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Jéssica Pereira é a primeira empreendedora com Down a se formalizar no Brasil

Aos 31 anos, é sócia do Bellatucci Café e sonha fazer faculdade de Gastronomia; ela é uma das homenageadas no Prêmio Mulheres Exponenciais da Esfera Brasil

Jéssica Pereira faz doces, trabalha na cafeteria, dá palestras, participa de eventos e é referência em empreendedorismo. (Esfera Brasil/Reprodução)

Jéssica Pereira faz doces, trabalha na cafeteria, dá palestras, participa de eventos e é referência em empreendedorismo. (Esfera Brasil/Reprodução)

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Publicado em 13 de março de 2023 às 09h00.

Síndrome de Down nunca foi um impeditivo para Jéssica Pereira da Silva, sócia-proprietária do Bellatucci Café, em Pinheiros, na capital paulista. Ela já testou algumas profissões antes de se firmar no ramo da alimentação. Fez curso de cabeleireira, teatro, fotografia e até de massagem. Agora, aos 31 anos, sonha fazer faculdade de Gastronomia. “Mando em tudo. Faço tudo sozinha. Tenho autonomia para pegar metrô, ônibus. Minha família dá todo o apoio para mim e fico feliz”, diz.

A jovem é uma das homenageadas do Prêmio Mulheres Exponenciais 2023, realizado pela Esfera Brasil e pela Conecta para prestigiar figuras femininas que ajudam, cotidianamente, a transformar o Brasil. Ela será premiada com o troféu na categoria Empreendedorismo.

O reconhecimento pelo trabalho não é de hoje. Desde julho de 2017, quando inaugurou um restaurante no Cambuci, também em São Paulo, conquistou premiações e se tornou referência em empreendedorismo, em especial para quem tem Down.

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Ela foi a primeira a formalizar o negócio no País. O projeto envolve toda a família. “Minha mãe fica comigo na cozinha todos os dias, meu pai é ‘meu Uber’, me leva para cima e para baixo. Minha irmã cuida das redes sociais, fotos e vídeos. Meu irmão ajuda na Bellatucci e em eventos fora. Meu sócio é meu cunhado Douglas Batetucci”, conta Jéssica.

O nome do empreendimento é uma junção dos sobrenomes de origem italiana Bella, da família de Jéssica, e Batetucci, do cunhado. O projeto da empresária é ambicioso: “Quero fazer o café famoso. Não é difícil, porque as pessoas vêm me ver”.

A exposição dela na mídia ajudou a dar visibilidade ao negócio, que pretende empregar apenas pessoas com deficiência. Além de Jéssica, trabalham o namorado Philippe Tavares, que também tem Down e é barista e garçom, e outros três colegas, na mesma condição, que se revezam nas atividades ao longo da semana. Philippe é o único com vínculo empregatício.

“Abrimos essa empresa para que ela e os amigos trabalhem, para incentivar que ingressem no mercado de trabalho. Damos a oportunidade para que façam a vivência aqui e tenham um primeiro contato com atendimento ao cliente, noções de hierarquia, controle de finanças pessoais e compromissos com horário. Buscamos também a autonomia financeira da Jéssica”, explica Nelson Pereira da Silva Neto, irmão da empresária.

Pandemia

Ela não contava com as dificuldades que a pandemia de Covid-19 traria. Por causa do alto valor do aluguel, foi preciso fechar as portas no Cambuci e, por meio de um amigo, conheceu o empreendedor Tedd Albuquerque que acredita no projeto e cedeu um espaço dentro da galeria em Pinheiros, a princípio como um teste, até que houvesse a recuperação financeira. O trabalho no atual endereço já dura dois anos.

Segundo o irmão de Jéssica, o sonho da família ainda é reabrir o restaurante, onde tinham mais autonomia para trabalhar em outras frentes de negócio. “Estamos juntando dinheiro nosso e buscando patrocinadores e incentivadores para termos novamente o nosso negócio. Antes a gente fazia rodas de samba e jantares dançantes, mas agora não podemos”, pontua Nelson Neto.

Hoje, a cafeteria é o espaço para a venda de produtos preparados na cozinha da casa de Jéssica. A família também recebe encomendas de alimentos e doces para complementar a renda. “Sempre gostei de cozinhar, desde criança. Não sabia, mas ajudava minha mãe a fazer a mesa, mexer o suco, fazer salada. No Natal, faço sobremesa”, lembra.

Apaixonada por doces, ela não se limita à cozinha e ao café: dá palestras on-line, participa de salas de bate-papo e rodas de conversa, cuida da saúde, faz academia, tratamento dentário, fonoaudiologia e teatro, sem falar na presença em eventos como coffee breaks e happy hours. “Minha agenda é muito cheia”, diz Jéssica com orgulho.

Formada no ensino fundamental pelo Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos (Cieja), ela é técnica em Gastronomia pelo Senac, mas agora se prepara para tirar o diploma de ensino médio por meio de uma prova, para que possa ingressar na universidade. Enquanto isso, também faz curso para ser técnica em redes sociais.

Futuro

O projeto de ser proprietária de um restaurante partiu de Jéssica. “Comentei com a minha mãe e minha irmã que meu sonho era abrir um restaurante. Elas me falaram: ‘Restaurante não dá, é muito difícil. O que acha de abrir um café?’. Está ótimo, o foco é o café”, afirma.

Outro sonho é se casar com o namorado, com quem está há cinco anos. Mas, para isso, ainda não há condições financeiras. “Primeiro o dinheirinho”, destaca Jéssica.

Extrovertida, adora tirar fotos e dar entrevistas. Cuida do visual e é vaidosa. É também muito grata à mãe, Ivania Della Bella, a quem chama de companheira.

“Sempre ganho prêmios e presentes. Me sinto bem por ser amada e querida, porque o povo me conhece”, diz.

Acompanhe tudo sobre:Prêmio Mulheres Exponenciais 2023

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