Produtor audiovisual da agência Bistrô, Victor é gay e PCD (Divulgação/Divulgação)
Daniel Salles
Publicado em 26 de novembro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 26 de novembro de 2020 às 12h22.
Para a ironia virar dor de cabeça é um pulo. Porque nem todo mundo entende – são necessários ao menos dois neurônios. Veja o caso da agência de publicidade Bistrô, fundada em Porto Alegre há treze anos. Para registrar com estardalhaço sua chegada a São Paulo, onde pretende abrir um escritório, plano que a pandemia adiou para o ano que vem, ela criou uma campanha institucional com o seguinte slogan: “Temos vagas para homens brancos hétero”. Ela exalta um compromisso com a diversidade que não é da boca para fora, nem começou ontem – metade da diretoria da Bistrô é composta por mulheres, 25% por gays e 25% por negros.
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“Contratamos negros, transexuais e pessoas com deficiência de oito anos para cá e hoje, com 65 funcionários, somos diversos o suficiente a ponto de homens brancos é héteros não serem a maioria”, diz Fernanda Aldabe, CEO e uma das fundadoras. As vagas destinadas a homens brancos e héteros, convém esclarecer, não existem. “Não temos nada contra eles e é claro que no nosso quadro de funcionários há pessoas que se encaixam no perfil”, explica Fernanda. “Mas não abrimos mão da diversidade, que nos torna bem mais criativos”. Em seguida, ela informa que a Bistrô nunca pagou mais para homens que desempenham a mesma função que mulheres.
Dito tudo isso, a ironia fruto da ironia: parte dos internautas enxergou na campanha uma ação de repúdio ao recém-anunciado programa de trainee do Magazine Luiza, exclusivo para negros. Pior: parabenizou a agência por isso.
Difícil concluir algo assim. A campanha é ilustrada com fotos de funcionários como o Victor, produtor audiovisual. A peça dedicada a ele exibe a frase “temos vagas para homens brancos hétero”, mas, logo abaixo, informa que ele é gay e PCD. E faz um convite: “Conheça a agência Bistrô”. “Decidimos chegar em São Paulo mostrando os valores que nos diferenciam”, diz Fernanda, resumindo o intuito da campanha.
Ela conta que a agência já demitiu um cliente que pediu para clarear o tom de pele de modelos negras e outro que ameaçou a CEO fisicamente em reuniões, com direito a soco na mesa por discordar do trabalho executado. "Como um homem gay, me orgulho de ter fundado uma agência que ‘dá pinta’, mas sem fazer apenas um trabalho ‘nichado’”, diz o segundo fundador e CEO da Bistrô, Gabriel Besnos. “Nosso portfólio contempla diversos segmentos econômicos, não somos apenas a comunidade LGBTQI+”. A construtora Tegra, a JTI, a Three Dogs, a Dakota e a rede Intercity Hotéis são alguns dos clientes atuais.