Estudo mostra como lidar com a "síndrome do impostor"
Sentir-se como um impostor em sua carreira profissional ou acadêmica é um problema que afeta indivíduos ao redor do mundo; veja como lidar com a síndrome
Maria Eduarda Cury
Publicado em 28 de setembro de 2019 às 08h58.
Última atualização em 28 de setembro de 2019 às 10h10.
São Paulo - Para algumas pessoas, apenas o fato de estar em um ambiente de trabalho ou estudantil já faz com que se sintam nervosos e pressionados - muitas vezes, a cobrança excessiva pode partir até do próprio indivíduo. Ainda que a pessoa tenha diversas qualificações e seja boa na tarefa que faz, uma sala ou escritório com vários estudantes e profissionais que desejam a mesma coisa pode acabar criando uma competição interna que resulta em pânico - esse fenômeno é chamado de síndrome do impostor.
A síndrome do impostor, ou síndrome da fraude, é uma questão frequentemente levantada por educadores e psicólogos . O fenômeno, embora não seja reconhecido oficialmente como quadro clínico, é relatado como um problema por quem já se encontrou em uma ilusão de inferioridade. Ou seja, as pessoas se sentem menos qualificadas do que todos que estão ao seu redor, mas sem uma razão aparente.
O sentimento de falsidade, de que o indivíduo não pertence ao lugar que ocupa e que suas qualificações são insignificantes quando comparadas com as experiências de seus colegas, ainda que seja algo recorrente em muitos países, não possui uma solução psicológica. Pesquisadores e estudiosos da síndrome apontaram, porém, que ela aparece mais em pessoas que estão inseridas no meio acadêmico - e isso afeta homens e mulheres na mesma porcentagem.
Ainda que o termo seja mais frequentemente relacionado com profissionais já formados, estudantes também presenciam, ocasionalmente, o mesmo sentimento de fracasso ilusório. Para entender como alguns universitários se sentiam diante da situação, pesquisadores da Universidade Brigham Young, nos Estados Unidos , entrevistaram, na primeira fase, cerca de 20 alunos do curso de contabilidade da faculdade e lhes fizeram perguntas relacionadas com o curso e suas experiências pessoais.
Mesmo que a amostra de entrevistados seja pequena, os pesquisadores foram capazes de analisar que o sentimento é mais comum do que o esperado: um em cada cinco alunos afirmaram que já se sentiram impostores em seus cursos. De acordo com a pesquisa, o sentimento está ligado com insegurança ou eventos em que possam ter se sentido inferiores, por quaisquer motivos. Um dos alunos, que se manteve anônimo, informou aos pesquisadores que sentia vontade de guardar os sentimentos negativos para si. "Eu tenho que me esconder de todos, porque não posso deixá-los saber que sou péssimo", disse.
Bryan Stewart, um dos autores da pesquisa, informou que uma característica comum entre os indivíduos que sofrem da síndrome de impostor é pensar que as outras pessoas têm uma visão falsa deles. "Acreditamos que as pessoas gostam de nós por algo que não é real e que não gostarão de nós se descobrirem quem realmente somos", informou Stewart em comentário.
Como expulsar o sentimento de falsidade?
Publicada no jornal Journal of Vocational Behavior, a pesquisa teve uma segunda fase que contou com mais de 200 estudantes, todos do curso de contabilidade de Brigham Young. Nesta etapa, os indivíduos analisados relataram que acreditam ter mais facilidade em conversas sobre qualquer assunto com pessoas que não frequentam o mesmo curso que eles. Segundo os pesquisadores, isso acontece porque os estudantes acham mais fácil expor seus medos e inseguranças para quem não os vê como competição.
Outro método utilizado para combater a síndrome é conversar com familiares ou professores, mas a preferência é encontrar pessoas que não estejam envolvidas no mesmo programa acadêmico. Jeff Bednar, um dos autores do estudo, disse que quem está de fora é capaz de dar conselhos mais lúcidos para os estudantes que se sentem impostores. "Aqueles fora do grupo social parecem capazes de ajudar os alunos a enxergar o cenário geral e a recalibrar seus grupos de referência", relatou Bednar em nota.
Também foi pedido que os alunos falassem sobre técnicas de melhora que não deram certo. Muitos dos estudantes disseram que tentar ocupar a mente, ou evitar que os sentimentos apareçam, é uma tentativa falha e que acaba piorando a situação. Ações como esconder os sentimentos e passar o tempo livre com filmes ou videogames foram alguns dos métodos que agravam a síndrome, segundo os entrevistados.
Segundo os pesquisadores, as descobertas também se aplicam ao mercado de trabalho, e não apenas ao meio acadêmico.
Caso o problema seja frequente para o indivíduo, é provável que ele acabe desenvolvendo um quadro de ansiedade ou depressão. A síndrome, porém, não impede ninguém de realizar suas tarefas - a pessoa ainda é capaz de ser protagonista do seu cotidiano, ainda que não se veja como tal. É preciso, porém, expor seus sentimentos, para que não se tornem uma espécie de "bola de neve" interna e acabe prejudicando a saúde pessoal.