ESG investing concept, with ESG defined in a sustainability linked loan contract (Nicholas Ahonen/Getty Images)
Rodrigo Caetano
Publicado em 27 de julho de 2022 às 14h18.
Última atualização em 27 de julho de 2022 às 16h39.
Se todos fossem tão belos como no Instagram, tão competentes como no LinkedIn e tão inteligentes como no Twitter, o mundo seria perfeito. Exageros à parte, as redes sociais são, inegavelmente, um canal de importante de formação de opinião. No Brasil, enquanto para mais de 80% o meio online é a principal fonte de notícias, seis em cada 10 leitores usam as redes sociais para se informar, segundo o Digital News Report 2022, estudo conduzido pelo instituto da agência de notícias Reuters. O avanço dos conceitos ESG na sociedade, portanto, sofre grande influência do que é falado nesses ambientes digitais.
E como anda a maturidade das discussões sobre ESG nas redes sociais? Segundo um estudo realizado pela consultoria de comunicação Llorente y Cuenca (LLYC), nem tão bom, nem tão ruim. A empresa analisou 3,3 milhões de menções de temas relacionados ao conceito, entre 2019 e 2021, e concluiu que a conversação está concentrada na “bolha” empresarial das redes, porém, segue sem conexão com a sociedade civil. “O cenário não é negativo, nem positivo. Estamos em uma transição”, afirma Anatrícia Borges, diretora de ESG da LLYC no Brasil.
O acrônimo ESG surge com mais força nas redes a partir de 2019, aponta o estudo. A crise humanitária provocada pela pandemia impulsionou os debates sobre o tema, que tiveram um boom: entre 2020 e 2021, foram registradas 2,3 milhões de menções nos Estados Unidos e mais de 500 mil no Brasil. Outro fator de amplificação foi a última reunião do Fórum Econômico Mundial realizada em Davos antes da decretação do lockdown. Na ocasião, o capitalismo de stakeholder, que prega que o lucro não é o maior propósito das empresas, foi amplamente discutido pelas lideranças.
Embora o tema tenha ganhado relevância, para a LLYC, ele ainda está restrito a pequenos círculos. “Enquanto nos EUA, a conversação já ocorre com engajamento de parte da sociedade civil, movida por diferentes segmentos (como os de esportes, artes e política). No Brasil, ela ainda está concentrada em comunidades digitais de escolas de negócio, conduzidas pelos players do mercado financeiro e lideranças empresariais”, aponta a consultoria. A sociedade civil, por enquanto, desconhece o ESG.
Para Borges, na pandemia, as empresas se viram em um papel institucional novo. A necessidade de responder às demandas da sociedade levaram o setor corporativo a adotar narrativas sustentáveis, nem sempre apoiadas na realidade. “Tínhamos ótimos relatórios de sustentabilidade, com projetos que não impactavam o IDH das comunidades”, afirma. “As empresas mudaram de discurso sem se explicar. Faltou transparência.”
Colaborou para esse processo o fato de que as mudanças propostas pelo ESG precisam de tempo para acontecer. “Não se muda a economia de um dia para o outro, são muitas externalidades”, diz Borges. A “bolha” também cria uma espécie de “miopia”. Sem perceber que estão pregando para convertidos, as empresas perdem a capacidade de ouvir a sociedade. O resultado é uma comunicação de pequeno alcance, que funciona muito bem no LinkedIn, mas vira meme no Twitter.
Eixos de ligação entre temas e audiência nas redes sociais, os maiores influenciadores ESG estão no LinkedIn. Fabio Alperowitch, Sonia Favaretto, Denise Hills, Antonio Emilio Freire, Viviane Mansi e Naiara Bertão somam mais de 160 mil seguidores na rede social profissional. No Twitter, o alcance deles é dez vezes menor. Nessa rede, cujo alcance na sociedade civil é muito maior, o que se vê são menções jocosas às práticas ESG das companhias, associadas ao uso de neologismos como ESGwashing e SocialWashing.
A imprensa profissional, diz a LLYC, se mostra mais capaz de democratizar o conceito e alcançar as massas. Portais de economia, como a EXAME, e cadernos dedicados ao tema são os que mais impulsionam o ESG no Brasil. “Na análise da conversação, a mídia tem atuado na universalização do termo na sociedade brasileira, funcionando como um conector, democratizando as expressões utilizadas pela narrativa empresarial, associando às utilizadas pela sociedade civil”, aponta o estudo. Jornalistas, afinal, são treinados para traduzir conceitos técnicos para uma linguagem mais acessível. E a falta de entendimento dos termos, muitos deles utilizados em inglês pelos especialistas, como o próprio acrônimo ESG, dificulta a disseminação do tema na sociedade. Na hora do aperto, é sempre bom contar com um especialista.