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Instituto Biológico faz 90 anos sem ter concorrentes

O laboratório do governo paulista teve que triplicar a produção em 2017 após se tornar o único fornecedor de diagnósticos de doenças de bovinos e suínos

Instituto Biológico: produtividade está em alta (Divulgação/Divulgação)
GM

Gabriela Monteiro

Publicado em 6 de dezembro de 2017 às 14h54.

Última atualização em 27 de dezembro de 2017 às 17h51.

São Paulo – O mês de dezembro será de festa para os 200 empregados do Instituto Biológico, um dos mais respeitados centros de pesquisa para o agronegócio brasileiro. Sediado num imponente prédio de arquitetura art déco na zona sul de São Paulo, o Instituto celebra 90 anos de vida neste fim de 2017. Um dos focos do trabalho realizado ali é a fabricação de tubos com uma infinidade de antígenos, termo técnico utilizado para micro-organismos presentes na natureza, como bactérias e vírus.

Ao serem injetados num animal vivo, os antígenos permitem diagnosticar a infecção por brucelose e por tuberculose, doenças que atacam as articulações do rebanho e, como são incuráveis e transmissíveis a outros animais, acarretam o abate quase que imediato. Atualmente, estima-se que apenas as duas moléstias sejam responsáveis por perdas de 1 bilhão de reais aos produtores rurais brasileiros – cerca de 1% da produção total da pecuária no país, de 167 bilhões de reais em 2017. Se não devidamente diagnosticadas, essas doenças comprometem as exportações de carnes brasileiras, um mercado que movimenta atualmente de 6 bilhões de dólares por ano, uma vez que os principais países compradores da carne brasileira, como China e Hong Kong, costumam rejeitar carnes que trazem resquícios dessas doenças.

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O aniversário coincide com um período de alta produtividade do Instituto Biológico. A expectativa é que até o fim do ano sejam feitas ali 12 milhões de doses dos antígenos, o triplo da produção no ano passado. O motivo? Faltam empresas no Brasil que forneçam esse tipo de serviço.  “Somos atualmente o único centro de pesquisa no país que faz o serviço completo, ou seja, produz diagnósticos capazes de analisar essas doenças em animais vivos e também nos abatidos”, diz Antônio Batista Filho, diretor do Instituto.

A exclusividade se arrasta desde o começo de 2017, quando o Tecpar, centro de pesquisas criado pelo governo paranaense e financiado com a venda de tecnologia para a iniciativa privada, decidiu encerrar a fabricação das doses de antígenos contra tuberculose e brucelose após uma auditoria do Ministério da Agricultura detectar a necessidade de investimentos de 25 milhões de reais para manter o padrão de qualidade da produção. “A receita com os kits de antígenos gira em torno de 10 milhões de reais”, diz Julio Felix, presidente do Tecpar. “Sem um investimento externo não compensaria financeiramente manter esse parque ativo.”

Para que a exclusividade do Instituto Biológico na fabricação de antígenos não acabasse travando as exportações brasileiras de proteína animal, foi preciso ampliar a produção no local. Desde janeiro, a direção do Instituto teve que multiplicar por 30 a capacidade de produção dos tanques de fabricação dos antígenos, que hoje em dia é de 300.000 litros a cada semestre, sem adicionar nenhum equipamento novo.

O preço das doses, por enquanto, não aumentou. Mas o gargalo da estrutura fez com que investimentos já planejados, como uma diversificação para antígenos de outras doenças, esteja fora dos planos do Instituto por ora. “Vamos continuar focando em brucelose e tuberculose por enquanto por causa da demanda alta” diz o veterinário Ricardo Jordão, responsável pelo laboratório de produção de imunológicos. “O importante é que estamos conseguindo dar conta de todos os pedidos.” O clima até agora é de comemoração pelo bom desempenho. Resta saber se, daqui em diante, os técnicos do Instituto Biológico vão poder celebrar novas conquistas – ou vão seguir apagando incêndios em meio à falta de estrutura técnica da pecuária brasileira.

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