O que as safras 2021 e 2022 contam sobre os vinhos da Borgonha, na França
Região abriga alguns dos vinhedos mais renomados do mundo e é conhecida por seus excepcionais Pinot Noir e Chardonnay
Sommelier
Publicado em 7 de novembro de 2023 às 15h15.
Quando discutimos vinhos da Borgonha, estamos imersos em uma experiência que transcende o ordinário. Essa região abriga alguns dos vinhedos mais renomados do mundo e é conhecida por seus excepcionais Pinot Noir e Chardonnay, que brilham com intensidade nas taças. Recentemente, tive a incrível oportunidade de me aventurar pelos vinhedos da Borgonha, explorando as safras de 2021 e 2022. Durante essa jornada, pude observar uma diferença clara que cada ano trouxe consigo na forma de uma narrativa única em termos de quantidade, qualidade e valores.
A safra de 2021 na Borgonha entrará para a história como uma das mais desafiadoras e intrigantes já registradas. As geadas tardias e inesperadas que assolaram a região criaram um cenário de grande complexidade. Quando o mês de setembro chegou, o que normalmente seria um período de abundância de uvas transformou-se em uma colheita notavelmente escassa. As geadas causaram um impacto devastador nos vinhedos, resultando em uma produção drasticamente reduzida.Um dos vinhedos mais notórios da região, o Montrachet, perdeu praticamente 90% de toda sua produção.
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No entanto, no meio das adversidades, surgiram algumas surpresas notáveis. Os vignerons que conseguiram proteger suas videiras ou explorar microclimas mais protegidos colheram uvas de qualidade verdadeiramente excepcional. Apesar das quantidades relativamente diminutas, as uvas colhidas na safra de 2021 revelaram uma concentração e profundidade de sabores impressionantes. Isso deu origem a vinhos que, embora escassos, se destacaram por sua potência e caráter marcante.
A safra 2022 na Borgonha
A safra de 2022, por outro lado, revelou um brilho distinto. As condições climáticas favoráveis durante a primavera e o verão proporcionaram uma colheita generosa e saudável. Todos os produtores frisaram a palavra generosa, após as dificuldades de 2021. As uvas estavam maduras e equilibradas, oferecendo aos produtores a oportunidade de criar vinhos de alta qualidade e de excelente complexidade.
Um elemento comum que percebi nas visitas que realizei, foi a menor utilização de barris de madeira nova na safra de 2022. Isso se deu em virtude da ótima safra que foi 2022, o que acaba por incentivar os produtores a buscarem cada vez mais a produção de vinhos que expressem o terroir. A utilização de madeira nova resulta no aporte de mais aromas advindos da adoção desta técnica da enologia, porém, confere maior longevidade para os grandes vinhos.
A verdade é que a safra de 2022 foi uma safra considerada ótima para os padrões da Borgonha e um dos grandes fatores que contribuíram para isso foi a brotação mais tardia em relação aos anos anteriores. Tal fator preservou os brotos das famosas geadas que vêm assombrando a região nos últimos anos. Feita essa breve comparação, é natural concluir que, seguindo a lei da oferta e demanda, os vinhos produzidos na safra de 2021 tenderiam a apresentar preços superiores em relação aos vinhos produzidos na generosa safra de 2022.
Ocorre que não foi isso que pude presenciar. Um fato raro de presenciar na viagem foi escutar de um produtor que ele iria rever para baixo os preços dos seus vinhos da safra de 2022. Isso porque com o constante aumento da procura pelos vinhos da Borgonha, os preços têm continuado a inflar, independentemente das safras. Para a infelicidade dos amantes da Borgonha, de sua história e de seus vinhos, creio que esse seja um dos motivos para que não vejamos um recuo nos preços da safra de 2022. Vamos acompanhar a chegada destas importações para o Brasil, visto que a safra de 2021 começou a chegar em nosso país, e a de 2022 ainda demora alguns meses para começar a aparecer por aqui.