Padilha vê paralelos entre RoboCop e Tropa de Elite
Robocop, que chega na sexta-feira, 21, a 700 salas do Brasil depois de ter ficado em terceiro lugar entre as melhores bilheterias do EUA no último fim de semana
Da Redação
Publicado em 20 de fevereiro de 2014 às 07h58.
O RoboCop é o BlackBope, brinca o diretor José Padilha, em conversa com o jornal O Estado de S.Paulo sobre seu mais novo filme, RoboCop, que chega na sexta-feira, 21, a 700 salas do Brasil depois de ter ficado em terceiro lugar entre as melhores bilheterias do EUA no último fim de semana. Vinda de quem é estudioso atento das origens e consequências da violência, a frase não poderia ser mais acertada.
Tem tudo a ver com o Tropa. Há o apresentador manipulador, a família, o policial... Este universo em que o homem se insere no contexto violento, diz a atriz Maria Ribeiro, que em Tropa de Elite vive a mulher do Capitão Nascimento, ao sair da sessão para convidados na terça à noite, no Rio. Exageros comparativos à parte, há de fato muito de Tropa em RoboCop. Na verdade, há muito de José Padilha nesta atualização da história original, dirigida em 1987 pelo holandês Paul Verhoeven.
Só aceitei fazer o filme porque José estaria nele. Além de ser um diretor que adoro, sabia que teria ideias fortes sobre o assunto e traria algo de novo, que não seria um remake sem identidade, diz o ator Joel Kinnaman, que interpreta o papel-título.
Ele e Michael Keaton, que no filme vive o vilão Raymond Sellars, estiveram no lançamento do filme no Brasil. José é incapaz de fazer um filme comum. Até se ele dirigisse Débi & Lóide ele ia encontrar alguma coisa e a gente ia sair do cinema pensando que a estupidez até que é interessante, brinca Keaton.
Mas o que de tanto há do irônico e corrosivo Tropa de Elite neste blockbuster sobre o policial meio homem meio robô que ganhou o mundo há 27 anos, ganhou duas sequências, virou franquia, série de TV e até desenho animado? Talvez, o fato de que tanto o oficial Alex Murphy quanto Capitão Nascimento sejam dois homens atormentados pelo contexto de violência e questões éticas em que a polícia de seus países se inserem. Ou então a percepção de que ambos compartilham o dilema de enfrentar a desumanização da polícia em face do cumprimento e da justificativa de atitudes violentas extremas. O filme tem um eixo político e um eixo existencial, comenta Padilha. Há um cara que um dia acorda sem saber o que aconteceu com ele, olha para um cientista e ouve: Você é um robô. Ele olha para si e se pergunta: O que sobrou de mim? É a questão do sou um homem ou uma máquina?, completa o diretor,
Se você parar para pensar, o conceito implícito no personagem do Robocop está presente no Tropa 1 e no 2. Há uma ideia filosófica que me interessa, de que a violência extrema acontece quando o agente da violência, o policial, perde a sua capacidade de crítica, de pensar sobre o que ele está fazendo, analisa o diretor. Verhoeven percebeu este conflito. E criou um personagem que já tem esta questão dentro de si. Este conflito entre automatização e o humano ocorre dentro do personagem. Esta sacada é genial, continua.
Interferência
Padilha conta que praticamente pediu para filmar Robocop. Estava em uma reunião e o pessoal do estúdio queria que eu fizesse o Hércules. Não queria, mas vi um pôster do Robocop na parede e disse: este aí eu quero fazer. Segundo ele, conseguiu fazer o filme que queria e ter a palavra final sobre o longa. Posso dizer que 50% do tempo eu gastei argumentando e 50% fazendo o filme. Mas valeu a pena. A questão política, por exemplo, não abri mão dela, e os testes com o público atestaram que funcionava. A ideia de que a automatização da violência abre uma janela para o fascismo é uma ideia importante. O que aconteceu no Iraque? Os EUA saíram de lá porque soldados americanos estavam morrendo. Se trocarem os soldados humanos por robôs, o que vai acontecer? Eles vão sair do Iraque? Aí se despolitiza a guerra internamente.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.