Ciência

"Estrela-zumbi" que não deveria existir desafia ciência — e pode redefinir regras do universo

Objeto nomeado ASKAP J1839-0756 desafia 60 anos de conhecimento sobre emissão de rádio por estrelas de nêutrons e sugere a existência de "estrelas zumbis"

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 15 de janeiro de 2025 às 13h27.

A comunidade astronômica está chocada após a descoberta de um objeto celeste que desafia teorias consolidadas. Nomeado ASKAP J1839-0756, o corpo foi detectado pelo telescópio de rádio ASKAP, na Austrália Ocidental, em janeiro de 2024, e apresenta características jamais vistas, segundo um estudo publicado na New Scientist.

O objeto, descrito como uma estrela morta, ou estrela zumbi, gira uma vez a cada 6,45 horas – a taxa mais lenta já observada para um pulsar emissor de ondas de rádio. Pulsars, normalmente, giram mais de uma vez por segundo, emitindo ondas de rádio que chegam à Terra como pulsos regulares.

Este comportamento tem sido fundamental para entender a emissão de rádio em estrelas de nêutrons, os remanescentes densos de supernovas. Mas a ASKAP J1839-0756 traz uma nova realidade.

Ao contrário dos pulsars conhecidos, que deixam de emitir ondas de rádio quando sua rotação cai abaixo de um ciclo por minuto, este objeto não só emite pulsos de rádio, como também possui um interpulso – um sinal secundário mais fraco, emitido entre os pulsos principais e vindo do polo magnético oposto.

A princípio, os cientistas consideraram que poderia ser uma anã branca isolada, mas os cálculos revelaram que suas características não são compatíveis com este tipo de estrela. Outra hipótese seria que fosse um magnetar, uma estrela de nêutrons com um campo magnético extremamente forte, 10 trilhões de vezes mais potente que o das máquinas de ressonância magnética mais avançadas. No entanto, até agora, magnetars com períodos de rotação semelhantes só foram observados emitindo raios-X, nunca ondas de rádio.

Manisha Caleb, da Universidade de Sydney, líder da equipe que descobriu o objeto, afirma que o fenômeno desafia as bases do conhecimento sobre estrelas de nêutrons. “Este objeto está completamente reescrevendo o que pensávamos saber sobre os mecanismos de emissão de rádio das estrelas de nêutrons nos últimos 60 anos”, afirma Caleb. A descoberta exige uma revisão do conceito de "linha da morte" – o limite teórico em que pulsars deixariam de emitir ondas de rádio.

Caleb descreve ASKAP J1839-0756 como uma estrela zumbi: um objeto que, teoricamente, deveria estar "morto" do ponto de vista da emissão de rádio, mas que continua "vivo" e pulsando. “Estamos vendo objetos que parecem cruzar essa linha da morte, mas continuam emitindo. Eles são como estrelas zumbis, desafiando nossa compreensão”, acrescenta.

A descoberta não só amplia a definição de pulsars como também abre novas possibilidades para o estudo de corpos celestes incomuns. ASKAP J1839-0756 promete ser um marco no entendimento da física estelar, provando que, no universo, ainda há muito para explorar — e surpreender.

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