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Trabalho digno, biocombustíveis e nova ordem global: a expectativa em NY para o discurso de Lula

Presidente brasileiro abre a Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira, para consolidar (ou enterrar) o novo momento do país no cenário global

Sede da ONU, em Nova York: Lula abre a Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira, 20, com ampla expectativa
Rodrigo Caetano

Editor ESG

Publicado em 18 de setembro de 2023 às 11h45.

Última atualização em 20 de setembro de 2023 às 12h08.

Nesta terça feira, 19, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará seu primeiro discurso na Assembleia Geral da ONU , neste terceiro mandato. Nunca antes na história dessa presidência houve tamanha expectativa por essas palavras.

Lula abrirá a assembleia, como todo presidente brasileiro, tradição extraoficial que se mantém desde a criação das Nações Unidas. A expectativa é por um discurso mais voltado para fora do que para dentro, ou seja, o presidente deve falar sobre temas de geopolítica. O toque nacional virá de assuntos importantes para sua presidência, como o clima, a Amazônia e a desigualdade social .

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Na quarta-feira, 20, Lula fará uma reunião bilateral com o presidente americano, Joe Biden, e logo em seguida deve anunciar a “Iniciativa Global Lula-Biden para o Avanço dos Direitos Trabalhistas na Economia do Século XXI”. A ideia é criar parâmetros para assegurar uma transição justa para a economia de baixo carbono , ou seja, garantir que os afetados pelas mudanças econômicas não sejam deixados de fora – leia-se, proteger a renda dos trabalhadores no mundo em desenvolvimento.

A iniciativa está alinhada com o tema principal da Assembleia Geral: a transição energética . Enquanto o mundo se prepara para acelerar os esforços de descarbonização, o que significa abandonar os combustíveis fósseis, líderes políticos e econômicos debatem as novas regras. O objetivo é evitar maiores problemas diplomáticos, além da guerra na Ucrânia, uma consequência indesejada desse processo.

Protagonismo ambiental

A expectativa pelas palavras de Lula une os dois lados do conflito, por sinal, ainda que por motivos diferentes. Os russos aguardam uma continuidade da postura apaziguadora e centrista do presidente em relação ao conflito, sem condenar a invasão da Ucrânia , uma clara violação da soberania de um país independente. Europeus, por sua vez, esperam que ele suba o tom contra Putin.

Para a Europa, mais do que um conflito econômico motivado por mudanças na matriz energética, a guerra representa um risco existencial. A paz no continente é considerada a base de uma Europa forte, e o objetivo principal da diplomacia. Putin, com sua agressividade ditatorial, ameaça esse equilíbrio e deve ser condenado em primeiro lugar, acima de qualquer interesse econômico individual dos países.

Apesar disso, diplomatas e empresários brasileiros não esperam que Lula gastará muito tempo falando da guerra. Seu discurso, provavelmente, forcará em temas mais propositivos, como o combate às mudanças climáticas. Nesse sentido, se espera que o presidente tome a dianteira na liderança do grupo de países emergentes, algo que Narendra Modi, o primeiro-ministro da Índia, não foi capaz de fazer na reunião do G20 , realizada em seu país há duas semanas.

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Lula a seu favor o fato de o Brasil sediar a próxima reunião do G20, no ano que vem, a e COP30, em 2025. E ele deve fazer isso com foco em dois aspectos: a manutenção dos biocombustíveis como alternativa para a descarbonização, e o combate às desigualdades.

No primeiro aspecto, trata-se de um ponto crucial para o agronegócio brasileiro, especialmente o setor sucroalcooleiro, que se vê ameaçado pela eletrificação dos transportes. E para o segmento de energias renováveis, que enxerga no hidrogênio verde uma oportunidade de ouro para ganhar bilhões, com a vantagem de investir em regiões menos desenvolvidas do Brasil, especialmente o Nordeste, o que fala com o segundo aspecto, a desigualdade.

Diminuir a disparidade entre ricos e pobres é uma agenda pessoalmente importante para Lula, e uma carta forte de negociação para a diplomacia brasileira. É um fato que o mundo deve reduzir as emissões de carbono, e isso precisa ser feito coletivamente. Porém, quando se olha para as responsabilidades, o cenário é outro.

Os países desenvolvidos foram os responsáveis pela maior parte do carbono emitido, e os que mais se beneficiaram economicamente disso; enquanto os países pobres, que contribuíram muito pouco para o aquecimento do planeta e não se beneficiaram na mesma medida da industrialização, são os mais afetados pelas mudanças climáticas.

A conta, no caso, é “schumpteriana”. E nessa nova ordem mundial, armas e capacidade de destruição valem muito pouco – afinal, já estamos enfrentando uma possibilidade de destruição mútua em função das mudanças climáticas. O que conta é sua capacidade de convencimento e aglutinação. Essa será a principal tarefa de Lula nesta terça-feira.

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