ESG

Patrocínio:

espro_fa64bd

Parceiro institucional:

logo_pacto-global_100x50

Desmatamento reduz em até 75% a caça na Amazônia, diz estudo

Estudo na Nature revela declínio em caça de carne em áreas degradadas e alerta: substituir caça por boi exigiria converter 64 mil km² de floresta em pasto

O estudo compilou 447.438 registros de animais caçados em 647 localidades rurais entre 1965 e 2024 (Leandro Fonseca/Exame)

O estudo compilou 447.438 registros de animais caçados em 647 localidades rurais entre 1965 e 2024 (Leandro Fonseca/Exame)

Letícia Ozório
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 29 de novembro de 2025 às 10h00.

Um novo estudo publicado na revista científica Nature mostra o impacto do desmatamento no modo de vida, alimentação e caça de povos indígenas e tradicionais da Amazônia. A pesquisa, divulgada nesta semana, revela que regiões com mais de 70% de desmatamento acumulado sofreram uma redução de quase 75% no número de animais caçados por pessoa ao longo de quase seis décadas.

O trabalho foi liderado por André Pinassi Antunes, da Rede de Pesquisa em Conservação, Uso e Manejo da Fauna da Amazônia (RedeFauna), e assinado por pesquisadores de mais de 40 instituições nacionais e internacionais. Estima-se que a produtividade da carne de caça caiu cerca de 67% em quase 500 mil km² de áreas desmatadas.

A queda da disponibilidade de carne de caça por habitante rural foi mais acentuada em áreas com maior população humana, maior proximidade de centros urbanos e níveis mais extensos de desmatamento, ocasionando uma simplificação da dieta das comunidades.

Michelle Jacob, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e uma das autoras do estudo, explica que a carne de caça atende quase metade das necessidades de proteínas e ferro, além de fornecer uma parte importante de vitaminas B e zinco dos habitantes da região.

"O trabalho mostra que a carne de caça é um pilar alimentício fundamental dessas pessoas e que possui um valor nutricional importante. Podemos dizer que a floresta saudável é a dispensa que alimenta as famílias amazônicas", afirma.

Queixada, paca e anta são os mais caçados

Os mamíferos foram o grupo com mais registros de caça, cerca de dois terços. O levantamento revela que 20 dos 174 grupos taxonômicos identificados respondem por 72% dos indivíduos caçados, com destaque para a queixada, a paca e a anta.

A pesquisa foi motivada por uma lacuna de conhecimento sobre a extensão da caça e sua contribuição nutricional. "Precisávamos de alguma maneira codificar essa importância para entender melhor a conexão de floresta saudável e bem-estar humano, e assim poder subsidiar políticas públicas mais eficazes de conservação e segurança alimentar", diz Jacob.

Segundo o estudo, substituir a carne de caça por carne bovina precisaria converter=até 64.044 km² de floresta em pastagem, ou seja, liberaria o equivalente a 3% das emissões globais de CO₂ na atmosfera.

Para os autores, o caminho é assegurar os direitos territoriais e a autonomia dos povos amazônicos através da preservação da floresta, garantindo a proteção da biodiversidade e os sistemas alimentares tradicionais.

"O desafio agora é levar esses dados para a mesa de negociações e garantir que a ciência apoie as comunidades na construção de um futuro em que a floresta possa ser provedora de vida, de saúde e de cultura também para todas as pessoas", conclui Jacob.

O estudo compilou 447.438 registros de animais caçados em 647 localidades rurais entre 1965 e 2024. Os dados foram coletados tanto por pesquisadores de povos indígenas e tradicionais amazônicos, a partir de iniciativas de monitoramento comunitário, quanto de publicações científicas anteriores.

A extração anual estimada de biomassa animal não-processada em toda a Amazônia é de 0,57 milhões de toneladas métricas. A produção anual de carne de caça comestível foi estimada em 0,37 milhões de toneladas métricas.

Acompanhe tudo sobre:Caça de animaisIndígenasAmazôniaDesmatamento

Mais de ESG

Seu setor está em risco? Site mostra impacto do clima na economia brasileira

Na corrida da IA, empresas aceleram para transformar Brasil em hub de data centers verdes

Eco Invest encerra 2025 com R$ 14 bilhões para projetos sustentáveis e novos leilões a vista

Revista Science elege energias renováveis como avanço científico de 2025