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As perguntas certas para aumentar nossa produtividade com sustentabilidade

Pesquisadores  do Insper, PUC-Rio, USP e FGV criam rede para estudar como impulsionar o crescimento econômico com bem estar e uso racional dos recursos naturais 

Agricultura sustentável: governos e empresas se unem na COP26 (Syngenta/Divulgação)

Agricultura sustentável: governos e empresas se unem na COP26 (Syngenta/Divulgação)

AM

Publicado em 16 de dezembro de 2025 às 15h00.

Última atualização em 16 de dezembro de 2025 às 18h31.

O Brasil convive, há décadas, com um paradoxo persistente: enorme potencial econômico, ambiental e humano, mas desempenho modesto em produtividade e desenvolvimento de longo prazo. Em grande medida, isso decorre de uma tendência histórica a um visão de curto prazo, que privilegia ganhos imediatos e ignora custos que recaem sobre gerações futuras.

Em um contexto de crise climática, perda acelerada de biodiversidade e desigualdades estruturais, essa lógica se mostra não apenas insuficiente, mas arriscada. É nesse cenário que o lançamento da Rede de Pesquisa em Produtividade & Sustentabilidade (Rede PP&S) representa um marco relevante para o país.

Lançada em 9 de dezembro, a Rede PP&S é uma iniciativa interinstitucional. Ela  reúne pesquisadores de alguns dos principais centros de economia do Brasil, Insper, PUC-Rio, USP e FGV e outras instituições convidadas a participar dos estudos.

A coordenação da Rede é giratória. Começa baseada no Insper mas irá rodar pelas organizações parceiras a cada três anos. O propósito da Rede, que nasce apoiada pelo Instituto Itaúsa, é ambicioso e necessário.

Ela visa fortalecer a base científica e analítica capaz de orientar a transformação da economia brasileira em direção a um modelo mais produtivo e, ao mesmo tempo, positivo para o clima, a natureza e as pessoas. 

A Rede parte de duas premissas. Primeiro, só haverá aumento sustentado de produtividade em um país que aloque bem seus recursos naturais, humanos e financeiros. Segundo, só existirá transformação estrutural a partir de  evidências sólidas.

Hoje, o meio ambiente deixou de ser um tema setorial para se tornar uma condição transversal da produtividade em praticamente todos os setores econômicos. Recursos naturais são ativos limitados e, em um país profundamente dependente da natureza como o Brasil.

Ignorar essa realidade compromete o crescimento, a segurança alimentar, a estabilidade energética e o bem-estar social. Como destacou Rodolfo Villela, vice-presidente executivo da Itaúsa e presidente do Conselho do Instituto Itaúsa, os grandes desafios contemporâneos envolvem custos de curto prazo e benefícios de longo prazo.

Enfrentá-los exige visão estratégica, coordenação institucional e produção de conhecimento de alta qualidade. Nessa mesma direção, Marcelo Furtado, head de sustentabilidade do Instituto Itaúsa, ressaltou no lançamento da rede que o desafio central é justamente aproximar dois campos que historicamente caminharam separados: o da produtividade e o da sustentabilidade.

A força da Rede PP&S está justamente em sua capacidade de fazer as perguntas certas

Ao integrar pesquisadores de excelência em torno da interação entre produtividade e sustentabilidade, a rede busca gerar pesquisa de ponta, com publicação em periódicos científicos de alto impacto, mas também relevante para o aprimoramento de políticas públicas e práticas institucionais.

Além disso, promove a inserção internacional de pesquisadores brasileiros, a disseminação de evidências científicas recentes e a formação de quadros especializados em temas críticos para o desenvolvimento do país.

Como observou Joaquim Levy, ex-ministro da Fazenda e atual diretor de estratégia econômica e relações com mercados do Banco Safra, a qualidade das perguntas é decisiva para evitar soluções mal desenhadas que atrasam o país e para identificar oportunidades reais de avanço econômico.

O evento de lançamento explicitou a centralidade da agenda de adaptação às mudanças climáticas, hoje claramente atrasada no Brasil. As mudanças climáticas já produzem consequências econômicas e sociais significativas, afetando sistemas alimentares, cidades, infraestrutura e mercados de trabalho.

