O ESG vai morrer?
O reforço para a temática ambiental, social e de governança está vindo da parte técnica também
Colunista
Publicado em 15 de julho de 2023 às 08h10.
Alguns termos, quando muito utilizados, acabam se banalizando ou ainda se transmutando para um tom pejorativo. Desde que comecei a estudar “marketing”, várias décadas atrás, vi o termo sendo utilizado das formas mais diversas e interessantes. Porém, o que mais me desagradou foi quando começaram a falar dos “marketeiros” com um viés negativo. Principalmente quando fortaleceram a temática no mundo político e eleitoral. As pessoas que estão nesta jornada há mais tempo se lembrarão, ou para aqueles que não possuem esta memória é só perguntar para alguém mais velho ou buscar na internet.
O tema sustentabilidade também virou um jargão de tudo. E muitas vezes está sendo colocado somente com o viés ambiental, devido ao uso massivo nas redes sociais e na publicidade. Lembrando que este tema é muito mais do que reciclagem, resíduos ou “salvar” árvores. Já coloquei isso em vários artigos, vídeos e posts.
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No mês de junho de 2023 ocorreu o mesmo com o ESG (ambiental, social e governança, em inglês), este acrônimo que ganhou força nestes últimos anos e que muitas empresas começaram a buscar profissionais da área, criar departamentos, fazer treinamentos, desenvolver políticas, divulgar, enfim focar no planejamento, implementação e controle desta gestão.
Saíram várias matérias colocando que o presidente Larry Fink da BlackRock, um dos maiores fundos de investimento do mundo, parou de usar o termo ESG. Justo ele que pediu durante a pandemia para todas as empresas e fundos que a BlackRock investe, utilizarem a gestão do ESG, senão não haveria o investimento. Esta empresa seria o 3º PIB do mundo em ativos que gerenciam, ficaria só atrás da China e dos EUA se comparado em valores em dólares.
Para quem ainda não está acostumado com o termo, o ESG (Environmental, Social and Governance) ou ASG (em português) ganhou destaque colocando as questões Ambientais, Sociais e de Governança como um foco de atenção principalmente para os investidores. E este novo modelo mental de gerar valor começou a entrar nas estratégias de negócios das grandes empresas e influenciar os seus fornecedores.
Fink comentou que o termo ficou politicamente polarizado em grande parte do mundo ocidental, principalmente nos EUA. E que os políticos republicanos têm atacado as metas ESG pois acham que é uma agenda politicamente liberal. Fazendo com que os democratas reajam na defesa das práticas. Com isso algumas empresas também recuaram nos compromissos ESG, como o exemplo das seguradoras que abandonaram uma aliança climática apoiada pelas Nações Unidas.
Será que o ESG, então, vai morrer? Como sempre me perguntam nas palestras, nas consultorias e nas aulas: a moda passará?
Não, pois a BlackRock não mudou a sua posição sobre as questões ESG. E continuará conversando com suas empresas que possuem participação sobre as temáticas de aquecimento global, carbono, governança corporativa e temas sociais.
Anualmente, as cartas do CEO da Black Rock para os CEOs de outras empresas têm direcionado para as questões do ESG e essa avalanche cultural de gestão está afetando também as filiais das multinacionais, os investidores internacionais e as multinacionais brasileiras. Além de todo o mercado nacional e internacional.
E o reforço para a temática está vindo da parte técnica também, pois a IFRS Foundation, a organização que coloca as regras mundiais para o padrão contábil mais adotado pelas empresas de capital aberto do planeta acabou de lançar o padrão global para a sustentabilidade nos balanços.
O International Sustainability Standards Board (ISSB) está trabalhando mais de um ano e meio com um conjunto de regras abrindo inclusive para consulta pública antes de “bater o martelo” para este padrão. No início não será obrigatório, mas vários países como o Brasil, Canadá, Reino Unido, Cingapura, Nigéria, Chile, entre outros estão estudando a viabilidade de implementação. Aqui no país os reguladores locais seriam a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e Banco Central. Assim fortalecendo ainda mais as práticas, criando padrões, indicadores e normas para combate ao greenwashing.
E para sedimentar ainda mais a sobrevida do tema, o Relatório Panorama ESG Brasil 2023, da AMCHAM e Humanizadas, apresentou que 82% dos empresários do país acreditam na liderança ativa dos CEOs na agenda. Nesta pesquisa realizada com 574 executivos e executivas de grandes e médias empresas apontou que há a necessidade ainda de capacitação de lideranças e colaboradores (48%), ações de conscientização (47%), entre outros. E 47% das empresas respondentes são referência de mercado na temática ou estão adotando práticas ESG, além 31% estão planejando implementar a agenda ESG.
Ou seja, está cada dia mais dentro da organização estes conjuntos de indicadores que precisam fazer parte das entregas das metas, além da lucratividade. Os riscos associados a estas três letrinhas também podem derrubar grandes empresas e esvaziar o valor da marca em alguns segundos nas bolsas se não bem cuidado. Estes são alguns dos argumentos que fazem com que o fortalecimento do ESG seja uma realidade.
*Marcus Nakagawa é doutor em sustentabilidade pela USP; professor da ESPM; coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDS); idealizador e presidente da Abraps; idealizador da Plataforma Dias Mais Sustentáveis; e palestrante sobre sustentabilidade, empreendedorismo e estilo de vida. Autor dos livros: Marketing para Ambientes Disruptivos, Administração por Competências e 101 Dias com Ações Mais Sustentáveis para Mudar o Mundo (Prêmio Jabuti 2019).