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Lula na COP27: nova agenda ambiental prevê aliança com agro, governança global e ONU renovada

“Esperem um Lula muito mais cobrador”, disse o presidente, que pretende propor mudanças no conselho de segurança da ONU

Lula discursa na COP27: promessa de usar a agenda ambiental como ferramenta para a política externa (Leandro Fonseca/Exame)

Lula discursa na COP27: promessa de usar a agenda ambiental como ferramenta para a política externa (Leandro Fonseca/Exame)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 16 de novembro de 2022 às 14h14.

Última atualização em 16 de novembro de 2022 às 14h21.

O presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, fez seu discurso na COP27, a conferência do clima da ONU, nesta quarta-feira, 16. Quem esperava um Lula paz e amor, ou protocolar, se surpreendeu. Sem improviso, Lula elencou uma série de pontos da nova política ambiental que deve entrar em vigor a partir de janeiro, quando o petista assume. Ambiciosa, a agenda prevê não apenas mudanças no controle do desmatamento, mas também uma atuação internacional incisiva e provocativa.

Lula iniciou seu discurso, como se diz no futebol, jogando para a torcida. Usou a frase “o Brasil voltou” mais uma vez – que tem tudo para ser seu novo bordão, no estilo “pela primeira vez na história dessa país" – e criticou a política ambiental do atual governo, derrotado por ele nas urnas. Também repetiu algumas promessas, como a de criar um ministério dos povos originários e sediar a COP30, em 2025, no Brasil, em algum estado amazônico.

A parte final, ele reservou para assuntos mais complexos, e foi longe. Primeiro, conclamou o agronegócio a trabalhar com o governo, adotando um discurso repetido no meio rural, de que o Brasil pode alimentar o mundo. “O agronegócio é aliado”, afirmou o presidente. Lula vai propor uma coalização global contra a fome, e aproveitar para promover a capacidade de produção agrícola brasileira.

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Em seguida, falou do acordo sendo construído com Indonésia e Congo para proteção das florestas tropicais -- os três países concentram mais da metade das florestas primárias do mundo. O grupo já está sendo chamado de “opep da florestas”, em alusão ao oligopólio dos maiores produtores de petróleo do mundo. A partir daí, o presidente eleito foi se embrenhando por temas de geopolítica, propôs mudanças na ordem mundial e prometeu cobrar os países ricos por financiamento climático.

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Agenda ambiental no centro da política externa

Lula deixou claro que pretende usar a pauta ambiental como uma ferramenta de diplomacia. Nesse sentido, seu discurso se mostra alinhado ao debate mais recente da COP27, cujas conversas caminham para uma direção que considera a dificuldade em se alcançar a meta de redução de emissões estabelecida no Acordo de Paris.

O presidente afirmou que é necessário criar mecanismos financeiros para perdas e danos, ou seja, remediar as consequências das mudanças climáticas nos países em desenvolvimento – Lula, aliás, ressaltou que são os países ricos os maiores emissores, e os pobres, os mais afetados pela crise climática. Ao que tudo indica, o grande legado dessa COP será a promoção do tema perdas e danos a status de estratégico.

Nesse momento, Lula aproveitou o palco global para fazer cobranças. “Na COP15, em Copenhagen, foi feito um acordo que previa a transferência de 100 bilhões de dólares por ano aos países mais pobres a partir de 2020”, lembrou o presidente. “A minha viagem é também para cobrar o que foi prometido”. De fato, o acordo em questão não foi cumprido pelos países ricos, que alegam falta de mecanismos para fazer a transferência.

Lula prometeu cobrar os países ricos pelo financiamento prometido na COP15, em Copenhagen (Leandro Fonseca/Exame)

Presidência do G20 e agenda climática

A partir de 2024, o Brasil passa a presidir o G20, grupo das 20 maiores economias do mundo. Lula prometeu dar prioridade à agenda climática enquanto estiver à frente do grupo. Esse movimento tem o objetivo de pleitear um objetivo que ele persegue desde sua primeira passagem pelo Palácio do Planalto: mudar a composição do conselho de segurança da ONU.

“O mundo mudou e não é possível que a ONU siga com a mesma ótica do fim da Segunda Guerra Mundial. Não há explicação para os vencedores da guerra serem, até hoje, quem manda no conselho de segurança”, afirmou. “Precisamos de uma governança global, ou aquilo que aprovamos em fóruns como este vai se tornando um amontoado de papel. Muda-se as gavetas, e o papel continua.”

A última frase do discurso deu o tom do que deve vir pela frente: “Esperem um Lula muito mais cobrador”, disse o próximo presidente.

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