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Onças preservadas: Como o Instituto Homem Pantaneiro conscientiza e muda ações de fazendeiros

Instituto busca preservar a fauna e flora do Pantanal ao mesmo tempo em que respeita a cultura dos povos locais. Nesta semana, a General Motors anunciou reforço de investimento na operação da ONG

Diego Viana, médico veterinário e coordenador do Instituto Homem Pantaneiro (GM/Divulgação)

Marina Filippe

Publicado em 2 de dezembro de 2022 às 09h40.

De Corumbá, no Pantanal*

Evitar que as onças do Pantanal sejam mortas é a missão do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), ONG que atua na conservação e preservação do bioma e da cultura local, especialmente nas regiões de Corumbá e Serra do Amolar. Para isto, a organização desenvolve e aplica métodos técnicos e promove conversas com os fazendeiros e produtores locais para uma mudança cultural que evite a morte de animais selvagens.

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"As pessoas da região cresceram achando que poderiam matar as onças para proteger seus animais. Respeitamos a cultura dos pantaneiros, mas mostramos a importância da preservação da fauna e do meio ambiente. A onça é o topo da cadeia e ela viva significa que a há biodiversidade", diz Angelo Rabelo, presidente do IHP, que há décadas atua no combate do tráfico de animais.

Atualmente, o IHP impacta dez propriedades. Em uma das fazendas atendidas pelo projeto, por exemplo, os incidentes envolvendo onças e o rebanho caíram mais de 35% após a aplicação das técnicas de manejo.Os benefícios também se estendem para as comunidades ribeirinhas, profissionais das fazendas e associações do agronegócio, que são envolvidos em conversas de conscientização nas quais são apresentadas informações científicas sobre o comportamento das onças, o uso e ocupação do habitat, além de abordar estratégias de convívio seguro e sustentável.

Atividades técnicas

Uma das simples técnicas aplicadas é a instalação de um repelente luminoso. Ou seja, um aparelho eletrônico que acende e apaga luzes em ordens e cores diferentes de modo que ela não avance por desconhecer algo semelhante. "Contudo, a técnica precisa de acompanhamento, já que depois que o animal acostuma com o equipamento ele pode resolver avançar", diz Diego Viana, médico veterinário e coordenador do IHP. Além disto, há períodos em que as onças atacam mais, como de julho a dezembro, quando há mais bezerros nas fazendas.

Outra prática é a instalação de cercas elétricas para que as onças não avancem em áreas com animais de fazendeiros. "Fazemos isto de uma forma que o animal receba uma carga de baixa tensão, tanto que é testada por nossa equipe, e com espaçamento suficiente entre um fio e outro para que não haja chance de enrosco", diz Viana.

O IHP trabalha também com o mapeamento de onde estão os animais, assim como análise de fezes, pegadas e capturas breves. Desde 2016 foram 130 onças registradas. "De março para cá, por exemplo, fizemos análises técnicas de 19 fezes para avaliar o que as onças estão comendo. Já nas capturas, o animal fica preso por no máximo 50 minutos porque o sensor nos avisa. Além disto, o animal não se machuca".

Mudança cultural

O pecuarista e professor universitário Heitor Miraglia Herrera compartilhou a sua história e da Fazenda Alegria, fundada em 1919 e na família de Herrera desde então. Em uma apresentação de quase vinte minutos, ele mostrou dezenas de fotos nas quais as diferentes gerações apareciam, muitas vezes, empunhando armas.

"Era considerado normal matar onça para proteger o gado. A mudança de cultura vai do nosso entendimento de que promover o bem-estar de todos os animais é o certo a se fazer. Mas, este é um processo recente", afirma ele que comanda uma das fazendas apoiadas pelo IHP.

Hoje, a Fazenda Alegria tem 13.000 matrizes. "Corumbá é a segunda cidade do Brasil com mais cabeças de gado -- a primeira é São Félix do Xingu, no Pará. Se 30 animais são mortos, por exemplo, é difícil explicar para as famílias mais tradicionais que a onça não pode ser morta também", diz Herrera.

Assim, o trabalho do IHP é mostrar para os fazendeiros os benefícios ambientais, sociais e econômicos da operação. "Estamos estudando uma forma de mostrar que o manejo adequado dos animais é também a prevenção da perda de gado e um retorno financeiro", diz Rabelo.

Apoio

Para realizar o trabalho, o IHP conta com parceiros como como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Além disto, há também o apoio financeiro de instituições privadas, entre elas a General Motors, que começou a apoiar o projeto em março e, nesta semana, realizou a entregamais uma picape Chevrolet S10 Z71 e anunciou um novo aporte financeiro para 2023, que custeará atividades científicas e de educação ambiental do projeto.

Serão investidos cerca de 1 milhão de reais nos dois primeiros anos de parceria, incluindo investimentos diretos e a cessão de duas picapes que garantem o acesso às regiões pantaneiras mais remotas. "Este é um passo de apoio para a região, que se conecta com as iniciativas de sustentabilidade da companhia, visto que temos ações também na Mata Atlântica e Amazônia", afirma Nelson Silveira, diretor de comunicação corporativa e marca da GM Mercosul. O executivo também espera que outras empresas apoiem a iniciativa.

De acordo com Viana, do IHP, o investimento da GM é relevante. "Desde março, com o investimento, conseguimos promover ações de educação para mais de 500 pessoas. Além de ter rodado 15.000 km, incluindo áreas de difícil acesso até então". O investimento também proporciona o aumento da equipe com mais duas pessoas, se fazendo necessário então, mais um carro na operação. Atualmente, sete pessoas estão na operação do IHP no tratamento de onças e outros animais.

Além do apoio ao Felinos Pantaneiros iniciada no primeiro trimestre, a GM anunciou em julho a cessão de duas picapes Chevrolet S10 e o aporte financeiro para ações da Conservation International de recuperação da biodiversidade na região do Tapajós (PA).

*A EXAME viajou a convite da GM.

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