Inflação: IPCA fechou 2022 com alta de 5,79% (Leandro Fonseca/Exame)
Carolina Riveira
Publicado em 10 de janeiro de 2023 às 09h04.
Última atualização em 12 de janeiro de 2023 às 17h44.
A inflação no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal índice inflacionário brasileiro, fechou o mês de dezembro com alta de 0,62%. O resultado foi divulgado nesta terça-feira, 10, pelo IBGE.
Com o resultado, a inflação total para o ano de 2022 terminou em 5,79%, novamente acima do teto da meta do Banco Central, embora menor do que no ano anterior.
O valor de dezembro veio levemente acima do consenso do mercado, que esperava alta de 0,45% no mês e IPCA anual em 5,60%. A alta do mês foi maior que a de novembro, quando o IPCA havia subido 0,41%.
A inflação de 2022 fecha o ano abaixo da de 2021, que havia terminado em 10,06%, a maior desde 2015 e uma das piores desde a implementação do Plano Real.
A partir do segundo semestre, a inflação foi amenizada com uma combinação entre temores de recessão que baixaram o preço do petróleo no exterior, alta de juros e desonerações federais e estaduais sobre o preço dos combustíveis. Após altas significativas, o preço de alimentos importantes, como o leite, também ficou menos pressionado nos últimos meses do ano com o fim do período de entressafra.
O INPC, que indica a inflação especificamente na cesta das famílias mais pobres (até cinco salários mínimos), subiu pouco acima do IPCA, com alta de 0,69% em dezembro. No ano, o INPC ficou em 5,93% em 2022.
O IBGE destacou que o comportamento dos grupos no INPC "foi bastante similar ao IPCA, com o principal destaque vindo de alimentação e bebidas", disse em nota o analista de IPCA e INPC na instituição, André Almeida.
Apesar das desonerações, o IPCA ficou novamente acima da meta do Banco Central, que era de 3,5%, com banda de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos (isto é, seria cumprida se o índice oscilasse entre 2% e 5%).
Como de praxe, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, terá de enviar carta justificando a inflação acima da meta. É o segundo ano seguido em que a inflação brasileira fica acima do teto estipulado.
A inflação de 2022 foi impactada principalmente pelo grupo "Alimentação e bebidas", que teve alta acima do índice geral e subiu 11,64%. O grupo teve o maior impacto na cesta do IPCA (2,41 p.p.), pela combinação de seus preços subindo e grande importância no consumo das famílias.
“No caso da cebola, a alta está relacionada à redução da área plantada, ao aumento do custo de produção e a questões climáticas. Já os preços do leite subiram de forma mais intensa entre março e julho de 2022, quando a alta acumulada no ano chegou a 77,84%", lembra Almeida, do IBGE. "A partir de agosto, com a proximidade do fim do período de entressafra, os preços iniciaram uma sequência de quedas até o final do ano."
Já a maior variação absoluta veio do grupo "Vestuário" (alta de 18,02%). Esse grupo, vale lembrar, subiu mais de 1% no mês em 10 dos 12 meses do ano.
Dentre as baixas, o grande destaque foram os "Transportes" (-1,29% no ano), grupo que inclui os combustíveis que ficaram mais baratos com a desoneração e o cenário internacional partir do segundo semestre. Ao contrário do que ocorreu com alimentos, a queda nesse grupo gerou o maior impacto negativo no IPCA (-0,28 p.p).
As projeções para o IPCA em 2023 também já ultrapassam o teto da meta do BC: a mediana do último boletim Focus nesta semana, que reúne as apostas de analistas, projeta IPCA 2023 em 5,36%, contra 5,06% há um mês. Já o centro da meta do BC para 2023 é de 3,25%, com teto de 4,75%.
O respiro na inflação de 2022 carregou para 2023 alguns alertas. Uma das críticas à tentativa de queda da inflação via desonerações, quando as medidas foram anunciadas no ano passado, foi o alto custo fiscal e o risco de somente adiar parte dos problemas para o futuro. Quando os impostos forem restaurados (a desoneração federal foi prorrogada por dois meses pelo governo Lula, mas a tendência é que seja encerrada total ou parcialmente), possa haver uma pressão inflacionária que era de 2022 mas foi trazida para este ano.
Riscos fiscais internos que pressionem o dólar, além do cenário internacional, incluindo o preço do petróleo no exterior, também seguirão sendo preocupações que podem afetar os preços no Brasil.