Peso argentino: BC elevou taxa de juros para 78% (LUIS ROBAYO/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 16 de março de 2023 às 18h36.
Última atualização em 16 de março de 2023 às 18h47.
O Banco Central argentino anunciou nesta quinta-feira, 16, um aumento de três pontos percentuais na taxa básica de juros do país. A autoridade monetária local subiu a taxa Leliq de 75% para 78% ao ano.
O anúncio foi feito um dia depois de o índice oficial de inflação no país ter superado 100% pela primeira vez em mais de 30 anos.
A última grande alta do BC argentino havia sido em setembro passado, quando o banco elevou a taxa Leliq de 28 dias em mais de cinco pontos percentuais, chegando aos 75% de até então.
Na última decisão, em fevereiro, o BC havia decidido manter a taxa em 75%, cenário que mudou após a divulgação da inflação em 102,5% na quarta-feira, 15. Em 2022, a inflação argentina já havia tido alta histórica, fechando o ano em 94,8%.
A inflação argentina vive forte pressão inflacionária há décadas, em cenário que se agravou nos últimos anos em meio a uma combinação de baixa credibilidade, histórico de calotes na dívida do país, dívida junto a credores privados e Fundo Monetário Internacional (FMI) e instabilidade política interna. Além disso, o cenário piorou com a pressão inflacionária global no pós-pandemia, que levou a inflação a patamares recorde mesmo países habituados a inflação baixa, como EUA e Europa.
A Argentina tem ainda eleições presidenciais neste ano, marcadas para outubro. O atual presidente, Alberto Fernández, sofre com rejeição alta em meio à crise econômica no país e ainda não se sabe se concorrerá à reeleição.
A inflação argentina ficou em 102,5% no acumulado de 12 meses até fevereiro, segundo a última medição divulgada no dia 15 de março. No mês de fevereiro, a inflação variou 6,6% (mais do que é projetado para a inflação brasileira em todo o ano de 2023).
Só nos primeiros dois meses, em janeiro e fevereiro, a inflação variou 13,1%. Os números foram divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos (INDEC), equivalente ao IBGE no país.
O resultado de fevereiro foi o primeiro em mais de três décadas em que a inflação acumulada em 12 meses superou 100%. Somente em setembro de 1991 a inflação havia atingido esse patamar pela última vez.
A Argentina terá eleições em outubro de 2023. Ainda não está claro se Fernández (do grupo político da ex-presidente e atual vice, Cristina Kirchner) disputará a reeleição, ou se a candidatura caberá a outros nomes do grupo político do presidente, o chamado "peronismo". Dentro do governo, Fernández e Kirchner também tem tido desavenças, que culminaram com a queda de ministros da Economia diversos no ano passado.
O principal grupo rival dos atuais mandatários, do ex-presidente Maurício Macri, de centro-direita (e que perdeu a reeleição para Fernández em 2019) também tem rejeição alta pela inflação elevada em seu período no poder e pela dívida de mais de US$ 40 bilhões contraída junto ao FMI. Outros nomes do grupo de Macri também podem vir a concorrer.
Também corre por fora o candidato de extrema-direita, Javier Milei, comparado na Argentina ao ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro. Por ora, ainda não há um favorito na disputa, e a tendência é que os candidatos e as preferências dos eleitores fiquem mais claros nos próximos meses. Apesar disso, é dado como certo que o debate sobre a inflação e a situação econômico tende a ser decisivo nas urnas no segundo semestre.