Economia

Selic não vai reagir a dados de alta frequência, diz Campos Neto

Em participação no MacroDay 2021, do BTG Pactual, Campos Neto afirmou que o BC está acompanhando os componentes do processo inflacionário, mas que nem sempre ocorrerão "alterações no plano de voo"

Campos Neto, presidente do Banco Central: BC está atento aos processos inflacionários, mas não vai reagir à "alta frequência" (BTG/Divulgação)

Campos Neto, presidente do Banco Central: BC está atento aos processos inflacionários, mas não vai reagir à "alta frequência" (BTG/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 14 de setembro de 2021 às 10h39.

Última atualização em 14 de setembro de 2021 às 17h45.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a repetir que o BC atuará para controlar o avanço da inflação e que medidas estão previstas. Mas afirmou que o Comitê de Política Monetária (Copom) não vai agir sobre cada nova alteração de "alta frequência".

Campos Neto participou de painel nesta terça-feira, 14, no MacroDay 2021, evento do banco BTG Pactual.

"Dizer que vamos fazer o que precisa ser feito para atingir a meta significa que vamos levar a Selic aonde precisar levar. Mas não significa que vamos reagir sempre a dados de alta frequência", disse.

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Campos Neto afirmou que o BC está acompanhando os componentes do processo inflacionário e as mudanças no curto prazo, mas que nem sempre ocorrerão "alterações no plano de voo", cujo foco é um "horizonte mais longo".

O IPCA, principal índice inflacionário brasileiro, ficou em 9,68% no acumulado de 12 meses até agosto. O Brasil deve fechar 2021 com a pior inflação desde 2015, apesar do desemprego ainda na casa dos 14%.

A fala de Campos Neto acontece dias antes da próxima reunião do Copom, marcada para 21 e 22 de setembro. Na bolsa, a declaração do presidente do BC reduziu as expectativas de altas mais agressivas na próxima reunião, e o juro com vencimento futuro em outubro caía 2% por volta das 11 horas.

A taxa Selic está hoje em 5,25%, após ter começado o ano em baixa recorde de 2,0%, o que fez o Brasil ser um dos países do mundo que mais subiram juros recentemente.

As projeções do mercado já apontam que a taxa de juros pode terminar 2021 próxima de 8%.

Choque de oferta

Em sua fala, o presidente do BC discorreu também sobre os choques de oferta e demanda que têm causado parte da inflação no Brasil e no exterior.

Altas na frente de serviços em todo o mundo já eram esperadas com a reabertura econômica após a vacinação, mas além disso, a inflação segue pressionada globalmente por choques de oferta, com a produção de bens não conseguindo atender à demanda.

A oferta de semicondutores, importante componente de produtos eletrônicos, é um dos maiores exemplos, com preços batendo recorde.

Campos Neto aponta que esse processo era esperado durante a pandemia, com as quarentenas, mas a oferta insuficiente continua sendo uma realidade mesmo com a reabertura e com a produção aumentando.

A grande pergunta, diz o presidente do BC, é "o quanto disso é uma mudança estrutural e o quanto é uma ruptura na cadeia de oferta".

"Fica mais fácil dizer hoje que temos alguma coisa estrutural acontecendo que tenha aumentando a demanda por esses componentes. Isso cria uma persistência inflacionária nesses itens", disse.

A aposta de parte dos analistas era de que a inflação de bens seria temporária e se recuperaria rapidamente. "Isso não se mostra verdade. Não só não está melhorando como está piorando em alguns casos", ressaltou Campos Neto.

"Achamos que vai ter ainda uma normalização, mas mais lenta, que faz com que o processo inflacionário em grande parte do mundo seja mais prolongado."

No Brasil, em frentes como as commodities, a alta de preços vista no mercado externo no ano passado (e que agora se estabilizou) foi rapidamente repassada ao mercado interno devido ao dólar, o que significa que o país já sofreu parte dos efeitos da inflação.

"De fato parece que o mundo está numa fase em que um pouco disso nós já vimos no Brasil. Mas tivemos problemas que são nossos problemas de dinâmica interna", disse Campos Neto, citando o caso da crise hídrica.

"A gente nunca teve tantos choque consecutivos num período tão curto de tempo, o mais recente sendo a parte hídrica, que gerou uma incerteza adicional", disse. 

O real desvalorizado também segue sendo um dos principais componentes inflacionários, e embora esteja relativamente estável em 2021, o preço do dólar subiu na casa dos 30% no ano passado e nunca mais caiu.

"Grande parte do fluxo [de dólar] que saiu não voltou para o Brasil, e isso é verdade em outros países da América Latina, foi para a Ásia", disse Campos Neto, que acredita que parte do contingente represado possa voltar. Ele afirma que o BC deve atuar no fim do ano na frente cambial, que é um período que, por critérios técnicos, é mais sensível no mercado de dólar.

Risco Brasil

Campos Neto falou também sobre a projeção de crescimento para 2022, que ainda está mais alta na projeção do BC (4,03%) do que na mediana do mercado, que já chega perto dos 2% e abaixo disso em muitas casas de análise.

O presidente do BC disse que há uma leva de boas notícias, como reformas microeconômicas, a vacinação que tem levado à queda consistente de casos de covid-19 e a possibilidade de que o Brasil tenha um déficit primário próximo de zero em 2022.

Ele aponta que as classes altas e o empresariado têm retomado níveis de confiança perto do pré-pandemia, embora isso ainda seja um desafio das classes mais baixas, com o emprego informal não tendo voltado aos níveis de antes do coronavírus.

Sobre a alta na curva de juros futuros e os riscos no horizonte vistos por parte dos investidores, Campos Neto avaliou que mudanças práticas não se transformaram em melhoria na visão de risco.

Como exemplos, o presidente do BC argumenta que parte do risco em 2020 vinha da visão de que o Brasil passava de forma pior pela pandemia, do desequilíbrio fiscal com o auxílio emergencial e problemas de governabilidade no Congresso. Neste ano, ele avalia que essas três questões foram relativamente equacionadas.

"Mas isso não se traduziu em uma queda no prêmio risco", disse.

Campos Neto avalia que, uma vez definidas questões como o valor do novo Bolsa Família proposto pelo presidente Jair Bolsonaro e o pagamento dos precatórios, a confiança dos agentes de mercado deve se estabilizar e "virar a página".

"[O mercado] verá que esse balanço de risco não era tão ruim quanto a gente esperava", disse. "Acho que é um processo que vai acontecer."

Futuro do PIX

Na frente de ações tecnológicas do BC, Campos Neto comemorou os resultados do PIX, programa de pagamento instantâneo capitaneado pela instituição.

"O PIX se mostrou não só um substituto de TED e DOC", disse Neto, afirmando que a ferramenta está viabilizando novas possibilidade de negócios. No futuro, há uma agenda para implementar o PIX internacional, segundo o planejamento do BC.

O valor médio do PIX está em 595 reais pelos dados de julho, e o volume de transações, que começou com 30 bilhões de reais em novembro de 2020, saltou para 527 bilhões. Cerca de 100 milhões de pessoas físicas e 7 milhões de entidades já registraram chaves para usar o PIX.

Sobre os golpes que vem sendo relatados na plataforma, Campos Neto argumentou que os crimes existiam independentemente do PIX, mas que o BC está trabalhando para melhorias.

"[A criminalidade] está mais associado à abertura da economia do que a existência do PIX", disse. Campos Neto defendeu também que medidas de segurança feitas no PIX não poderiam ter sido feitas em alguns outros instrumentos, como limites específicos, por horário e estabelecimento, além de mais rápida rastreabilidade das contas.

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