O trabalho pode prejudicar sua saúde de maneiras perigosas
Segundo estudo, pessoas com trabalhos mais estressantes correm um risco 22% maior de sofrer um AVC
Da Redação
Publicado em 3 de novembro de 2015 às 19h27.
São Paulo - Alguma vez você disse que seu trabalho está te “matando”? A hipérbole talvez não seja tão exagerada quanto parece.
As pessoas com empregos que geram alto grau de estresse correm risco 22% maior de sofrer um acidente vascular cerebral, o popular AVC, comparadas àquelas cujo trabalho gera pouco estresse.
O contraste é ainda mais marcante no caso das mulheres: o risco de um derrame é 33% mais alto para aquelas cujo trabalho gera alto nível de estresse.
Pesquisadores examinaram seis estudos de longo prazo conduzidos com um total de 138.782 participantes e constataram que, ao todo, o maior risco intensificado é o de AVC isquêmico.
Este é um tipo de AVC que abrange 87% dos casos e é decorrente de uma obstrução arterial causada por um depósito gorduroso.
Os derrames cerebrais são responsáveis por uma em cada 20 mortes anuais nos Estados Unidos. Também são a maior causa de invalidez grave de longo prazo no país, gerando custos médicos anuais estimados em US$ 34 bilhões.
O estudo não explica a possível ligação entre o risco de AVC e os empregos que geram alto grau de estresse, mas seu autor principal, Dingli Xu, da Southern Medical University de Guangzhou (China), aventou um palpite.
“É possível que empregos que geram muito estresse desencadeiem comportamentos poucos saudáveis, como maus hábitos alimentares, tabagismo e falta de exercício físico”, disse o médico em comunicado.
Para classificar os participantes nas categorias de empregos de alto ou baixo nível de estresse, os pesquisadores avaliaram suas ocupações, usando dois critérios.
O primeiro foi a demanda – ou seja, as pressões psicológicas do trabalho, como pressões de tempo, carga mental e responsabilidades de coordenação. O segundo foi o controle, ou seja, o controle que o funcionário pode ou não ter sobre as decisões ligadas ao trabalho.
Em seguida, classificaram o trabalho dos participantes em quatro grupos: baixa demanda e baixo controle; baixa demanda e alto controle, alta demanda e baixo controle e, por último, alta demanda e alto controle.
Os empregos foram classificados como sendo de “baixo nível de estresse” quando o trabalho era de baixa demanda e alto controle – por exemplo, empregos nas áreas de ciência ou arquitetura.
As pessoas com empregos de “alto nível de estresse” eram aquelas cujo trabalho era de alta demanda e baixo controle. Exemplo: trabalhos como o de garçonete ou auxiliar de enfermagem, no setor de serviços.
As pessoas que se enquadraram nas outras categorias de trabalho não apresentavam risco aumentado de derrame cerebral.
É crucial que indivíduos cujas ocupações são de alto estresse prestem atenção a problemas em seu estilo de vida.
Os participantes que faziam parte de outras categorias de trabalho (empregos “ativos” como o de médico ou professor, por exemplo, que reúnem alta demanda e alto controle) não apresentaram risco aumentado de AVC.
Em editorial que acompanha o estudo de Xu, a Dra. Jennifer Majersik, da University of Utah Health Care, escreveu que pesquisas científicas dos últimos 20 anos já apontaram para uma ligação entre doenças cardíacas e trabalhos que geram alto nível de estresse.
Majersik elogiou a meta-análise de Xu, dizendo que foi bem conduzida, mas ressalvou que ela não levou em conta os fatores preexistentes de risco de AVC nem mediu os níveis de inflamação e disfunção metabólica, variáveis que podem explicar o risco mais alto de AVC entre determinados grupos de trabalhadores.
Mas Majersik declarou que a análise de Xu lhe deu confiança suficiente para dizer a seus pacientes que seu AVC pode ter sido causado por estresse no trabalho e discutir com eles maneiras de reduzir o estresse sem abandonar seus empregos.
Xu escreve que uma maneira de reduzir o risco de AVC pode ser aumentar o acesso a terapia comportamental cognitiva e terapia de relaxamento, além de ajudar os profissionais a parar de fumar, seguir um regime alimentar saudável e praticar exercícios regularmente.
