Esporte

O Jogo da Rainha: no Maracanã, Elizabeth II assistiu ao Rei Pelé fazer gol 900 em 1968

Em 1968, em viagem diplomática ao Brasil, Coroa Britânica assistiu amistoso entre Cariocas e Paulistas no Maior do Mundo

"Eu sei. Já o conheço de nome e me sinto muito feliz em cumprimentá-lo", disse a rainha ao conhecer Pelé (AFP/Getty Images)

"Eu sei. Já o conheço de nome e me sinto muito feliz em cumprimentá-lo", disse a rainha ao conhecer Pelé (AFP/Getty Images)

AO

Agência O Globo

Publicado em 8 de setembro de 2022 às 18h22.

Elizabeth II, que morreu nesta quinta-feira, aos 96 anos, tinha apenas 42 quando esteve no Brasil pela única vez, em 1968. E a viagem da Rainha, que passou por Pernambuco, Bahia, Brasília e São Paulo, teve também belas páginas no Rio de Janeiro. Acompanhada de seu marido, o príncipe Philip, ela assistiu a um amistoso no Maracanã.

Enquanto a ditadura militar já começava os anos mais duros de repressão, as seleções de Rio de Janeiro e São Paulo se enfrentaram no gramado em jogo organizado especialmente para a visita da monarquia britânica: o amistoso entre Cariocas x Paulistas.

Pelé, Gerson, Paulo Cezar Caju, Carlos Alberto Torres, Rivellino, Félix, Jairzinho e Clodoaldo eram alguns dos astros em campo, e o placar terminou 3 a 2, com gols de Pelé (pênalti), Toninho e Carlos Alberto Torres, para os paulistas, e Paulo Cezar Caju e Roberto Miranda, para os cariocas.

O jogo não valia apenas uma taça singela e um afago da Rainha, mas 1 milhão de cruzeiros. Nas arquibancadas, mais de 100 mil pessoas, como de costume, e os monarcas se perguntavam o que significavam os gritos e cânticos.

Ao fim do jogo, Pelé recebeu das mãos de Elizabeth II a taça para os vencedores, ao lado de Gerson, em encontro arquitetado por João Havelange, presidente da Confederação Brasileira de Desportos, que já estava de olho em um cargo na Fifa. Ao ser apresentada ao Rei, a Rainha, de acordo com jornais da época, disparou:

"Eu sei. Já o conheço de nome e me sinto muito feliz em cumprimentá-lo", disse.

A missão da Coroa britânica era diplomática, e o objetivo era estreitar relações com países sul-americanos como Brasil e Chile. Posar ao lado de Pelé, já reconhecido como o maior jogador de futebol do mundo, era ótimo para a imagem da monarquia. O que se dizia à época era que a própria Elizabeth II desejava ver o Rei no Maracanã, após uma Copa do Mundo de 1966 marcada pela violência contra o camisa 10 da Seleção. Pelé ficou feliz em cumprimentar a Rainha.

"É uma rotina da minha vida, mas eu procuro renovar a alegria dos contatos com os que me cercam. Hoje, por exemplo, vivo um dia de grande satisfação porque tive a oportunidade de participar de um espetáculo inesquecível e no final apertar a mão da Rainha Elizabeth, o que afinal de contas é um privilégio de pouca gente no mundo inteiro. O Príncipe Philip é também uma simpatia e eu já o conhecia de outro acontecimento, tendo então a ocasião de revê-lo no Maracanã", afirmou o Rei.

Seu marido, Philip, o Duque de Edimburgo, era um apaixonado por futebol. Seis anos antes, esteve no Pacaembu para assistir a um show de Pelé: 5 a 3 do Santos sobre o Palmeiras, com dois gols do Rei para o Príncipe.

Curiosamente, no Maracanã, questionou aos presentes quanto tempo durava a temporada do futebol brasileiro. Ao saber que os jogadores tinham apenas 15 dias de folga, ficou incrédulo.

"Agora compreendo por que estão cansados. São excelentes individualmente, mas não podem continuar a correr indefinidamente", criticou o Príncipe.

Philip também deu suas opiniões sobre o amistoso: elogiou Rivellino e Gerson, mas achou que Pelé não estava jogando bem, "talvez por estar fora de forma".

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