Oscar: veja os filmes que estão disponíveis nos streamings de vídeo. (Netflix/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 9 de fevereiro de 2022 às 10h36.
Renata Faber e Juliana Machado*
Logo que foi lançado pela plataforma de streaming Netflix, o filme Don’t look up (“Não olhe para cima”) fez um grande barulho. Tendo como mote uma história sobre o negacionismo da ciência e a nossa obsessiva necessidade de “dourar a pílula” para tratar assuntos duros e torná-los palatáveis, o filme logo foi parar nas mais variadas redes sociais, em textos e mais textos afoitos em analisá-lo.
É do jogo, mas o engraçado é o próprio filme ser uma crítica ao que as redes fizeram conosco: ao mesmo tempo que facilitou e agilizou a comunicação entre as pessoas, também ajudou a distorcer nosso senso de realidade, mantendo-nos em bolhas de opinião e conteúdo que nos agrade e estimulando nossa sanha de participar, de comentar, de criticar e até mesmo de constranger pessoas em prol da nossa própria visão de mundo, verdadeira ou mentirosa.
Este texto, em si, poderia facilmente estar nesse mesmo lugar-comum. Mas também é preciso reconhecer que somos seres sociais, que querem fazer parte de algo. O grande ponto de debate é: até que ponto podemos abrir mão do rigor da ciência e da realidade em prol de simplesmente ter algo para dizer?
Enquanto discutíamos o conteúdo dessa coluna, lembramos de um meme que diz: “você acredita em mudanças climáticas?”. E a resposta dele é: “é ciência, não é Papei Noel”. Todo mundo tem sua própria crença (que pode incluir o bom velhinho ou não), mas até que ponto podemos negar a ciência?
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É impossível assistir a esse filme e não fazer um paralelo com inúmeros temas da atualidade, entre eles as mudanças climáticas – uma causa que um dos protagonistas do filme, Leonardo DiCaprio, é vocal defensor. A ciência já nos mostrou evidências do que está acontecendo e muito tem se falado sobre as soluções, mas a realidade é que o combate às mudanças climáticas será provavelmente o maior desafio pelo qual a humanidade já passou. Postergar o início desse combate só vai deixá-lo mais difícil – até que, segundo alguns cientistas, pode se tornar impossível.
Discussões difíceis tendem a gerar polarização, e não foi diferente no caso do cometa do filme – ou das mudanças climáticas, ou das vacinas, ou de políticas públicas. Na peça de ficção, a população logo se dividiu entre os que acreditavam ou não no cometa, e, lembrando o meme do Papai Noel, um dos cientistas respondeu, quando perguntado em qual lado ele estava: “não estou em nenhum dos lados, só estou dizendo a verdade”.
Assim como no filme, sempre achamos que “alguém” resolverá o problema. E se esse alguém formos todos nós? No filme, o personagem de Leonardo DiCaprio, o astrônomo Randall Mindy, chega a questionar como a humanidade permitiu que chegássemos naquele ponto de tão difícil comunicação, onde tudo precisa ser suavizado ou relativizado para ter algum sucesso em passar uma mensagem. “Como vamos resolver isso?”, indaga Mindy enquanto olha para a câmera no programa de TV do qual decidiu participar para alertar as pessoas da chegada fatal do cometa.
No filme, víamos pás sendo vendidas por 599 dólares, afinal, aqueles que acreditavam no cometa queriam cavar seu esconderijo. Só que problemas como o aquecimento global, uso de fontes renováveis e não renováveis, mudança de matriz energética e emissões de carbono não podem ser resolvidos por uma pessoa ou um grupo de pessoas solitário, muito menos com ferramentas tão pequenas. É preciso um esforço coordenado de grandes instituições, apoio da sociedade civil, debate público e alinhamento mínimo entre a diplomacia de diferentes países. Não é o tipo de coisa que se resolve do dia para a noite.
Enquanto debatemos se o “cometa” existe, a Amazônia já perdeu o equivalente a sete vezes a cidade de São Paulo, a Groenlândia registrou temperaturas até 30 graus acima da média em dezembro e o número de incêndios florestais mais do que duplicou na Califórnia.
E você? Acredita no “cometa”? O que está fazendo para combater as mudanças climáticas?
E como viveria seus últimos dias, se soubesse que o mundo vai acabar?
*Renata Faber é head de ESG na EXAME. Formada em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas, trabalhou por 20 anos no mercado financeiro. Juliana Machado é analista CNPI e integra o time de análise de fundos de investimento do BTG Pactual digital. É jornalista formada pelo Mackenzie, com pós-graduação em economia brasileira pela Fipe-USP. Atuou com análise e seleção de fundos de investimento na EXAME e escreveu por quatro anos para o Valor Econômico, nas áreas de governança corporativa e bolsa de valores. Escreve para a EXAME Invest quinzenalmente.