Ciência

Pesticida afeta capacidade de voo das abelhas — e polinização

Estudo suscita preocupações relativas à saúde das colônias e aos impactos sobre o meio ambiente e a segurança alimentar

Abelha: teste em laboratório mostrou que o inseticida pode prejudicar a polinização (bigmikephoto/Thinkstock)

Abelha: teste em laboratório mostrou que o inseticida pode prejudicar a polinização (bigmikephoto/Thinkstock)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 3 de maio de 2017 às 17h33.

Última atualização em 5 de maio de 2017 às 14h33.

São Paulo - Pela primeira vez, pesquisadores demonstraram que um pesticida amplamente usado em culturas agrícolas pelo mundo pode prejudicar significativamente a capacidade de voo de abelhas saudáveis.

O estudo, assinado por biólogos da Universidade da Califórnia, levanta preocupações relativas aos efeitos de longo prazo dessa exposição sobre um dos processos mais importantes da natureza a polinização e a própria saúde das colônias de abelhas.

Pesquisas anteriores já haviam demonstrado que as abelhas melíferas (espécie mais conhecida pela produção de mel) que entravam em contato com néctar, pólen ou água contaminados por inseticidas neonicotinóides, comumente usados ​​na agricultura, eram menos propensas a retornar ao seu ninho, o que acabava reduzindo o número de forrageiras, como são chamadas as abelhas que coletam néctar e pólen.

Considerados "viciantes" para o inseto, os neonicotinóides são uma classe de inseticidas derivados da nicotina. Algumas dessas substâncias tiveram o uso proibido na União Europeia após estudos evidenciarem correlações dos produtos aplicados à lavoura com o declínio de populações de abelhas polinizadoras.

No novo estudo, publicado no periódico científico Scientific Reports, os cientistas estudaram os efeitos danosos provocados por um tipo específico de pesticida neonicotinóide, o tiametoxam, largamente aplicado em culturas como milho, soja e algodão, três commodities agrícolas.

Para testar a hipótese de que o pesticida prejudica a capacidade de voo das abelhas, os pesquisadores projetaram um moinho de voo (um instrumento de teste) a partir do zero, para permitir que elas voassem em condições consistentes e controladas.

Meses de testes e coleta de dados revelaram que níveis comuns de exposição a neonicotinóides que as abelhas poderiam experimentar em culturas agrícolas provocaram danos substanciais em sua capacidade de voar, afetando principalmente a distância, a duração e a velocidade dos deslocamentos aéreos.

Os resultados deixaram os pesquisadores bastante preocupados, tendo em vista que a abelha do mel é um ser altamente social, sendo o comportamento dos indivíduos essencial para a sobrevivência da colônia.

Mesmo uma dose subletal do pesticida pode levar a um efeito negativo em cascata por toda a colônia, uma vez que a sobrevivência das abelhas depende da sua capacidade de voar para coletar alimentos.

Segundo a pesquisa, o declínio das populações de abelhas afeta também as funções vitais que elas exercem no ecossistema, incluindo a polinização global de culturas e plantas nativas, suscitando preocupações sobre os impactos ambientais futuros e a segurança alimentar humana.

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