Pílula para curar a solidão? Cientistas não descartam a possibilidade
Pesquisadores dos Estados Unidos e da Alemanha trabalham no desenvolvimento de um remédio
Rodrigo Loureiro
Publicado em 8 de agosto de 2020 às 08h00.
O futuro reserva um remédio para tratar a solidão? Cientistas e pesquisadores acreditam que sim. Pesquisadores nos Estados Unidos e na Alemanha trabalham no desenvolvimento de fármacos à base de ocitocina para tratarem os efeitos neurológicos causados pela solidão.
A pesquisadora Stephanie Cacioppo, do Laboratório de Dinâmica do Cérebro da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, estuda o desenvolvimento de uma pílula que pode auxiliar no tratamento da solidão. O fármaco contaria com o hormônio pregnenolona, que já mostra sinais positivos no tratamento da ansiedade e da depressão. Os testes acontecem desde 2017 e deveriam ter sido encerrados em junho, mas pandemia do coronavírus atrasou os planos.
Na Alemanha, Rene Hurlemann, professor do curso de psiquiatria da Universidade de Oldenburg, conduz testes de ocitocina a uma década. O hormônio é produzido pelo cérebro a partir de situações em que a pessoa se sente confortável e querida. Ele faz parte do que alguns pesquisadores chamam de “hormônios da felicidade”.
Dois grupos participam dos testes realizados na Alemanha. Um recebe o hormônio em forma de spray nasal e outro recebe um placebo. Os resultados da pesquisa ainda não são conclusivos. “As pessoas solitárias tinham níveis baixos de ocitocina, mesmo depois de serem confrontadas com memórias positivas”, afirma. O estudo deve ser concluído até 2022.
Independentemente dos resultados obtidos até agora, Hurlemann diz que não é possível prescrever tratamentos deste tipo na ausência de um tratamento psicoterápico. Segundo o pesquisador, esses medicamentos podem acelerar a melhora dos pacientes, mas não funcionam sem um acompanhamento médico realizado por um psiquiatra.
Para a psicoterapeuta Rachel Benjamin, do Tribeca Therapy, em Nova York, usar medicamentos deste tipo não é a solução. Rachel lidera um grupo de terapia exclusiva para lidar com pessoas com solidão e diz que remédios assim “nos fazem sentir mais isolados”. Segundo ela, em reportagem do The Guardian , “pílulas não podem construir intimidade”.
A historiadora Fay Bound Alberti descreve a solidão crônica em seu livro “ A Biography of Loneliness: The History of an Emotion ” como “um sentimento consciente e cognitivo de estranhamento ou separação social de outras pessoas significativas; uma falta emocional que diz respeita ao lugar de uma pessoa no mundo”. Ela afirma que se é difícil definir o que é solidão, é ainda mais complicado tratar essa condição. Tentativas não faltam