Ciência

BioNTech estipula prazo para produzir vacina para variantes da covid-19

Laboratório que está trabalhando junto com a Pfizer, porém, espera que sua vacina funcione contra as variantes do vírus Sars-CoV-2

Vacina da BioNTech: já sendo aplicada em países como Estados Unidos e Reino Unido (Justin Tallis/Pool/Getty Images)

Vacina da BioNTech: já sendo aplicada em países como Estados Unidos e Reino Unido (Justin Tallis/Pool/Getty Images)

RL

Rodrigo Loureiro

Publicado em 23 de dezembro de 2020 às 16h50.

Novas variantes do coronavírus estão preocupando autoridades de saúde do mundo inteiro. Uma das cepas, inclusive, surgiu no Brasil. A preocupação é de que as vacinas atuais possam não produzir a mesma proteção contra os novos vírus – o que pode ser uma preocupação exagerada. Mesmo assim, a empresa BioNTech já informa ser capaz de produzir um imunizante para as variantes do vírus Sars-CoV-2.

De acordo com o Financial Times, a companhia alemã informou que é capaz de produzir uma nova vacina, dedicada às variantes do novo coronavírus, dentro de um prazo de até seis semanas. “A beleza da tecnologia de mRNA mensageiro é que podemos começar a desenvolver diretamente uma vacina que imite completamente essa nova mutação e poderemos fabricá-la em um período de seis semanas”, afirmou Ugur Sahin, presidente da BioNTech.

A produção seria coordenada novamente com a farmacêutica alemã Pfizer. As duas empresas já estão trabalhando juntas na produção de uma vacina para a covid-19 e que já aprovada nos Estados Unidos e no Reino Unido.

Novas cepas do coronavírus trazem preocupação porque podem ser mais perigosas e transmissíveis. Uma cepa encontrada na Inglaterra, por exemplo, aparenta ser até 70% mais transmissível do que a “tradicional”, conforme apontam dados da Organização Mundial da Saúde e reportados pelo Axios. Já foram observadas mais de 20 mudanças nas cepas do vírus.

Sahin afirma que mesmo que o vírus apresente muitas variações, várias partes dele não seriam modificadas. Desta forma, as vacinas atuais ainda teriam taxa de eficácia relativamente alta.

Por isso, autoridades de saúde e pesquisadores dos Estados Unidos afirmam que a chance das vacinas produzidas atualmente não serem efetivas contra variantes da covid-19 é extremamente baixa.

“Existe uma crença muito forte de que a vacina, como existe hoje, terá eficácia para prevenir infecções dessa nova variação na Inglaterra, assim como protege contra a cepa antiga que estamos tentando conter por meses”, afirmou Vin Gupta, professor da Universidade de Washington, em entrevista para a emissora CNBC. “Não espero que essas mudanças pequenas no nível genético afete a performance da imunização a curto prazo.”

Do que são feitas as 13 vacinas em fase três de testes?

1. Sinovac Biotech — a vacina do laboratório Sinovac, conhecida como CoronaVac, tem como base o próprio vírus inativado criado em uma cultura dentro de um laboratório para ser aplicados nos pacientes. Conhecida como “vacina chinesa”, ela estimula a produção de anticorpos pelo corpo humano, o que ajuda a prevenir os sintomas graves da covid-19, que podem levar à morte. Com a formação desses anticorpos, o organismo pode combater a doença de forma mais eficiente, sem causar grandes danos à saúde. A expectativa da companhia é produzir até 100 milhões de doses anuais da vacina. Cerca de 10 mil voluntários estão sendo testados no Brasil. Na semana passada, o Instituto Butantan anunciou que começou as obras necessárias para a fabricação de cerca de 1 milhão de doses diárias da CoronaVac no Brasil. A obra deverá ser concluída somente no final do ano que vem. Outras 6 milhões de doses virão prontas da China.

