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Brasil vacina mais que vizinhos, mas precisa acelerar o ritmo em volume de doses disponíveis

Estudo de pesquisador da USP apontou a necessidade de vacinar cerca de 160 milhões de brasileiros com a Coronavac para o país alcançar a imunidade coletiva

“Se começar uma campanha e as doses acabam, não chegando novas, é ruim. É o que está acontecendo neste momento nas cidades do interior que já terminaram de vacinar com as primeiras doses, pois foram poucas", afirma especialista (Tomaz Silva/Agência Brasil)

“Se começar uma campanha e as doses acabam, não chegando novas, é ruim. É o que está acontecendo neste momento nas cidades do interior que já terminaram de vacinar com as primeiras doses, pois foram poucas", afirma especialista (Tomaz Silva/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 24 de janeiro de 2021 às 16h15.

Última atualização em 24 de janeiro de 2021 às 16h16.

Nos cinco primeiros dias de campanha nacional de vacinação contra a covid-19, o Brasil aplicou doses em 404,2 mil pessoas, aponta balanço feito pelo consórcio de veículos de imprensa junto às secretarias estaduais de saúde. Atrasado, o país começou na segunda-feira, quando mais de 50 nações já haviam vacinado. Agora tem começo mais veloz do que vizinhos como Argentina e Chile e até alguns europeus, a exemplo da Itália, mas fica atrás da Turquia, que também usa a Coronavac. Se considerar os tamanhos das populações, o ritmo inicial do Brasil perde também para Israel e Alemanha.

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O balanço de vacinação brasileiro é parcial, uma vez que há dados apenas de 11 Estados e do Distrito Federal, mas inclui a maioria das regiões mais populosas, como São Paulo, Rio, Bahia e Paraná. No último domingo, houve um grupo de vacinados no Hospital das Clínicas de São Paulo, logo após a autorização de uso emergencial dada à Coronavac pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Mas a campanha, de fato, só teve início na segunda-feira.

Cientistas da USP e da Unesp compararam a velocidade da vacinação no Brasil com a de outros países, a pedido do Estadão. A análise se concentra nos cinco primeiros dias de vacinação em cada país. “Embora o Brasil seja referência mundial em produção de vacinas e imunização em massa, a vacinação contra a covid-19 começou com uma temperatura morna”, avalia Wallace Casaca, matemático da Unesp e responsável pelo levantamento. O País agora precisa correr para recuperar o tempo perdido à espera da chegada e liberação dos imunizantes.

Casaca está à frente da plataforma SP Covid-19 Info Tracker, que projeta infecções, óbitos e recuperados em São Paulo. “O Brasil supera as campanhas da França, Itália e Espanha, países que sofreram muito com a pandemia”, afirma. “Por outro lado, é superado pela Turquia, que tem população muito menor do que a brasileira.”

Para comparar diferentes tamanhos de populações, os pesquisadores calcularam o número de doses aplicadas para grupos de 100 pessoas. De cada centena, o Brasil vacinou 0.19. Isso significa que foi vacinado 0,19% da população nacional. Israel já apresentava 2,3 vacinados por cem, já nos cinco primeiros dias de campanha. Na Turquia, de 82 milhões de habitantes, a vacinação começou em ritmo acelerado - nos dois primeiros dias foram imunizados 600 mil profissionais de saúde. O país comprou 50 milhões de doses da Coronavac e já recebeu 3 milhões.

Alguns países optaram por iniciar a vacinação mais cedo, ainda que com quantidade bastante limitada de doses. O Chile, por exemplo, começou na véspera do Natal, quando aterrissaram as primeiras 10 mil de doses da Pfizer. Imunizou cerca de 8,6 mil em quatro dias.

Estudo de pesquisador da USP apontou a necessidade de vacinar cerca de 160 milhões de brasileiros com a Coronavac para o País alcançar a imunidade coletiva. O recrudescimento da pandemia pressiona o governo a apressar a vacinação, mas o número limitado de doses é um gargalo. Nesta primeira semana, foi distribuído pelo País um lote de 6 milhões de unidades da Coronavac. A Anvisa aprovou o uso emergencial de outro lote, de 4,1 milhões, e chegaram 2 milhões de doses da vacina de Oxford, importadas da Índia.

O Brasil anunciou negociação de 70 milhões de doses com a Pfizer mas não fechou contrato. Para produzir mais, o Brasil depende de matéria-prima da China.

Gargalos

Na segunda, quando o Ministério da Saúde liberou a campanha nacional, houve problemas de logística para que as doses chegassem a todos os Estados - 11 só aplicaram as primeiras doses no dia seguinte.

Em cada região, a vacinação também foi iniciada ao mesmo tempo em que os lotes ainda eram divididos entre os grupos prioritários - profissionais de saúde, idosos em asilos e indígenas - e enviados para cidades do interior. Além disso, em oito Estados e no Distrito Federal foram abertas investigações sobre supostos desvios de doses e fura-filas, o que envolveu secretários de Saúde, filho de deputado e até os próprios prefeitos.

Ao receber a remessa indiana, o ministro, general Eduardo Pazuello, disse que “rapidamente” o Brasil deve conseguir vacinar oito milhões e passará a ser o 2.º país do Ocidente com mais imunizados, atrás dos Estados Unidos.

Para especialistas, a experiência em campanhas de larga escala - por meio do Programa Nacional de Imunização, que já oferece anualmente 300 milhões de doses de vacinas contra outras doenças - pode ajudar o Brasil a ganhar rapidez na vacinação. Mas a epidemiologista Ethel Maciel, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), se preocupa com a garantia de novas remessas.

“Se começar uma campanha e as doses acabam, não chegando novas, é ruim. É o que está acontecendo neste momento nas cidades do interior que já terminaram de vacinar com as primeiras doses, pois foram poucas. Às vezes, não se conseguiu vacinar nem toda a sua equipe de saúde”, afirma Ethel.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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