OPINIÃO | A China entra em campo no Campeonato Europeu
A presença de quatro empresas chinesas como patrocinadores da UEFA Euro 2024 reflete uma estratégia clara e bem articulada de expansão da influência econômica
Colunista
Publicado em 4 de julho de 2024 às 15h22.
Nos últimos anos, termos como "oppa" e "saranghae" se tornaram comuns em conversas ao redor do mundo, graças ao fenômeno global do K-pop, a música pop daCoreia do Sul. Mas essa popularidade é apenas uma faceta de uma tendência maior: a crescente influência cultural asiática no cenário internacional.
E essa presença vai além da música e da cultura pop. Hoje, por exemplo, vemos um movimento estratégico de expansão econômica e cultural por parte de grandes empresas asiáticas, sobretudo chinesas, que buscam firmar sua marca e influência no mercado global.
A presença de quatro empresas chinesas como patrocinadores da UEFA Euro 2024 reflete uma estratégia clara e bem articulada da China para expandir sua influência econômica e promover suas marcas no mercado ocidental.
O famoso marketplace Aliexpress; sua vertente de soluções de pagamentos Alipay; a empresa de eletrodomésticos Hisense; a fabricante de automóveis BYD são as marcas que podemos ver exibidas no Campeonato Europeu de Futebol.
Esse movimento é um sinal dos tempos, em que a globalização e a interdependência econômica são mais evidentes do que nunca. E ele faz todo o sentido. Afinal, o patrocínio é uma ferramenta poderosa para marcas que desejam estabelecer e fortalecer sua presença em mercados novos ou existentes.
Ao se associar a eventos de grande visibilidade, como a UEFA Euro, as empresas não apenas aumentam sua exposição. Elas criam uma conexão emocional com o público. E esse tipo de associação ajuda a popularizar e melhorar a percepção da marca diante dos consumidores — e dos investidores.
No caso das empresas chinesas, o patrocínio de um evento esportivo de prestígio como a EUFA Euro é uma maneira eficaz de marcar presença no mercado europeu. Além de ser uma estratégia de marketing inteligente, o patrocínio de eventos esportivos também pode ser visto como uma forma de soft power.
O conceito de soft power se refere à capacidade de um país de influenciar outros através de meios culturais, em vez de força militar ou econômica. Ao patrocinar a UEFA Euro, a China usa suas empresas como embaixadoras de sua imagem e cultura, buscando ganhar a simpatia e a confiança dos consumidores e governos estrangeiros. Algo semelhante ao que é feito pela Coreia do Sul, com a disseminação dos produtos culturais coreanos, como o K-pop.
No entanto, esse tipo de estratégia é particularmente relevante para a China, que tem enfrentado desafios significativos em termos de imagem e relações internacionais. Ao mostrar seu compromisso com o esporte e com eventos globais, a China tenta se posicionar como um parceiro confiável e benéfico no cenário internacional. Esse esforço é parte de uma estratégia mais ampla para melhorar sua reputação global e reduzir o ceticismo que muitas vezes acompanha suas políticas econômicas e comerciais.
Patrocinar a UEFA Euro permite que a China construa pontes e estabeleça relações amigáveis com o público europeu e com outras nações. E as empresas patrocinadoras, ao fornecer produtos e serviços de qualidade, ajudam a quebrar estereótipos e preconceitos, promovendo uma imagem de competência e inovação.
Além disso, essa visibilidade pode facilitar futuras colaborações e investimentos entre empresas chinesas e europeias, fortalecendo os laços econômicos entre as regiões.
Ou seja, a presença de empresas chinesas como patrocinadoras da UEFA Euro 2024 é um exemplo claro de como o patrocínio de eventos esportivos pode servir como uma ferramenta estratégica. Para marcas e para nações.