Coronavírus pode invadir o cérebro, revela estudo americano
De acordo com o estudo, o vírus pode se duplicar dentro do cérebro e sua presença priva as células cerebrais próximas de oxigênio
AFP
Publicado em 10 de setembro de 2020 às 18h22.
Última atualização em 10 de setembro de 2020 às 18h34.
Dores de cabeça, confusão e delírios apresentados por alguns pacientes com covid-19 podem ser resultado de uma invasão direta do coronavírus no cérebro, segundo um estudo divulgado nesta quarta-feira, 9.
Embora a pesquisa ainda seja preliminar, traz novas evidências para apoiar o que até agora era apenas uma teoria não comprovada.
De acordo com o estudo, liderado por Akiko Iwasaki, imunologista da Universidade de Yale, o vírus pode se duplicar dentro do cérebro e sua presença priva as células cerebrais próximas de oxigênio. A frequência com que essa situação acontece ainda não está clara.
Andrew Josephson, chefe do departamento de neurologia da Universidade da Califórnia em São Francisco, elogiou as técnicas usadas no estudo e destacou que "compreender se existe ou não uma participação viral direta no cérebro é extremamente importante".
Entretanto, acrescentou que ele seria cauteloso até que a pesquisa seja objeto de uma revisão por pares.
Não seria uma grande surpresa o SARS-CoV-2 ser capaz de penetrar a barreira hematoencefálica, uma estrutura que envolve os vasos sanguíneos do cérebro e tenta bloquear substâncias estranhas.
Os médicos até agora acreditavam que as consequências neurológicas observadas em aproximadamente metade dos pacientes hospitalizados com covid-19 poderiam ser resultado de uma resposta imunológica anormal, "a tempestade de citocinas", que causava uma inflamação do cérebro em vez de uma invasão do vírus no cérebro.
A professora Iwasaki e seus colegas decidiram abordar o problema de três maneiras: infectando minicérebros criados em laboratório (os chamados organoides cerebrais), infectando ratos e examinando o cérebro de pacientes que morreram de covid-19.
Nos organoides cerebrais, a equipe descobriu que o vírus poderia infectar neurônios e depois "invadir" o mecanismo da célula neuronal para se duplicar.
As células infectadas provocavam a morte das células circundantes ao privá-las de oxigênio.
Um dos principais argumentos contra a teoria da invasão cerebral direta é que o cérebro não possui altos níveis de uma proteína chamada ACE2, à qual o coronavírus se liga e que é encontrada em abundância em outros órgãos, como os pulmões.
No entanto, a equipe descobriu que os organoides tinham ACE2 suficiente para facilitar a entrada do vírus e que as proteínas também estavam presentes nos cérebros dos pacientes falecidos.
Os pesquisadores também analisaram dois grupos de ratos: um modificado geneticamente para ter receptores ACE2 somente nos pulmões e o outro apenas no cérebro.
Os ratos infectados nos pulmões apresentaram lesões nesses órgãos; os animais infectados no cérebro perderam peso e morreram rapidamente, um potencial sinal de maior letalidade quando o vírus penetra no cérebro.
Além disso, os cérebros de três pacientes que morreram por complicações graves relacionadas ao coronavírus também mostraram rastros do vírus, em vários graus.