“Pelo fato de esta meta-análise ter revelado que a exposição a trabalhos de alto risco está associada a um risco intensificado de AVC, especialmente entre as mulheres, é crucial que indivíduos cujas ocupações sejam de alto estresse prestem atenção a problemas em seu estilo de vida”, conclui Xu em seu estudo.
Cada vez mais locais de trabalho (pense no Vale do Silício) estão investindo em terapias de relaxamento e benefícios de estilo de vida pensados para tranquilizar os profissionais e ajudar a deixá-los mais saudáveis.
Mas a maioria dessas intervenções se concentra em setores onde o nível de estresse é relativamente baixo, comparado ao dos profissionais do setor de serviços.
Os trabalhadores no setor de serviços muitas vezes são mal pagos, não têm controle sobre seu ambiente de trabalho e têm poucas oportunidades de promoção.
O setor de restaurantes, por exemplo, emprega 10 milhões de pessoas nos EUA e vem crescendo. Mas a maioria dos empregos no setor é mal paga, com muito poucos benefícios.
As garçonetes recebem em média US$ 10,15 por hora (cerca de R$ 40), valor que já inclui as gorjetas, e, segundo o Instituto de Política Econômica, um em cada seis trabalhadores em restaurantes vive abaixo da linha da pobreza.
Auxiliares de enfermagem – outra categoria citada especificamente no estudo de Xu – ganharam cerca de US$ 11,73 (cerca de R$ 46) por hora em 2012, segundo o Burô de Estatísticas do Trabalho.
Trata-se de outra categoria projetada para crescer rapidamente devido ao crescimento da população idosa no país e da necessidade crescente de clínicas residenciais de longo prazo para idosos.
Não importa qual seja seu trabalho, você pode reduzir o risco de sofrer um AVC se parar de fumar, seguir uma alimentação equilibrada e praticar exercícios regularmente.
Se seu trabalho é de alta demanda e baixo controle, a necessidade de seguir hábitos saudáveis é ainda mais urgente e pode salvar vidas, segundo estudos como o de Xu.
Esperemos que essa mensagem chegue aos ouvidos de todos os empregadores, e não apenas das empresas de tecnologia de mentalidade mais moderna.
São Paulo - Alguma vez você disse que seu trabalho está te “matando”? A hipérbole talvez não seja tão exagerada quanto parece.
As pessoas com empregos que geram alto grau de estresse correm risco 22% maior de sofrer um acidente vascular cerebral, o popular AVC, comparadas àquelas cujo trabalho gera pouco estresse.
O contraste é ainda mais marcante no caso das mulheres: o risco de um derrame é 33% mais alto para aquelas cujo trabalho gera alto nível de estresse.
Pesquisadores examinaram seis estudos de longo prazo conduzidos com um total de 138.782 participantes e constataram que, ao todo, o maior risco intensificado é o de AVC isquêmico.
Este é um tipo de AVC que abrange 87% dos casos e é decorrente de uma obstrução arterial causada por um depósito gorduroso.
Os derrames cerebrais são responsáveis por uma em cada 20 mortes anuais nos Estados Unidos. Também são a maior causa de invalidez grave de longo prazo no país, gerando custos médicos anuais estimados em US$ 34 bilhões.
O estudo não explica a possível ligação entre o risco de AVC e os empregos que geram alto grau de estresse, mas seu autor principal, Dingli Xu, da Southern Medical University de Guangzhou (China), aventou um palpite.
“É possível que empregos que geram muito estresse desencadeiem comportamentos poucos saudáveis, como maus hábitos alimentares, tabagismo e falta de exercício físico”, disse o médico em comunicado.
Para classificar os participantes nas categorias de empregos de alto ou baixo nível de estresse, os pesquisadores avaliaram suas ocupações, usando dois critérios.
O primeiro foi a demanda – ou seja, as pressões psicológicas do trabalho, como pressões de tempo, carga mental e responsabilidades de coordenação. O segundo foi o controle, ou seja, o controle que o funcionário pode ou não ter sobre as decisões ligadas ao trabalho.
Em seguida, classificaram o trabalho dos participantes em quatro grupos: baixa demanda e baixo controle; baixa demanda e alto controle, alta demanda e baixo controle e, por último, alta demanda e alto controle.