2 e 3. Sinopharm (Wuhan e 3, Pequim) — menos comentada do que as outras, a vacina, também chinesa, “desencadeou uma reação imunológica” nos voluntários no início do mês de agosto. Os testes dela estão sendo realizados nos Emirados Árabes Unidos, onde deve recrutar cerca de 15 mil voluntários, e quer testar cerca de 60 brasileiros para a sua última fase de testes. No México, a vacina da Sinopharm conseguiu ter “100% de eficácia em um voluntário no México” — uma base muito pequena para demonstrar a real eficácia da proteção. Cerca de 56 mil pessoas já receberam a dose da vacina do laboratório chinês, que tem como base o vírus inativado da covid-19, segundo a mídia local.

4. Oxford e AstraZeneca — a vacina britânica está sendo testada em diversos países, entre eles o Brasil. Os testes administrados são duplo-cegos, ou seja, nem os médicos e nem os pacientes sabem qual dose está sendo administrada e possui um grupo de placebo. A vacina de Oxford é feita com base em adenovírus de chimpanzés (grupo de vírus que causam problemas respiratórios), e contém espículas do novo coronavírus. No Brasil, até o momento, aproximadamente 8.000 voluntários já tomaram as duas doses da proteção e outros 2.000 devem tomá-la até o final das pesquisas.

5. Moderna — mais uma americana na lista, a Moderna espera ter 20 milhões de doses disponíveis nos Estados Unidos, com cerca de 500 milhões de doses produzidas anualmente. A vacina, que tem como base o RNA do vírus, permanece estável em temperaturas entre 2 e 7 graus – semelhante a de uma geladeira doméstica – por até 30 dias — um bônus quando comparada com outras vacinas.

6. Pfizer e BioNTech — a empresa espera produzir até 100 milhões de doses até o fim do ano. Outras 1,3 bilhão de doses podem ser fabricadas no ano que vem. Apesar das boas notícias, a vacina da Pfizer pode ter um empecilho para a importação para outros países. Ela tem como base o RNA mensageiro, que tem como objetivo produzir as proteínas antivirais no corpo do indivíduo. Com a injeção, o conteúdo é capaz de informar as células do corpo humano sobre como produzir as proteínas capazes de lutar contra o coronavírus. O problema é que as vacinas do tipo precisam ser armazenadas em temperaturas muito baixas, de cerca de -70ºC, enquanto vacinas de DNA podem ser guardadas em temperatura ambiente. Se a vacina da Pfizer for aprovada, transportá-la para outros países poderá ser um problema.

7. Instituto Gamaleya — a polêmica vacina russa Sputnik V foi a primeira a ser registrada no mundo todo, mesmo sem ter passado por todas as fases de testes e, em pouco tempo, foi colocada para uso comercial. Em setembro, em um estudo publicado na prestigiada revista científica The Lancet, o instituto afirmou que “a vacina foi capaz de induzir resposta imune nos voluntários e se mostrou segura nos testes de fase 1 e 2”. Mais tarde, cientistas questionaram a veracidade e a duplicidade de certas informações que constavam no documento. A vacina teve duas fases pequenas de 42 dias — uma delas estudou uma formulação congelada e a outra uma versão desidratada da vacina. O que foi descoberto é que a vacina congelada é melhor para ser produzida em larga escala e preencher os estoques globais, enquanto a segunda opção é melhor para regiões de difícil alcance. Ela é baseada no adenovírus humano fundido com a espícula de proteína em formato de coroa que dá nome ao coronavírus. É por meio dessa espícula de proteína que o vírus se prende às células humanas e injeta seu material genético para se replicar até causar a apoptose, a morte celular, e, então, partir para a próxima vítima. Na semana passada, segundo o ministério da Saúde russo, a vacina apresentou 92% de eficácia — resultado divulgado, novamente, sem provas científicas.

