Captura e armazenamento de carbono é uma solução sustentável?
Entenda os dilemas da implementação do CCS no setor energético
Publicado em 15 de outubro de 2024 às 15h00.
Última atualização em 16 de outubro de 2024 às 10h07.
Captura e Armazenamento de Carbono (CCS, Carbon Capture and Storage ) é uma estratégia promissora para mitigar emissões de CO2para a atmosfera e, assim, combater as mudanças climáticas, especialmente em setores de difícil descarbonização.
O CCS ganhou força pela urgência em limitar o aquecimento global, com a Agência Internacional de Energia argumentando que as metas climáticas do Acordo de Paris não serão atingidas sem essa tecnologia, que deverá responder por 8% de emissões acumuladas evitadas até 2050.
No entanto, as opiniões diferem sobre a pertinência da adoção do CCS. Uma crítica bastante forte é feita pelo ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore, que chama o CCS de “fraude” porque, segundo ele, as empresas petrolíferas defenderiam a tecnologia em planos de descarbonização futuros como forma de ganhar tempo, e assim seguir produzindo óleo.
Outro crítico ao CCS é o influente cientista Vaclav Smil. Quando perguntado sobre o CCS, ele argumentou que “isto sempre surge: fusão nuclear e captura de carbono”, que ele então descreveu-a como “puro desespero”.
As preocupações de Gore e Smil são pertinentes: as empresas que defendem CCS deveriam investir desde já na tecnologia, ao invés de apenas indicá-la como promessa para o futuro.
Por outro lado, a tecnologia de captura e armazenamento de carbono poderá ser essencial para atingir as metas do Acordo de Paris, dado que ela poderá ser adotada como forma de remover carbono da atmosfera. Projetos de BECCS - expressão em inglês para Bioenergia com Captura e Armazenamento de Carbono – prometem inclusive entregar emissões negativas. Um exemplo de BECCS: o gás carbônico formado na produção de etanol pode ser capturado e armazenado, resultando em um processo negativo em carbono, dado que o elemento foi inicialmente capturado da atmosfera pela planta cultivada, através da fotossíntese. O Brasil tem grande potencial de aplicação dessa tecnologia, dada a escala da produção nacional de etanol.
Essa tecnologia de BECCS só é possível com investimentos no desenvolvimento da tecnologia de CCS, que estão sendo feitos principalmente pela indústria de óleo e gás. Sem esse know-how, que inclui estudos que buscam identificar locais adequados para o armazenamento geológico do CO2e soluções mais eficientes para a realização de sua captura, a indústria estaria ainda menos equipada para os desafios climáticos.
Numa visão equilibrada, a tecnologia de CCS não deve ser nem demonizada, nem aceita acriticamente, como uma tecnologia salvadora do futuro. A tecnologia deverá ser cuidadosamente examinada, buscando as aplicações relevantes e buscando a viabilização de investimentos na velocidade e volumes necessários. As preocupações de Gore e Smil precisam ser levadas a sério, sobretudo pela classe política, para evitar que o CCS seja mais uma forma de greenwashing . Como diz o velho ditado: confiar é bom, mas controlar é melhor.