Estresse térmico leva a branqueamento recorde de corais e atinge o Brasil
À medida que os oceanos continuam a aquecer, o problema se intensifica e afeta também a economia, a subsistência e a segurança alimentar de diferentes comunidades
Jornalista
Publicado em 16 de abril de 2024 às 17h46.
De acordo com os cientistas da NOAA, sigla em inglês paraAdministração Nacional Oceânica e Atmosférica, o mundo enfrenta atualmente o quarto evento global de branqueamento de corais - o segundo dos últimos 10 anos.
O evento é classificado como global quando o branqueamento significativo acontece nas três bacias oceânicas - Atlântico, Pacífico e Índico - em um período de 365 dias.
A razão é o estresse térmico, como foi monitorado remotamente pelo Coral Reef Watch (CRW), da NOAA. O levantamento, feito desde 1985, se baseia em dados da temperatura da superfície domar, obtidos a partir de uma combinação de satélites da entidade e de parceiros.
Segundo nota, de fevereiro de 2023 a abril de 2024, o branqueamento significativo de corais foi documentado nos hemisférios Norte e Sul de cada grande bacia oceânica, segundo Derek Manzello, coordenador da NOAA CRW.
Ainda de acordo com a NOAA, desde o início de 2023, o branqueamento em massa dos recifes de coral foi confirmado em todos os trópicos, incluindo na Flórida, nos EUA. nas Caraíbas; no Brasil ; no Pacífico Tropical Oriental (incluindo México, El Salvador, Costa Rica, Panamá e Colômbia); na Grande Barreira de Coral da Austrália; em vastas áreas do Pacífico Sul (incluindo Fiji, Vanuatu, Tuvalu, Kiribati, as Samoas e a Polinésia Francesa); no Mar Vermelho (incluindo o Golfo de Aqaba); no Golfo Pérsico; e no Golfo de Aden.
A NOAA teve ainda a confirmação de branqueamento generalizado em outras partes da bacia do Oceano Índico, como na Tanzânia, Quénia, Maurícia, Seychelles, Tromelin, Mayotte e ao largo da costa ocidental da Indonésia.
Efeitos
"À medida que os oceanos continuam a aquecer, o branqueamento dos corais está a se tornar mais frequente e grave", afirmou Manzello, em nota. "Quando estes eventos são suficientemente graves ou prolongados, podem causar a mortalidade dos corais, o que prejudica as pessoas que dependem dos recifes de coral para a sua subsistência."
Um dos alertas feitos pela NOAA é relacionado aos efeitos do branqueamento dos corais, especialmente a uma escala generalizada, nas economias, nos meios de subsistência, na segurança alimentar. No entanto, a entidade explica que se o estresse gerador do branqueamento diminuir, os corais podem se recuperar e os recifes podem continuar a prestar os serviços ecossistémicos.
Modelos usados no mapeamento
"As previsões dos modelos climáticos para os recifes de coral têm sugerido há anos que os impactos do branqueamento aumentariam em frequência e magnitude à medida que o oceano aquece", disse Jennifer Koss, diretora do Programa de Conservação dos Recifes de Coral (CRCP) da NOAA.
Por causa disso, o CRCP da NOAA incorporou práticas de gestão baseadas em resiliência e aumentou a ênfase na restauração de corais em seu plano estratégico de 2018, e financiou um estudo das Academias Nacionais de Ciências, que levou à publicação das Intervenções de 2019 para Aumentar a Resiliência dos Recifes de Coral.
Brasil
No dia 10 de abril, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social ( BNDES ) iniciou uma chamada permanente para projetos de preservação de corais, no valor mínimo de R$ 60 milhões.
Com isto, o banco disponibilizará R$ 30 milhões para projetos de monitoramento, preservação ereparação de corais e R$ 30 milhões para captação pelos projetos por meio de fundações ligadas a empresas privadas, organismos internacionais e governos estaduais. Os recursos do BNDES não serão reembolsáveis, ou seja, não se trata de empréstimo.
Segundo o estudo Oceano sem Mistérios, ligado à Fundação Grupo Boticário, para cada quilômetro quadrado de recife preservado, são economizados cerca de R$ 940 milhões em investimento para proteção da costa e R$ 62 milhões são gerados com turismo. No Brasil, isso representa R$ 7 bilhões com turismo de corais.