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Munro é a grande contista da atualidade, diz tradutor

Ex-presidente da Vale, Jorio Dauster traduziu livro da vencedora do prêmio Nobel

Escritora canadense Alice Munro: contista canadense foi laureada com o Prêmio Nobel de Literatura de 2013 (Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 11 de novembro de 2013 às 17h39.

São Paulo - Jorio Dauster tem em seu currículo de tradutor alguns grandes escritores que jamais tiveram a honra de receber o prêmio Nobel de Literatura, como J.D. Salinger e Vladimir Nabokov. E outros autores contemporâneos bastante celebrados e que seriam sérios candidatos a conquistá-lo, como Philip Roth e Ian McEwan.

Por isso ele ficou admirado quando viu que a Academia Sueca, "uma caixinha de surpresas maravilhosas", tinha decidido laurear em 2013 uma pouco conhecida contista canadense: Alice Munro. "É uma surpresa que eles tenham encontrado a dona Alice. Talvez porque ela tenha avisado que iria se aposentar... Mas eu acho que é um gesto muito bem vindo", diz.

Responsável por passar para o português o mais recente livro de Munro publicado no Brasil, "O amor de uma boa mulher", trabalho do qual ele tem muito orgulho, Dauster, 75 anos, é tradutor desde a década de 1960. Mas nas horas vagas chegou a ser negociador da dívida externa brasileira (1990-1991), embaixador na União Europeia (1991-1999) e presidente da Vale do Rio Doce (1999-2001).

Ele já havia lido uma obra da escritora canadense há muito tempo, mas sua paixão por ela é um sentimento recente. "A experiência de traduzir te obriga a um mergulho muito mais profundo na obra", explica.

A partir daí, virou fã desta reclusa autora de 82 anos, que tem como característica retratar em seus livros um universo relativamente estreito. Suas histórias não fogem muito de cidades como Ontário ou Vancouver, e os personagens, em geral mulheres, não vivem vidas extraordinárias ou exóticas.

Segundo Dauster, são pessoas que poderiam muito bem ser sua vizinha, colega de trabalho ou namorada. Existências aparentemente banais, que de repente se deparam com um abismo.

Como acontece com muitos de nós. "Mas ela consegue, dentro dessa limitação, fazer um número enorme de contos e com uma grande variedade de situações. A capacidade de tornar diverso o restrito é uma qualidade importante da sua obra", analisa.


O tradutor define Alice Munro como uma corredora de uma milha (1,6 km). Não é uma maratonista, nem uma velocista de 100 metros. Seus contos possuem em torno de 40 páginas, quantidade suficiente para desenvolver personalidades e ambientes, mas sem se alongar como uma novela ou um romance.

A fidelidade a essa característica e a um gênero literário muitas vezes escanteado pelos principais prêmios poderia fazer com que a Academia Sueca passasse batido por ela. "Mas o Nobel deixou clara a validade do conto. Eu sou um grande fã de contos, e ela é a grande autora do gênero atualmente", acrescenta Dauster, que garante só trabalhar com grandes mestres da literatura.

Quando recebeu a proposta da Companhia das Letras para traduzir "O amor de uma boa mulher", ele pouco se lembrava do que já havia lido da canadense, mas sabia do seu prestígio "neste mundo restrito do conto". Dauster então pediu um texto dela para avaliar. Deu uma olhada e logo falou para mandarem o restante.

Após a divulgação do resultado do Nobel, a mesma editora ofereceu a tradução de "Dear Life", o último livro escrito por Munro. Mas ainda que não a considere uma autora especialmente difícil, com uma linguagem simples, direta e de frases curtas, ele não pode realizar o trabalho devido à urgência do prazo, já que a obra deve ser lançada por aqui em dezembro. "Mas outra editora que tem títulos dela já me ofereceu uma tradução e eu estou praticamente aceitando", conta.

Atualmente, é possível encontrar nas livrarias brasileiras apenas três títulos da canadense em português, todos da Companhia das Letras. No entanto, ela já escreveu 14 livros de contos - sem contar as coletâneas. Para Dauster, daqui para frente todo mundo que tiver direitos sobre algum deles vai fazer novas traduções ou reeditá-los.

