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Por que é da saúde o recorde de CEOs mulheres?

Na indústria farmacêutica, uma em cada três posições de alto escalão são ocupadas por executivas, em uma média acima dos demais setores. Como o passado explica o presente?

Giovana Pacini, uma das muitas mulheres no alto escalão da indústria farmacêutica, setor onde elas estão em maior número no CLevel. (Foto/Divulgação)
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Plataforma feminina

Publicado em 1 de outubro de 2024 às 08h00.

Última atualização em 1 de outubro de 2024 às 11h29.

Por Giovana Pacini*

A inovação, essencial para a sobrevivência humana, é um pilar fundamental da indústria farmacêutica, ao pensarmos sobretudo na garantia de qualidade e expectativa de vida. Porém, como líder nesse setor centenário, aprendi que inovação nem sempre é disrupção, mas a busca constante por soluções também na gestão – muitas vezes não contadas pela história.

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Se estou em um cargo de liderança na indústria, é porque outras mulheres vieram antes de mim. O que já foi, sem dúvidas, uma grande inovação, impulsionada pela Primeira Guerra Mundial, quando muitas passaram a ocupar postos de trabalho antes reservados apenas para homens. Até então, enquanto eles iam para a batalha, foram as mulheres que sustentaram atividades essenciais em uma sociedade devastada pela pobreza, insegurança, doenças e fome.

Durante a Primeira Guerra Mundial, mulheres na Inglaterra foram admitidas na Força Aérea Real e em outros corpos auxiliares, somando 100 mil integrantes. Na Rússia, Alemanha e França, atuaram em hospitais militares. Na Segunda Guerra Mundial, o papel das mulheres se expandiu ainda mais, com 225 mil nas forças armadas britânicas, 450 a 500 mil nas americanas e aproximadamente 500 mil nas alemãs.

No setor farmacêutico, dominado por multinacionais europeias e norte-americanas, a Merz foi impactada pelas guerras. Após o bombardeio da sede em 1944, a empresa se reinventou, incentivando mulheres da família a assumirem o negócio e se capacitarem para a sucessão e administração da empresa - um movimento natural, visto que a demanda por medicamentos aumentava enquanto a mão de obra masculina diminuía.

Esse período marcou, portanto, uma grande busca por educação, treinamento e qualificação para mulheres. A percepção social da mulher no mercado de trabalho mudou, e a presença feminina no setor farmacêutico aumentou. E neste contexto, a indústria manteve sua essência, buscando o bem-estar social pós-guerra e reforçando o papel das mulheres com políticas afirmativas.

A história reflete a realidade que vivemos. Quando comparamos o número de mulheres que ocupam cargos de liderança em diferentes setores, vemos que, em média, 17% das empresas são lideradas por elas, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Talenses Group com o Insper. Contudo,na indústria farmacêutica, quase 1 em cada 3 (32%) posições de alto escalão, como presidência, vice-presidência e diretoria, são ocupadas por mulheres, de acordo com a Central de Pesquisas do Sindusfarma, em 2023, a pedido do LeaderShe, grupo de mulheres da indústria do qual faço parte.

Sem dúvida, o caminho ainda é longo para alcançarmos a política 50/50 da ONU, também conhecida como “Por um Planeta 50-50 em 2030: um passo decisivo pela igualdade de gênero”. No entanto, quando pensamos nos resultados tanto para o negócio quanto para o ambiente corporativo, que passa por um processo de necessária humanização, vemos que estamos no caminho certo.

O olhar ‘cuidadoso’ que um dia fez a mulher ser vista limitadamente como uma pessoa feita para administrar somente lares e famílias traz para o mercado de trabalho líderes com uma maior capacidade de entender e se conectar com suas equipes, promovendo um ambiente de trabalho mais colaborativo e harmonioso, além de uma maior flexibilidade e capacidade de adaptação a mudanças, o que é crucial em ambientes de negócios dinâmicos.

Mas é preciso abrir os olhos para ver a realidade e entender que o viés consciente do papel da mulher na sociedade ainda é uma pauta que precisa ser protagonista das discussões no mundo dos negócios. O mercado farmacêutico é um exemplo a ser seguido, mas, mais do que isso, é preciso conscientização de que políticas afirmativas são o primeiro passo para qualquer empresa colher os frutos da equidade de gênero.

*Giovana Pacini é country manager da Merz Aesthetics Brasil

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