Desmatamento na Amazônia passa mais uma vez de 8 mil km² de florestas derrubadas
Este é o terceiro índice mais alto da série histórica iniciada em 2015
Estadão Conteúdo
Publicado em 12 de agosto de 2022 às 18h43.
Última atualização em 13 de agosto de 2022 às 09h24.
O desmatamento na Amazônia segue sua rota em 2022. Entre agosto do ano passado e julho deste ano, 8.590 km² de devastação da floresta foram registrados pelo Deter, sistema do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais ( Inpe ) que mede o impacto em tempo real. Este é o terceiro índice mais alto da série histórica iniciada em 2015, todos ocorreram durante o governo de Jair Bolsonaro, cuja gestão na área ambiental é criticada no Brasil e no exterior por desmontar os órgãos de combate e fiscalização, sucessivos recordes negativos de desmate e ilegalidades como o garimpo clandestino.
Para se ter uma ideia do que representa o novo dado para a região, considerando-se apenas julho, foram 1.487 km² de vegetação suprimida, área equivalente à da cidade de São Paulo. O índice é similar ao registrado no ano passado (1.498 km²). Se o recorte for somente o primeiro semestre deste ano, o resultado não é mais animador. Foram 3.988 Km² de floresta que tombaram, o maior já registrado para esse período na Amazônia.
Os dados deste ano (8.590 km²) ficam pouco atrás dos de 2021, quando foram registrados 8.780 km² de desmatamento. Ainda assim, uma queda pouco expressiva. O sistema Deter foi criado em 2004 e seu objetivo é detectar o desmate enquanto ele acontece para orientar a fiscalização do Ibama. Os dados finais do desmatamento são observados por outro sistema do Inpe, o Prodes, mais acurado que o Deter, mas cujas estimativas só são divulgadas no fim do ano.
De acordo com ambientalistas e especialistas, não apenas o desmonte dos órgãos de controle contribuem para mais um ano com valores elevados de desmate da Amazônia. A expectativa de asfaltamento da BR-319, rodovia que corta a maior porção intacta da floresta, acelerou esse processo. A pavimentação contrariou pareceres técnicos do próprio governo federal.
Outro problema, este apontado pelo MapBiomas: segundo dados da plataforma que reúne universidades, organizações ambientais e empresas de tecnologia, apenas 2,4% dos alertas de desmatamento emitidos pelos satélites corresponderam a uma ação em campo de autuação ou embargo de propriedade pelos órgãos ambientais federais de 2019 a 2021
Neste ano, pela primeira vez, o Estado do Amazonas passou Mato Grosso e assumiu o posto de segundo mais desmatado na Amazônia Legal. O Pará segue na liderança. Ao todo, foram 3.072 km² de alertas de desmatamento no Pará, 2.292 no Amazonas e 1.433 em Mato Grosso. Os municípios de Lábrea (AM) e Apuí (AM) ocupam as duas primeiras posições em alertas na região.
Anos eleitorais trazem um componente a mais de perigo para biomas já ameaçados, como o Estadão mostrou nesta semana. Especialistas apontam que, em anos de eleições, as ações de fiscalização e combate à ilegalidade podem sofrer um afrouxamento. Estudo sobre os impactos desse processo na Mata Atlântica mostram que o desmatamento é maior em Estados em anos de eleições federais e estaduais, quando há alinhamento estadual-federal. Ou seja, isso costuma ocorrer nas situações em que o partido do governador pertence à coligação presidencial em exercício.
Procurados, o Ministério do Meio Ambiente e o gabinete da Vice-Presidência da República, responsável pela coordenação do Conselho Nacional da Amazônia Legal (CNAL), ainda não se manifestaram.
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