(Plateresca/Thinkstock)
Júlia Lewgoy
Publicado em 21 de abril de 2019 às 07h00.
Última atualização em 21 de abril de 2019 às 07h00.
Nas degustações anuais de novos produtos da região na semana passada, experimentei cerca de 500 amostras de barris dos extraordinários vinhos tintos de Bordeaux de 2018.
Os melhores vinhos são excepcionais: concentrados, com camadas de aroma, aveludados e delicados, puros e suculentos. Degustar vinhos de uma amostra a outra é geralmente difícil porque cansa o paladar, mas não este ano. Os vinhos combinam a vitalidade da safra de 2009 com a estrutura madura das safras de 2015 e 2016, além de uma nova energia que me fez desejar outra taça.
Alguns produtores, como Lafite Rothschild e Vieux Chateau Certan, fizeram vinhos fantásticos que certamente durarão por décadas, e encontrei muitos vinhos que serão verdadeiras barganhas, especialmente quando comparados aos cabernet de Napa Valley.
A desvantagem de 2018 é que a excelente qualidade não é para todos os vinhos. Em um ano de grandes vinhos ousados, alguns têm taninos amargos, alto teor alcoólico ou são muito pesados. Os tintos são claramente as estrelas, enquanto apenas alguns brancos ou suaves me impressionaram.
“Este é o ano do frescor e da suculência, juntamente com a densidade”, disse Nicolas Audebert, produtor do Chateau Rauzan-Segla. “Conseguimos obter essa combinação rara por causa da longa estação de crescimento”.
O clima sempre molda o caráter dos vinhos, e 2018 foi uma montanha-russa estressante, indo de um extremo ao outro. A primeira metade do ano parecia um desastre, com chuvas persistentes, tempestades de granizo violentas e surtos de mofo que reduziram a safra, mas felizmente não afetaram a qualidade das uvas que restaram.
A segunda metade do ano foi quente e excepcionalmente seca, seguida de uma colheita muito longa. As uvas maduras eram minúsculas, com muito tanino na casca e para manter o frescor, a delicadeza e o equilíbrio, foi preciso uma produção de vinho muito lenta. “2018 é uma safra particularmente de estilo americano”, disse Jeffrey Davies, um comerciante de vinhos americano trabalhando em Bordeaux. “Tem abundância e acessibilidade”.
Os produtores vão comunicar seus preços nos próximos dois meses e a grande questão será em qual investir. O jogo em Bordeaux funciona assim: os produtores estabelecem o preço de seus vinhos e os oferecem aos cerca de 400 negociantes da região (ou corretores), que adicionam uma margem de lucro e depois oferecem o produto aos varejistas, que acrescentam seus preços também. Para participar, você investe uma quantia com um varejista respeitável para o vinho que ainda envelhece em barris e recebe a versão engarrafada dois anos depois.
Para ganhar nesse jogo, você deve escolher os vinhos certos, ou seja, aqueles cujos preços são baixos o suficiente, que são feitos em pequenas quantidades ou para os quais há grande demanda. Na última safra muito boa em 2016, os vinhos que proporcionam os melhores retornos foram Les Carmes Haut Brion, Lafleur e Petrus, de acordo com estudo do Bordeaux 2018 feito pelo Wine Lister.
“Se o preço for justo”, diz Chris Deas, especialista em Bordeaux na Zachys Fine Wine em Scarsdale, Nova York, “acreditamos que haverá uma forte resposta dos nossos clientes”.