Ciência

Previsão do tempo: uma vítima inesperada da pandemia de coronavírus

Meteorologistas ficaram sem acesso às informações fornecidas pelos aviões comerciais, muitos deles imobilizados devido à epidemia

Ponte Estaiada durante quarentena de coronavírus em São Paulo (Eduardo Frazão/Exame)

Ponte Estaiada durante quarentena de coronavírus em São Paulo (Eduardo Frazão/Exame)

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AFP

Publicado em 12 de abril de 2020 às 12h36.

Última atualização em 12 de abril de 2020 às 13h25.

O novo coronavírus tem causado vítimas imprevistas, como a meteorologia: os meteorologistas ficaram sem acesso às informações fornecidas pelos aviões comerciais, muitos deles imobilizados devido à epidemia.

Os modelos digitais usados diariamente para previsões meteorológicas precisam de muitos dados, com milhões de observações sobre o estado da atmosfera.

A grande maioria dessas informações vem de satélites especializados.

Mas, para ser mais precisos, especialmente nas camadas inferiores da atmosfera, "cerca de 10% dos dados são provenientes de sistemas integrados em aviões de linha", explica Emmanuel Bocrie, diretor da divisão de mídia da Météo França.

Em circunstâncias normais, os aviões comerciais fornecem ao mundo mais de 700.000 observações sobre temperatura do ar, velocidade e direção do vento, além de dados sobre umidade e turbulências, transmitidos durante a fase de decolagem e durante o voo.

Trata-se do sistema Amdar, gerenciado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), uma agência da ONU.

Com a epidemia, que levou a uma queda de entre 80% e 90% do tráfego aéreo mundial, "perdemos cerca de dois terços" dessas observações, enfatiza Bocrie.

Essa situação preocupa os especialistas em clima. "O declínio contínuo e amplificado das observações meteorológicas das aeronaves pode levar a uma redução gradual na confiabilidade das previsões", disse um dos diretores da OMM, Lars Peter Riishojgaard, em comunicado no início de abril.

Falta de dados sobre o Atlântico

O impacto na precisão das previsões meteorológicas pode ser da ordem de 10%, calcula a Météo França, que, para compensar essa perda de dados, decidiu, juntamente com outras organizações francesas, "dobrar o número de radiossondagem" com balões sonda.

Essa técnica consiste em enviar um grande balão, cheio de hidrogênio e equipado com uma sonda, a mais de 30 km de altitude, onde explode e cai. Os dados são mais completos e confiáveis do que os das sondas nas aeronaves, mas o material dificilmente pode ser recuperado e não pode ser reutilizado, o que tem um custo significativo.

Essas operações foram reduzidas progressivamente, mas a Météo France voltou a lançar quatro lançamentos diários de uma de suas instalações na França.

O dispositivo é automático, mas uma equipe precisa reinstalá-lo a cada 15 dias. "Você precisa ir duas vezes mais", explica Bocrie.

Além disso, por ser uma técnica tão cara, não pode ser aplicada em todas as partes.

"Em muitos países em desenvolvimento, a etapa de observação automatizada não foi concluída" e é feita manualmente, explica a OMM.

A radiossondagem não pode substituir voos de aeronaves sobre os oceanos.

"Hoje existe uma falta de observação acima do Atlântico, que condiciona o clima no continente europeu", disse Sébastien Brana, vice-presidente da associação Infoclimat, que usa dados da Météo France e de sua própria rede de observadores.

"O risco é que, no caso de um grande evento climático como uma tempestade, haja um pouco mais de incerteza sobre a força dos ventos ou o tempo esperado de chegada à costa francesa", diz Emmanuel Bocrie.

Felizmente, na Europa Ocidental, "a situação climática desde o início da crise da saúde é relativamente fácil, temos uma situação anticiclônica que reduz o risco de uma tempestade", acrescenta.

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