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Múmia do Equador é chave para decifrar doença que chegou à Europa

O INPC (Instituto Nacional de Patrimônio Cultural ) afirmou que os restos mortais pertencem a um frade de origem espanhola

(Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)
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AFP

Publicado em 1 de fevereiro de 2019 às 15h55.

Um corpo mumificado do século XVI encontrado no Equador pode ajudar a traçar a história de uma dolorosa enfermidade que se estendeu da América para a Europa. "É uma múmia extremamente importante para a história das doenças", disse à AFP o legista francês Philippe Charlier. O especialista esteve nesta semana no laboratório do Instituto Nacional de Patrimônio Cultural (INPC) para analisar os restos de seu novo "paciente", que contém as pistas para reconstruir a origem da poliartrite reumatoide e a travessia para o velho continente.

O INPC afirmou que os restos mortais pertencem a um frade de origem espanhola, mas os estudos para confirmar sua identidade podem levar a outro resultado.

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Fray Lázaro da Cruz de Santofimia, a identidade dada pelo INPC à múmia, teve uma sepultura pouco usual: foi colocado entre as paredes do antigo convento da Assunção, na localidade de Guano, província de Chimborazo (centro andino).

Uma tumba atípica

Diferentemente de outros mortos que eram enterrados dentro de igrejas em caixões na posição horizontal, a múmia de Guano estava de pé, sem mais proteção do que os muros de pedra e na companhia de um rato mumificado naturalmente.

Segundo a crença religiosa da época, as almas iriam rápido para o céu caso os corpos ficassem dispostos perto do altar de uma igreja.

Por ter ficado em um ambiente frio e seco, o corpo não foi atacado por larvas e moscas, o que permitiu a conservação dos tecidos com as características da poliartrite reumatoide.

Trata-se de uma doença inflamatória das articulações própria da América que chamou a atenção de Charlier, que estudou os restos mortais de Hitler, Descartes, Robespierre e do primeiro exemplar descoberto do homem de Cromañón.

"É uma enfermidade muito comum hoje em dia, mas sua origem é americana, antes da chegada de Cristóvão Colón", explicou Charlier, acrescentando que a múmia de Guano "pode ser o elo perdido (...) que nos permitiria entender como esta doença que era originalmente americana, se tornou global por hibridação, pelo choque entre dois mundos".

Franciscano?

Um terremoto que atingiu o centro andino do Equador em 1949 revelou a estranha sepultura que se acredita ser do frade franciscano e guardião do convento da Assunção entre 1560 e 1565, de acordo com a privada Universidade de San Francisco de Quito, que participa na pesquisa.

As pesquisas ainda não determinaram a data da morte, mas sim a causa mais provável: uma fístula no queixo que se tornou um abscesso e derivou em uma septicemia ou em uma encefalite.

Outra tarefa pendente é confirmar a identidade da múmia mediante a revisão dos registros da ordem franciscana.

Os têxteis que cobrem o corpo poderão ajudar a esclarecer quem ele era. "O que tem sobre ele não é em absoluto a vestimenta de um frade franciscano, um frade franciscano que tem um vestido com capuz geralmente de cor marrom escuro, e não roupa de qualidade como se pode ver neste senhor", afirmou o especialista francês.

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