Os empregos foram classificados como sendo de “baixo nível de estresse” quando o trabalho era de baixa demanda e alto controle – por exemplo, empregos nas áreas de ciência ou arquitetura.
As pessoas com empregos de “alto nível de estresse” eram aquelas cujo trabalho era de alta demanda e baixo controle. Exemplo: trabalhos como o de garçonete ou auxiliar de enfermagem, no setor de serviços.
As pessoas que se enquadraram nas outras categorias de trabalho não apresentavam risco aumentado de derrame cerebral.
É crucial que indivíduos cujas ocupações são de alto estresse prestem atenção a problemas em seu estilo de vida.
Os participantes que faziam parte de outras categorias de trabalho (empregos “ativos” como o de médico ou professor, por exemplo, que reúnem alta demanda e alto controle) não apresentaram risco aumentado de AVC.
Em editorial que acompanha o estudo de Xu, a Dra. Jennifer Majersik, da University of Utah Health Care, escreveu que pesquisas científicas dos últimos 20 anos já apontaram para uma ligação entre doenças cardíacas e trabalhos que geram alto nível de estresse.
Majersik elogiou a meta-análise de Xu, dizendo que foi bem conduzida, mas ressalvou que ela não levou em conta os fatores preexistentes de risco de AVC nem mediu os níveis de inflamação e disfunção metabólica, variáveis que podem explicar o risco mais alto de AVC entre determinados grupos de trabalhadores.
Mas Majersik declarou que a análise de Xu lhe deu confiança suficiente para dizer a seus pacientes que seu AVC pode ter sido causado por estresse no trabalho e discutir com eles maneiras de reduzir o estresse sem abandonar seus empregos.
Xu escreve que uma maneira de reduzir o risco de AVC pode ser aumentar o acesso a terapia comportamental cognitiva e terapia de relaxamento, além de ajudar os profissionais a parar de fumar, seguir um regime alimentar saudável e praticar exercícios regularmente.
“Pelo fato de esta meta-análise ter revelado que a exposição a trabalhos de alto risco está associada a um risco intensificado de AVC, especialmente entre as mulheres, é crucial que indivíduos cujas ocupações sejam de alto estresse prestem atenção a problemas em seu estilo de vida”, conclui Xu em seu estudo.
Cada vez mais locais de trabalho (pense no Vale do Silício) estão investindo em terapias de relaxamento e benefícios de estilo de vida pensados para tranquilizar os profissionais e ajudar a deixá-los mais saudáveis.
Mas a maioria dessas intervenções se concentra em setores onde o nível de estresse é relativamente baixo, comparado ao dos profissionais do setor de serviços.
Os trabalhadores no setor de serviços muitas vezes são mal pagos, não têm controle sobre seu ambiente de trabalho e têm poucas oportunidades de promoção.
O setor de restaurantes, por exemplo, emprega 10 milhões de pessoas nos EUA e vem crescendo. Mas a maioria dos empregos no setor é mal paga, com muito poucos benefícios.
As garçonetes recebem em média US$ 10,15 por hora (cerca de R$ 40), valor que já inclui as gorjetas, e, segundo o Instituto de Política Econômica, um em cada seis trabalhadores em restaurantes vive abaixo da linha da pobreza.
Auxiliares de enfermagem – outra categoria citada especificamente no estudo de Xu – ganharam cerca de US$ 11,73 (cerca de R$ 46) por hora em 2012, segundo o Burô de Estatísticas do Trabalho.
Trata-se de outra categoria projetada para crescer rapidamente devido ao crescimento da população idosa no país e da necessidade crescente de clínicas residenciais de longo prazo para idosos.
Não importa qual seja seu trabalho, você pode reduzir o risco de sofrer um AVC se parar de fumar, seguir uma alimentação equilibrada e praticar exercícios regularmente.
Se seu trabalho é de alta demanda e baixo controle, a necessidade de seguir hábitos saudáveis é ainda mais urgente e pode salvar vidas, segundo estudos como o de Xu.
Esperemos que essa mensagem chegue aos ouvidos de todos os empregadores, e não apenas das empresas de tecnologia de mentalidade mais moderna.