arquette, Gwyneth Paltrow, Angelina Jolie e Léa Seydoux, disseram que foram vítimas das insinuações sexuais do produtor.

As intérpretes Asia Argento, Lucia Evans, Rose McGowan e uma outra mulher que permanece sob anonimato o acusaram de estupro.

Neste sábado, a atriz britânica Lysette Anthony se tornou a quinta mulher a denunciá-lo por estupro.

A atriz de 54 anos disse que conheceu Weinstein em Nova York e que depois teve uma reunião com ele em seu apartamento de Londres."Ele tentou me beijar e penetrar-me e ao fim eu simplesmente me rendi", disse a atriz sobre o fato que aconteceu na década de 1980.

A polícia de Nova York e do Reino Unido abriram uma investigação contra ele.

"Preciso de ajuda, todos cometemos erros, espero ter uma segunda chance", disse Weinstein na quarta-feira a paparazzis em frente à casa de uma de suas filhas.

O público americano não pareca estar disposta a dar este voto de confiança. Uma pesquisa curso de Jeetendr Sehdev, um especialista em imagem de celebridades, revelou que 82% dos 2.000 entrevistados pediram a expulsão do produtor da Academia e 70% disseram que ficariam "chocados" se não o tirassem.

A blogueira Sasha Stone, editora da Awards Daily, explicou à AFP que uma decisão deste tipo levanta dúvidas sobre outros membros.

"Bill Cosby, Mel Gibson ainda são membros", lembrou. Cosby será novamente julgado por abuso e Gibson foi denunciado por bater na ex-mulher.

Quantos casos sobre abuso sexual ou algo pior virão à tona nos próximos meses? Todos serão expulsos ​​da Academia? É difícil saber", afirmou.

Em seu comunicado, a Academia disse que trabalha para "estabelecer padrões de conduta que todos os membros devem obedecer".

Seu estúdio The Weinstein Company (TWC) -que o produtor fundou e que dirigia com seu irmão- não conseguiu ficar de fora do escândalo, apesar de ter o demitido.

Bob Weinstein disse ao THC que o estúdio sobreviverá à crise e seguirá em frente com outro nome.

Por enquanto o cineasta Oliver Stone disse que não fará uma série prevista sobre a prisão de Guantánamo se o TWC estiver envolvido. Stoneindicou o estúdio Amazon, que cancelou um projeto para o diretor David O'Russell e excluiu o estúdio de uma série sobre os Romanov.

Harvey Weinstein levou aos cinemas filmes aclamados como "Chicago", "A vida é bela", "O paciente inglês", "O artista", "O discurso do rei" e "A dama de ferro".

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