Prince, segundo suas próprias palavras, em nova biografia
"The Beautiful Ones" tem depoimentos de Prince dados ao jornalista Dan Piepenbrin meses antes de sua morte, em 2016
AFP
Publicado em 31 de outubro de 2019 às 17h09.
Mestre do funk, gênio da música, visionário radical... Foram muitos os elogios ao lendário artista Prince, mas o coautor de seu novo livro de memórias não encontra palavras que sintetizem sua obra.
"Prince seria capaz de inventar alguma. Gostaria que estivesse aqui para me ajudar a expressar o que senti ao conhecê-lo", afirmou Dan Piepenbring, entre risos.
Alguns meses antes de sua morte em abril de 2016, Prince escolheu o então jovem de 29 anos para ajudá-lo a escrever uma biografia que "quebrasse o padrão das memórias".
"Se quero que este livro seja sobre uma coisa geral, esta coisa é a liberdade. E a liberdade de criar de forma autônoma", escreve Prince em "The Beautiful Ones" ("Os belos", em tradução livre), publicado esta semana.
"Quero dizer às pessoas que sejam criativas. Simplesmente comece criando o seu dia", disse Prince. "E então crie sua vida", completou.
A morte do artista, aos 57 anos, por uma overdose de opioides mudou os planos do livro. Inicialmente, a ideia era mergulhar na personalidade criada durante uma bem-sucedida carreira de décadas, na qual deu forma e reformulou o futuro do pop.
"Tentava esconder tudo o que havia ali fora sobre ele. Sentia que muitas coisas estavam ruins, ou mal dirigidas", disse Piepenbring à AFP.
O livro era uma forma de "corrigir o registro", disse o escritor.
Mas "não levou muito tempo para ele se dar conta de que o livro poderia ser muito mais do que isso, que não tinha que ser apenas uma correção, mas que havia muito poder neste meio", completou.
"Acho que a forma realmente o entusiasmou - como uma extensão de suas letras de música".
Primeiro beijo
O livro inclui reflexões de Piepenbring sobre sua colaboração com o enigmático Prince, um catálogo de imagens com fotos e páginas de cadernos do início de carreira com letras escritas à mão e uma sinopse do que acabaria sendo sua obra emblemática "Purple Rain".
Em seu léxico único que substitui as palavras com letras e números singulares (Prince foi um dos primeiros a adotar a linguagem da Internet), o astro é poético sobre sua vida na cidade de Minneapolis, onde cresceu.
Em particular, afunda em recordações e pensamentos sobre os pais e sobre sua profunda influência sobre ele.
Sua prosa graciosa e sincera descreve episódios de epilepsia infantil, sua puberdade, seu primeiro filme para maiores e seu primeiro beijo, quando, então um menino, brincava em casa com sua amiga Laura: ela "se parecia com a Elizabeth Taylor, só que pequena".
"Laura me beijou três vezes nesse dia", conta. "Esses beijos... foram tudo para mim".
Segundo Piepenbring, Prince era "um narrador convincente, divertido e animado", com um "segundo intelecto".
"Sua mente estava sempre em movimento. Parecia estar sempre 12 passos à frente de todos", completou.
Piepenbring falou pela última vez com Prince quatro dias antes de sua morte. "Foi a primeira vez que não senti nervoso", lembrou. "Me pareceu que ele ainda tinha tanta vida por viver", completou o autor.