O foguete SpaceX Falcon 9 com a nave tripulada Crew Dragon anexada decola da plataforma de lançamento 39A no Kennedy Space Center em Cape Canaveral, na Florida. (Joe Raedle/Getty Images)
Julia Storch
Publicado em 24 de junho de 2021 às 08h30.
Solte um balão e ele irá flutuar no ar, subindo mais e mais longe, até que finalmente esteja fora de vista. E talvez - se for um balão muito especial - alcance a estratosfera.
Essa é a ideia simples por trás do mais recente empreendimento de viagem espacial. A Space Perspective tem como objetivo usar “balões espaciais” gigantes para levar oito pessoas de cada vez a um mirante escuro a cerca de 30,6 km de altura para visualizações do planeta Terra por US$ 125 mil. Seus voos turísticos estão à venda desde ontem, 23, após um período de pré-venda privada que já esgotou pelo menos três viagens iniciais - todas com decolagem prevista para 2024.
Os cofundadores da empresa, Jane Poynter e Taber MacCallum, se conheceram enquanto participavam do Biosphere 2 — um experimento fracassado que ocorreu no início dos anos 90 para explorar a viabilidade da vida humana no espaço sideral. Por dois anos no deserto do Arizona, eles viveram com outras seis pessoas em uma espécie de estufa criada para uma vida totalmente autossustentável, modelando como seria estabelecer uma comunidade em Marte, por exemplo.
Desde então, a dupla atuou na assessoria técnica de Elon Musk para voos espaciais humanos, fundou uma empresa de tecnologia com foco em sistemas de suporte à vida para exploração espacial e ajudou o engenheiro do Google Alan Eustace a atingir um record em 2014 — o vôo em balão espacial mais alto já registrado: a 135.890 pés, cerca de 41.419 metros.
Quando seu veículo, o Neptune One, receber os retoques finais, provavelmente no final de 2023, ele se juntará a uma indústria nascente de turismo espacial, que, embora prevista por décadas, finalmente está dando frutos reais.
A empresa Blue Origin de Jeff Bezos acaba de leiloar um assento em um vôo espacial de 11 minutos por US$ 28 milhões, com partida prevista para 20 de julho. E Bezos estará a bordo.
A Space Perspective é diferente de seus concorrentes em vários aspectos. Por um lado, ela realmente não atinge o “espaço”.
As definições variam, mas a NASA considera que o limite do espaço está a 80 Km acima do nível médio do mar; organismos internacionais colocam-no mais alto, em 100 km, uma medida conhecida como a Linha Kármán.
O Neptune One atinge uma órbita máxima de 30 km, o que significa vistas épicas, mas nada de gravidade zero. “Não há realmente uma definição de espaço”, argumenta Poynter, falando no Zoom da sede da empresa em Cabo Canaveral, Flórida. “Deste ambiente, você tem a experiência de ver a Terra exatamente como os astronautas veem.”
A compensação é um vôo mais seguro e suave que não requer nenhum treinamento pré-vôo para seus passageiros. Parece “tão fácil e direto quanto voar em uma companhia aérea comercial”, diz Poynter. “É completamente o oposto de um vôo de foguete”, ela continua. A estridente pirotecnia da decolagem é substituída por uma flutuação silenciosa, quase serena.
Os passageiros devem chegar ao local alguns dias antes da viagem, permitindo algum tempo para visitar a plataforma de lançamento, fazer um tour pela cápsula do Neptune One e garantir que todos se sintam confortáveis e à vontade.
As viagens vão durar cerca de seis horas - um vôo de teste realizado na semana passada durou 6 horas e 39 minutos - partindo bem antes do raiar do dia para chegar ao ponto mais alto da órbita a tempo de ver o sol nascer da estratosfera. Ao longo do caminho, os viajantes espaciais podem sair de seus assentos reclináveis, tomar o café da manhã, que será personalizado de acordo com sua preferência, pedir bebidas em um bar ou conversar com o piloto, que deverá atuar como guia turístico. Há até mesmo Wi-Fi a bordo para transmitir os voos ao vivo. E sim, também há um banheiro.
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