8. Cansino — mais uma chinesa para a lista, a proteção do laboratório teve a primeira patente concedida no país. A Ad5-nCOV, como é chamada, também é baseada no vetor de adenovírus recombinante, e começou a ser testada em militares chineses no dia 25 de junho — essa fase de testes deve durar um ano. As fases 1 e 2 da vacina mostraram que ela tem “o potencial necessário para prevenir as doenças causadas pelo coronavírus”, mas o sucesso comercial dela ainda não pode ser garantido, afirmou a companhia mais cedo neste ano

9. Janssen e Johnson & Johnson — com a ideia de testar 60 mil pessoas em três continentes, a vacina da companhia americana terá apenas uma dose e será testada nos Estados Unidos, Brasil e África do Sul, entre outros. A ideia da companhia é ter resultados dos testes já no começo do próximo ano — se forem positivos, podem levar a uma autorização emergencial dos governos ao redor do mundo. Resultados preliminares da última fase, no entanto, não devem ser esperados pelos próximos dois meses. A vacina da Johnson & Johnson (em parceria com a farmacêutica belga Janssen Pharmaceuticals) utiliza um adenovírus (que causa a gripe comum) modificado a fim de induzir o sistema imune humano a se proteger contra o SARS-CoV-2. Segundo as empresas, a proteção será “produzida em larga escala” e até 1 bilhão de doses serão produzidas e distribuídas mundialmente em 2021, após uma eventual aprovação.

10. Novavax — outra empresa americana que está no páreo para a produção de uma vacina da covid-19 é a Novavax, que nunca produziu uma vacina em mais de três décadas de existência. A fórmula da vacina usa proteínas do próprio vírus para ativar uma resposta imune. A fase três de testes da imunização da Novavax incluirá idosos (cerca de 25% dos voluntários deve ter mais de 65 anos) e ocorrerá no Reino Unido, em parceria com o governo. 10 mil voluntários devem receber as doses da vacina experimental.

11. Bharat Biotech — a novata na lista das vacinas em fase três de testes é a COVAXIN, imunização que tem como base o vírus inativado da covid-19. O teste será realizado em 25 mil voluntários na Índia, inicialmente, com idades acima dos 18 anos em 25 centros no país. A empresa afirmou que irá monitorar os voluntários por um ano para estudar a ocorrência de casos ativos de coronavírus. Os voluntários da fase três receberão duas injeções intramusculares com uma diferença de 28 dias entre elas, de forma randomizada e duplo-cega, com um grupo de placebo.

12. Academia Chinesa de Ciências --- a vacina é feita com o vírus inativado da covid-19 e pretende testar 29.000 pessoas na China.

13. Medicago --- a companhia canadense irá testar cerca de 30.600 voluntários, e sua vacina é feita com um vírus-como a partícula baseado em plantas. A imunização também tem duas doses e resultados preliminares de sua eficácia devem ser divulgados depois de 31 de dezembro.

As fases para a aprovação de uma vacina

Para uma vacina ser aprovada, ela precisa passar por diversas fases de testes clínicos prévios e em humanos. Primeiro, ela passa por fases pré-clínicos, que incluem testes em animais como ratos ou macacos para identificar se a proteção produz resposta imunológica.

A fase 1 é a inicial, quando os laboratórios tentam comprovar a segurança de seus medicamentos em seres humanos; a segunda é a fase que tenta estabelecer que a vacina ou o remédio produz imunidade contra um vírus. Já a fase 3 é a última do estudo e tenta demonstrar a eficácia da imunização.

Uma vacina é finalmente disponibilizada para a população quando essa fase é finalizada e a proteção recebe um registro sanitário. Por fim, na fase 4, a vacina ou o remédio é disponibilizado para a população. Para chegar mais rápido ao destino, muitas opções contra a covid-19 nem passaram pela fase pré-clínica e outras estão fazendo fases combinadas, como a 1 e a 2 ao mesmo tempo.

Mesmo após passar por algumas das fases (como a 1 e a 2), uma vacina pode não ter sua eficácia comprovada, o que nos faria voltar à estaca zero.

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