Nem curta de Godard garante interesse de "3X3D"
Projeto tinha proposta de refletir sobre a produção cinematográfica em 3D
Da Redação
Publicado em 2 de janeiro de 2014 às 11h14.
São Paulo - O projeto de "3 X 3D" surgiu de encomenda da cidade portuguesa de Guimarães, que em 2012 foi a Capital Europeia da Cultura. A proposta era refletir sobre a produção cinematográfica em 3D, que parece ter vindo para ficar. Foram convidados o inglês Peter Greenaway, o português Edgar Pêra e o franco-suíço Jean-Luc Godard.
Como é comum acontecer nessas produções coletivas, o resultado é irregular. O filme estreia em São Paulo.
O filme começa com o curta de Greenway, que segue o mesmo padrão do russo "Arca Russa", de Alexander Sokúrov, filmando num único plano, sem cortes, para resumir a história de um lugar.
Aqui, o inglês tenta sintetizar a essência dos mais de dois milênios de Guimarães. Segue um percurso traçado entre a praça da Oliveira, a igreja da Senhora da Oliveira e os claustros do Museu Alberto Sampaio.
A história da cidade é relembrada por meio de figuras decisivas e tradições culturais.
Em 16 minutos, Greenaway tenta, em vão, dar conta da complexidade do processo histórico e de momentos-chave. Seu estilo sempre excessivo transforma a tela numa poluição visual repleta de cores, letras (nas mais diversas fontes), pessoas e informações, que saltam para fora da tela, enquanto narrações simultâneas saturam ainda mais o curta, intitulado "Just in Time".
Godard -provavelmente o maior chamariz de público para o filme- faz em "The Three Disasters" uma montagem de material de arquivo, criando um ensaio sobre a fragmentação da história e a intersecção desta com a história do cinema. Por meio de filmes, repensa a trajetória da humanidade.
Nesse metacinema, o 3D é um suplemento, nunca a razão de ser, na dialética da forma e conteúdo, essência e aparência, realidade e representação. "O digital será uma ditadura", esbraveja o filme, que também cita cineastas "de um olho só", como Fritz Lang, John Ford, Nicholas Ray. É necessário se deixar levar pelo fluxo da montagem, das imagens e sons, sem a preocupação, ao menos, num primeiro momento, de decodificar seus sentidos.
Pêra, cujo "Cinesapiens" é o último episódio, faz um ensaio sobre a história do espectador de cinema ao longo das décadas. Baseado no projeto de doutorado do diretor, o filme alinha situações que transitam entre o cômico e o fantasioso. Há, ao menos, a tentativa de explorar as possibilidades de uso do efeito de terceira dimensão. Ainda assim, o resultado é insatisfatório.
No fundo, como já disse o crítico da "Variety", Peter Debruge, "3x3D" é um projeto de vaidade, que serve apenas para celebrar a cidade de Guimarães. Para os portugueses, o interesse que pode haver é o fato de o filme de Pêra ser a primeira produção do país a usar o 3D. Fora isso, o projeto deve gerar apenas uma curiosidade passageira. Aos fãs de Godard, só resta esperar seu próximo filme, cujo título é "Adeus à Linguagem", e foi filmado em 3D.
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
São Paulo - O projeto de "3 X 3D" surgiu de encomenda da cidade portuguesa de Guimarães, que em 2012 foi a Capital Europeia da Cultura. A proposta era refletir sobre a produção cinematográfica em 3D, que parece ter vindo para ficar. Foram convidados o inglês Peter Greenaway, o português Edgar Pêra e o franco-suíço Jean-Luc Godard.
Como é comum acontecer nessas produções coletivas, o resultado é irregular. O filme estreia em São Paulo.
O filme começa com o curta de Greenway, que segue o mesmo padrão do russo "Arca Russa", de Alexander Sokúrov, filmando num único plano, sem cortes, para resumir a história de um lugar.
Aqui, o inglês tenta sintetizar a essência dos mais de dois milênios de Guimarães. Segue um percurso traçado entre a praça da Oliveira, a igreja da Senhora da Oliveira e os claustros do Museu Alberto Sampaio.
A história da cidade é relembrada por meio de figuras decisivas e tradições culturais.
Em 16 minutos, Greenaway tenta, em vão, dar conta da complexidade do processo histórico e de momentos-chave. Seu estilo sempre excessivo transforma a tela numa poluição visual repleta de cores, letras (nas mais diversas fontes), pessoas e informações, que saltam para fora da tela, enquanto narrações simultâneas saturam ainda mais o curta, intitulado "Just in Time".
Godard -provavelmente o maior chamariz de público para o filme- faz em "The Three Disasters" uma montagem de material de arquivo, criando um ensaio sobre a fragmentação da história e a intersecção desta com a história do cinema. Por meio de filmes, repensa a trajetória da humanidade.
Nesse metacinema, o 3D é um suplemento, nunca a razão de ser, na dialética da forma e conteúdo, essência e aparência, realidade e representação. "O digital será uma ditadura", esbraveja o filme, que também cita cineastas "de um olho só", como Fritz Lang, John Ford, Nicholas Ray. É necessário se deixar levar pelo fluxo da montagem, das imagens e sons, sem a preocupação, ao menos, num primeiro momento, de decodificar seus sentidos.
Pêra, cujo "Cinesapiens" é o último episódio, faz um ensaio sobre a história do espectador de cinema ao longo das décadas. Baseado no projeto de doutorado do diretor, o filme alinha situações que transitam entre o cômico e o fantasioso. Há, ao menos, a tentativa de explorar as possibilidades de uso do efeito de terceira dimensão. Ainda assim, o resultado é insatisfatório.
No fundo, como já disse o crítico da "Variety", Peter Debruge, "3x3D" é um projeto de vaidade, que serve apenas para celebrar a cidade de Guimarães. Para os portugueses, o interesse que pode haver é o fato de o filme de Pêra ser a primeira produção do país a usar o 3D. Fora isso, o projeto deve gerar apenas uma curiosidade passageira. Aos fãs de Godard, só resta esperar seu próximo filme, cujo título é "Adeus à Linguagem", e foi filmado em 3D.
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb