Mulheres que trabalham com tecnologia revelam preconceitos sofridos
Pesquisa da consultoria de recrutamento Yoctoo aponta que 78% das mulheres afirmam ter sofrido preconceito em áreas de tecnologia e mostra os modos como isto mais ocorre
Marina Filippe
Publicado em 5 de agosto de 2022 às 10h28.
Última atualização em 5 de agosto de 2022 às 13h18.
A inserção e valorização das mulheres no mercado de tecnologia é um desafio. Isto é o que mostra a terceira edição da pesquisa Os principais desafios de mulheres em tecnologia, conduzida pela consultoria de recrutamento Yoctoo, na qual 78% delas afirmam ter sofrido preconceito, sendo nas empresas em 61% dos casos, seguido por 36% no ambiente escolar e 32% em processos seletivos.
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Entre as situações mais comuns estão o manterruping, que são interrupções feitas por homens, apontadas por 46% delas; o mansplaining, que são explicações óbvias de um homem para uma mulher, com 35%; e bropriating, que é quando um homem leva créditos por uma ideia de uma mulher, com 33%. Cerca de 21% delas relatam assédio moral e 19% se queixam de gaslighting, que é o abuso psicológico que faz a mulher duvidar do seu próprio senso de percepção e sanidade.
Além disso, o preconceito começa antes mesmo da contratação. Cerca de 22% afirmam que o gênero aumenta a dificuldade nos processos seletivos – número que salta para 53% quando ainda são estudantes de tecnologia. Uma vez contratadas, 61% dizem ter que provar suas habilidades técnicas o tempo todo e 46% afirmam que o maior desafio é serem respeitadas por líderes, pares ou subordinados do sexo masculino. “Precisamos identificar essas ações e incentivar para que todas as mulheres sejam reconhecidas e valorizadas”, diz Paulo Exel, diretor da Yoctoo.
Apesar das essas dificuldades, a área tem se mostrado mais atraente. Em 2019, a oportunidade de aprender foi apontada por 8% das entrevistadas, saltando para 33% em 2021 e 54% em 2022. A remuneração e os benefícios registram aumento de 18% em 2019, para 39% em 2021 e 52% agora.
"Na prática, as empresas precisam criar oportunidades para que elas se desenvolvam, atuando em atividades multidisciplinares e com acesso a tecnologias inovadoras. Também é aconselhável oferecer um plano de carreira estruturado, com possibilidade de participação nos lucros, programas de educação continuada, além de um clima organizacional saudável, que ofereça um trabalho com autonomia, flexibilidade de horários e propósito”, afirma Thássia Gonçalves, consultora especializada na contratação de profissionais das áreas de tecnologia e digital da Yoctoo.
Outro ponto é a flexibilidade. Cerca de 61% delas buscam vagas com horários flexíveis e 49% com opção full home-office. Além desses benefícios, o incentivo à maior participação feminina na área desde a infância é considerado como fator fundamental para estimular essa inclusão por 63% das participantes, seguido pela equiparação salarial em todos os níveis hierárquicos, com 50%.
“É preciso fortalecer a autoestima delas desde cedo e ajudá-las a se sentirem tão capacitadas quanto qualquer profissional. Temos que dar oportunidades nas vagas de base, ainda que elas não tenham experiência, a fim de que possam se desenvolver", diz Thássia.
A pesquisa foi realizada entre junho e julho. Todos os dados foram coletados de forma online com base na amostra de 286 respondentes anônimas do sexo feminino, entre 26 e 40 anos, com os cargos de estudante, analistas desenvolvedoras, executivas de TI, líderes de equipe técnica, entre outros.
Além do estudo, a Yoctoo preparou um e-book com 50 conselhos para mulheres em tecnologia. O material, intitulado de “Conselhos de Amigas Anônimas em Tech”, reúne dicas de mais de 190 mulheres que responderam à pesquisa. O livro está dividido em seis categorias, para serem consultadas de acordo com o contexto de carreira de cada mulher.
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