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Como o blockchain pode impulsionar a economia circular no Brasil

Startups que trabalham com a tecnologia pretendem digitalizar e trazer maior profissionalização e transparência para o setor de reciclagem

Economia circular: startups querem tornar a gestão de resíduos mais fácil e lucrativa (Ocean Eyes Productions/Divulgação)

Economia circular: startups querem tornar a gestão de resíduos mais fácil e lucrativa (Ocean Eyes Productions/Divulgação)

A economia circular tem atraído a atenção de grandes corporações em todo o mundo - e do mercado financeiro. No último ano, grandes gestoras e bancos como Credit Suisse e BlackRock criaram novos fundos de ações especialmente voltados ao setor.

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Para acelerar o universo da circularidade, a tecnologia se tornou uma grande aliada, e pequenas empresas têm desenvolvido soluções para apoiar grandes companhias e instituições do terceiro setor nesta agenda. Este é o caso das startups GreenMining e BR Polen.

As duas empresas se apoiam na tecnologia para combater a informalidade dentro dos processos de reciclagem, regularizar postos de trabalho em cooperativas e trazer maior rastreabilidade e transparência na gestão de resíduos, facilitando a maneira como grandes empresas conduzem seus processos de reciclagem.

Em comum, as startups têm uso massivo de blockchain, tecnologia que reúne e rastreia informações em tempo real, nas chamadas “cadeias de blocos” - uma espécie de base de dados descentralizada. Diferente das bases de único servidor, o blockchain conta com inúmeros pontos de armazenagem de dados, e em diferentes locais. O grande objetivo é que, com a descentralização, o blockchain torne processos de fraude e roubo de informações em algo muito mais difícil.

Criada em 2017, a BR Polen atua como uma espécie de “Mercado Livre dos resíduos”, formalizando os processos de compra e venda por meio de uma plataforma digital. A associação com o blockchain partiu de uma dor da indústria e de uma demanda recente, segundo Renato Paquet, presidente da BR Polen. “As empresas e pessoas passaram a perceber a montanha de resíduos que produziam, e isso tem acelerado nosso crescimento exponencialmente”, diz.

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De acordo com Paquet, há um aspecto legal do mercado de comercialização de resíduos que responsabiliza os geradores por  qualquer ônus, dano ou ilegalidade gerado a partir de destinações ilegais ou acidentes, por exemplo. “Entendemos que essa responsabilidade compartilhada fez com que empresas se preocupassem mais em entender de onde vem esse material e a rastreabilidade era a resposta para isso”, diz. A resposta para a maior transparência está em um selo com um QRCode que permite aos consumidores entender todo o histórico de determinado produto.

Além de permitir que empresas e indústrias comprem resíduos como matéria-prima, a BR Polen também desenvolveu um mercado de crédito para a logística reversa. Assim como no mercado de carbono, a startup permite que empresas e indústrias compensem o impacto das embalagens plásticas que colocam no mercado declarando seus números à BR Polen, que se responsabiliza pelo cálculo proporcional e compensação por meio de um token próprio -  outra coisa garantida com a ajuda de blockchain. Na lista, estão empresas como O Boticário, TetraPak, e Ambev.

O grande objetivo é incentivar e formalizar um mercado que, de acordo com Paquet, está em expansão. “Quando uma empresa faz a aquisição de crédito de logística reversa para neutralizar o impacto ambiental que as suas embalagens gerariam, é impossível se desassociar também do impacto social positivo. E isso tem sido almejado por grande parte do setor corporativo”, diz.

Em 2020, a BR Polen movimentou, entre neutralização de embalagens e comercialização de resíduos como matéria-prima, cerca de 48 mil toneladas. O faturamento ficou na casa dos 13,5 milhões de reais, resultado cinco vezes maior do que no ano anterior.

Formalização de trabalhadores

O Brasil produz quase 80 milhões de toneladas de lixo anualmente, e é o quarto maior produtor mundial de lixo plástico. Os índices de reciclagem, no entanto, não acompanham a média: o país recicla apenas 1,3% desse material. A estimativa é que esses resíduos poderiam gerar mais de 6,5 bilhões de reais para a economia brasileira, se reciclados adequadamente.

Para a GreenMining, o blockchain é capaz de resolver boa parte do problema. Desde 2018, a startup quer trazer uma solução que une fatores econômicos e sociais da cadeia de reciclagem. “Visitávamos muitos aterros e vimos que o Brasil enterrava muitos produtos bons. Queríamos fugir da linearidade da economia e recuperar mais embalagens”, diz Rodrigo Oliveira, presidente da GreenMining. “No primeiro elo da cadeia, que é a coleta, vimos que existia um problema social grave. Muitos catadores em cima de pilhas de lixo e queremos solucionar isso”.

A GreenMining quer garantir que as origens dos materiais sejam locais de consumo, como bares, restaurantes e hotéis. A coleta fica por responsabilidade de equipes formalmente contratadas pela startup, com intuito de reduzir a informalidade dos coletores e oferecer salários até 8% acima do mínimo para o setor, segundo a empresa.

Com o blockchain, todas as etapas do processo também são rastreadas. “A transparência é importante. Conseguimos mostrar todos os que estiveram envolvidos na cadeia, desde o coletor até o transportador”, diz Oliveira. “Essa é a ideia. Trazer a melhor logística reversa, ao mesmo tempo que existe um compliance trabalhista”. Mesmo com o fechamento de comércios, a startup buscou manter as atividades em 2020 e, para isso, fez novas associações com condomínios e encerrou o ano com faturamento superior a 2 milhões de reais.

A era da economia circular

Grandes empresas olham cada vez mais para a associação com startups como uma solução para entrar mais rapidamente em um mercado que tende a movimentar 4,5 trilhões de reais até 2030, segundo Jessica Long, diretora de sustentabilidade da consultoria Accenture e autora do livro The Circular Economy Handbook, ou “guia da economia circular”.

Para estar alinhada a essa tendência, a Braskem criou, em 2015, o Braskem Labs, programa de aceleração para startups de impacto. Entre elas, a GreenMining e a BR Polen. “Nossa principal marca é buscar o impacto socioambiental positivo”, diz Karla Censi, gerente de soluções sustentáveis na Braskem e responsável pelo Braskem Labs.

O programa é oferecido em parceria com a aceleradora Quintessa. “Envolvemos muitos executivos da empresa no processo de aceleração das startups e em muitas das mentorias que acontecem durante os quatro meses do programa”, diz. Das 90 startups aceleradas nos últimos anos, 96% ainda estão no mercado e 40% delas já receberam algum tipo de investimento, diz Censi.

Em 2020, o programa aconteceu de forma online. Das 20 startups selecionadas para a edição, 45% das estavam relacionadas à economia circular. “Esse é um tema muito importante para a Braskem, e poder ter o contato com startups que pensaram em soluções circulares e sustentáveis em um contexto como o de 2020 foi essencial para nós”, diz Gabriela Kuchinski líder da plataforma Braskem Labs.

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