Coronavírus: nova variante pode ter surgido no Brasil (Amanda Perobelli/Reuters)
Tamires Vitorio
Publicado em 21 de dezembro de 2020 às 12h28.
Última atualização em 21 de dezembro de 2020 às 19h06.
A nova mutação do coronavírus pode ter surgido no Brasil há oito meses, em meados de abril, segundo cientistas. A variante, de acordo com autoridades britânicas, pode ser até 70% mais transmissível do que as cepas anteriores do vírus.
Chamada de N501Y, a mutação já alcançou outros países, como a Austrália, a Dinamarca e os Estados Unidos e acontece na espícula do coronavírus, proteína responsável pela infecção em seres humanos ao se alocar nas células dos indivíduos.
Os cientistas do governo britânico acreditam, portanto, que a nova cepa é capaz de se alocar com mais eficiência nas células humanas, o que pode aumentar a concentração do vírus na boca e no nariz, as principais vias para infecção e transmissão da doença.
Segundo o jornal britânico The Telegraph, a N501Y não causou muito alarde no começo do ano por não ter sido detectada com tanta frequência, mas acredita-se que a "constelação de mutações" nessa nova variante pode ser a causa do aumento das infecções. "Quando você coloca várias mutações juntas, a combinação delas traz efeitos diferentes", afirmou o professor Peter Horby, representante do governo britânico. "Qualquer uma dessas mutações podem ter estado em outro lugar, mas essa constelação parece ser algo bastante novo", completou.
Mutações são comuns em vírus, como o da gripe. Na tarde de ontem, o cientista britânico Jeffrey Barrett, diretor do Covid Genomics Initiative at the Wellcome Sanger Institute, disse ao jornal Financial Times que 23 marcações do vírus original se modificaram, sendo que 17 são capazes de afetar seu comportamento. O objetivo de qualquer vírus é aumentar seu poder de infecção. Para fazer isso, a covid estaria se adaptando para se multiplicar com mais intensidade nas células humanas.
A preocupação no caso da N501Y se dá pelo aumento na taxa de transmissão — e causa um mal-estar global em meio a uma pandemia que tem aumentado nos últimos meses, quase um ano após a confirmação do primeiro caso de covid-19.
A variante foi identificada primeiro na Baía de Nelson Mandela, na África do Sul, e rapidamente se espalhou por províncias vizinhas. Em um encontro realizado no começo deste mês, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recebeu um comunicado de diversos cientistas sobre o fato de que cerca de 90% das novas infecções observadas no país foram causada pela N501Y — o que colocava o país no caminho para uma segunda onda ainda mais fatal e potente.
A hipótese dos cientistas é que a nova variante surgiu provavelmente em um único paciente que estava doente por um tempo, talvez por meses, com o sistema imunológico bastante comprometido, o que deu ao vírus tempo suficiente para que ele evoluísse. Depois a variante foi passando de pessoa para pessoa.
A mutação causou a determinação de lockdown em Londres e no sudoeste da Inglaterra neste domingo, 20, e fez com que diversos voos britânicos fossem cancelados.
Sobram perguntas — mas a ciência ainda não tem as respostas para todas. Resta esperar — e continuar usando máscaras e praticando o distanciamento social.