Nesse contexto, a adaptação não é um custo adicional, mas um fator determinante de produtividade. Quanto mais cedo ela for incorporada a projetos, políticas e estratégias empresariais, melhores serão seus resultados, como enfatizaram os debatedores ao defender a incorporação da adaptação desde a concepção das iniciativas públicas e privadas.

Na agricultura, a adaptação passa, de forma incontornável, pela transição para sistemas mais resilientes.

Evidências crescentes indicam que práticas como a agricultura regenerativa e os sistemas agroflorestais podem aumentar a produtividade no médio e longo prazo, reduzir riscos climáticos, melhorar a eficiência no uso de insumos e fortalecer a segurança alimentar.

Para Beto Veríssimo, pesquisador sênior e co-fundador do Imazon, esse debate é particularmente estratégico para o Brasil, já que sistemas alimentares inteiros tendem a entrar em colapso sem adaptação, e muitos dos maiores impactos recaem justamente sobre regiões tropicais e países dependentes da natureza. Porém, ainda há imensas lacunas de conhecimento para a transição da produção de alimentos dos sistemas atuais para modos regenerativos.

Nas cidades, os desafios são igualmente urgentes. Episódios recentes de falta de energia após tempestades em grandes centros urbanos, como São Paulo, escancaram os custos econômicos e sociais da ausência de planejamento adequado e da não incorporação de riscos climáticos às decisões de infraestrutura.

A produtividade urbana depende de sistemas energéticos resilientes, transporte eficiente, adaptação térmica e planejamento territorial orientado por evidências. Ignorar esses fatores resulta em perda de qualidade de vida, prejuízos econômicos e maior vulnerabilidade social.

Ao articular temas como uso e governança de recursos naturais; sustentabilidade agrícola, uso dos solo e produtividade; transição energética; regulação e instrumentos econômicos para a preservação ambiental; sustentabilidade urbana e produtividade nos territórios; infraestrutura, meio ambiente e preservação ambiental; economia política da preservação ambiental; sustentabilidade, mercado de trabalho e produtividade; sustentabilidade, saúde e produtividade; sustentabilidade e desigualdade, economia, sustentabilidade e produtividade na Amazônia Brasileira; finanças climáticas; mudanças climáticas: crescimento e desenvolvimento econômico; mudanças climáticas: mecanismos de adaptação e mitigação, a Rede PP&S aponta também para uma oportunidade estratégica: posicionar o Brasil como um país vendedor de soluções, com tecnologias que podem se tornar vantagens competitivas internacionais.

Para isso, como ressaltou Joaquim Levy, o desafio é menos ampliar subsídios e mais organizar melhor o “jogo”, alinhando incentivos, incorporando adaptação desde o início dos projetos e investindo em tecnologia para elevar a produtividade com menores emissões.

A Amazônia ocupa lugar central nessa equação. As florestas não são apenas estoque de carbono, mas infraestrutura climática essencial, responsável pela regulação das chuvas que sustentam a agricultura, a energia e a economia nacional.

A disputa por milhões de hectares de terras públicas, alimentada por invasões e desmatamento ilegal, não gera riqueza nem produtividade; ao contrário, compromete o futuro econômico do país.

Como destacou Beto Veríssimo, só há manutenção da economia brasileira com florestas em pé. Evidências científicas já demonstram, com precisão, como o desmatamento afeta a umidade transportada pelos chamados “rios voadores” e reduz as chuvas em diferentes regiões do Brasil.

Incorporar esse conhecimento às decisões de planejamento energético, agrícola e financeiro é uma condição para reduzir riscos sistêmicos.

Ao promover a convergência entre os mundos da produtividade e da sustentabilidade, historicamente tratados como campos separados ou até antagônicos, a Rede PP&S assume uma responsabilidade estratégica.

Em um país cuja economia depende profundamente da natureza, produtividade e sustentabilidade não são objetivos concorrentes, mas dimensões inseparáveis de um mesmo projeto de desenvolvimento.

Fortalecer a ciência, qualificar o debate público e orientar decisões com base em evidências não é apenas desejável: é o único caminho para uma economia brasileira mais resiliente, competitiva e justa no século XXI.

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