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Será o “abismo” o destino dos carros elétricos?

Na tradicional curva de adoção de inovações, o carro a bateria se aproxima de um ponto de inflexão

Carros elétricos em Portugal (Universal Images Group/Getty Images)

Publicado em 30 de julho de 2023 às 10h05.

Inovar não é um processo fácil, nem garantido. A tradicional curva de adoção de inovações, por exemplo, apresenta uma série de problemas bem conhecidos para quem trabalha no segmento. Um deles é a ocorrência de "abismos" durante as mudanças de estágios do ciclo.

Existem indícios de que a adoção de carros elétricos poderia estar se aproximando de um "abismo". Os dados de vendas da indústria automobilística americana para o segundo trimestre de 2023 apontam que a venda de veículos elétricos (VEs) dos fabricantes tradicionais não apresenta um aumento significativo. Alguns modelos até mostram quedas em relação ao trimestre anterior, como o Taycan da Porsche, que registrou uma queda de 35% nas vendas.

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Parece que a fase dos primeiros adeptos, que abraçaram os VEs com entusiasmo, está terminando, e estamos entrando em um período de transição. A realidade é que os consumidores comuns simplesmente querem um carro melhor.

Essa transição representa um desafio para a indústria automobilística atrair um mercado mais amplo de consumidores cotidianos que buscam carros elétricos práticos e confiáveis. Atualmente, parece que estamos navegando entre os primeiros adeptos e os consumidores em massa, sem uma tendência clara de superar o "abismo".

Compra de veículos elétricos

Para os consumidores comuns, a adoção do veículo elétrico depende de avanços tecnológicos contínuos, expansão da infraestrutura de carregamento e, principalmente, preços competitivos. Sem a predominância desses elementos, o mercado não amadurece e os veículos elétricos não se tornam mais acessíveis.

Por exemplo, a Stellantis ainda não lançou um veículo elétrico nos Estados Unidos. Em contrapartida, é interessante verificar que os principais fabricantes de automóveis adotaram recentemente o Padrão de Carregamento da América do Norte (NACS), desenvolvido pela Tesla. Essa decisão é importante, principalmente porque anteriormente o Sistema de Carregamento Combinado (CCS) era considerado o padrão seguido pelos fabricantes tradicionais. Isso mostra a conscientização entre esses fabricantes sobre a importância de fornecer aos seus clientes acesso a uma rede estável e amigável de carregamento dos veículos.

A urgência em adotar um padrão de carregamento decorre da visão do "abismo" e da compreensão generalizada de que a adoção dos VEs pela massa de consumidores depende de uma rede de carregamento confiável e abrangente.

As disputas de preços indicam que estamos emum período de estagnação no mercado de veículos elétricos (VEs). Isso é evidente não apenas nas vendas do Taycan da Porsche, mas também nos números de vendas de outros fabricantes tradicionais, como Ford e GM. Várias medidas surgem dessa situação.

Por exemplo, o Bolt, da GM, está sendo descontinuado e seu sucessor ainda não está prontamente disponível para os consumidores. Já em relação à Ford, as vendas do Mustang Mach-E e do F-150 Lightning, embora consistentes, representam apenas uma pequena fração das vendas totais da montadora. As mudanças no volume de vendas desses modelos de um ano para o outro têm sido relativamente modestas.

Há esperança para o futuro? Será que conseguiremos superar esse "abismo"? A definição de um padrão e a melhoria das redes de carregamento, proporcionando uma melhor experiência para os clientes, seriam suficientes para isso?

Recentes desenvolvimentos anunciados pela Toyota no segmento de baterias se apresentam como esperançosos. No entanto, essas mudanças não acontecerão rapidamente, até que a situação em torno dos veículos elétricos se estabilize e evolua para um panorama mais claro.

E quando esse panorama se esclarecer, ainda teremos que enfrentar outro desafio: o mundo estaria preparado para a dominância da China no mercado de materiais essenciais para as baterias dos carros elétricos? Quais seriam as implicações de caminharmos para um mundo que, a título de paralelo, se comportaria como se tivesse apenas um produtor de petróleo? O "abismo" está visível...

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