"Se houver uma reapresentação de sua obra ao longo de três ou quatro anos, o público poderá ter um enriquecimento importante", diz. É provável que Alice Munro não volte atrás na decisão de encerrar a sua carreira literária.

Mas no Brasil, estamos apenas começando a conhecê-la.

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São Paulo - Jorio Dauster tem em seu currículo de tradutor alguns grandes escritores que jamais tiveram a honra de receber o prêmio Nobel de Literatura, como J.D. Salinger e Vladimir Nabokov. E outros autores contemporâneos bastante celebrados e que seriam sérios candidatos a conquistá-lo, como Philip Roth e Ian McEwan.

Por isso ele ficou admirado quando viu que a Academia Sueca, "uma caixinha de surpresas maravilhosas", tinha decidido laurear em 2013 uma pouco conhecida contista canadense: Alice Munro. "É uma surpresa que eles tenham encontrado a dona Alice. Talvez porque ela tenha avisado que iria se aposentar... Mas eu acho que é um gesto muito bem vindo", diz.

Responsável por passar para o português o mais recente livro de Munro publicado no Brasil, "O amor de uma boa mulher", trabalho do qual ele tem muito orgulho, Dauster, 75 anos, é tradutor desde a década de 1960. Mas nas horas vagas chegou a ser negociador da dívida externa brasileira (1990-1991), embaixador na União Europeia (1991-1999) e presidente da Vale do Rio Doce (1999-2001).

Ele já havia lido uma obra da escritora canadense há muito tempo, mas sua paixão por ela é um sentimento recente. "A experiência de traduzir te obriga a um mergulho muito mais profundo na obra", explica.

A partir daí, virou fã desta reclusa autora de 82 anos, que tem como característica retratar em seus livros um universo relativamente estreito. Suas histórias não fogem muito de cidades como Ontário ou Vancouver, e os personagens, em geral mulheres, não vivem vidas extraordinárias ou exóticas.

Segundo Dauster, são pessoas que poderiam muito bem ser sua vizinha, colega de trabalho ou namorada. Existências aparentemente banais, que de repente se deparam com um abismo.

Como acontece com muitos de nós. "Mas ela consegue, dentro dessa limitação, fazer um número enorme de contos e com uma grande variedade de situações. A capacidade de tornar diverso o restrito é uma qualidade importante da sua obra", analisa.


O tradutor define Alice Munro como uma corredora de uma milha (1,6 km). Não é uma maratonista, nem uma velocista de 100 metros. Seus contos possuem em torno de 40 páginas, quantidade suficiente para desenvolver personalidades e ambientes, mas sem se alongar como uma novela ou um romance.

A fidelidade a essa característica e a um gênero literário muitas vezes escanteado pelos principais prêmios poderia fazer com que a Academia Sueca passasse batido por ela. "Mas o Nobel deixou clara a validade do conto. Eu sou um grande fã de contos, e ela é a grande autora do gênero atualmente", acrescenta Dauster, que garante só trabalhar com grandes mestres da literatura.

Quando recebeu a proposta da Companhia das Letras para traduzir "O amor de uma boa mulher", ele pouco se lembrava do que já havia lido da canadense, mas sabia do seu prestígio "neste mundo restrito do conto". Dauster então pediu um texto dela para avaliar. Deu uma olhada e logo falou para mandarem o restante.

Após a divulgação do resultado do Nobel, a mesma editora ofereceu a tradução de "Dear Life", o último livro escrito por Munro. Mas ainda que não a considere uma autora especialmente difícil, com uma linguagem simples, direta e de frases curtas, ele não pode realizar o trabalho devido à urgência do prazo, já que a obra deve ser lançada por aqui em dezembro. "Mas outra editora que tem títulos dela já me ofereceu uma tradução e eu estou praticamente aceitando", conta.

Atualmente, é possível encontrar nas livrarias brasileiras apenas três títulos da canadense em português, todos da Companhia das Letras. No entanto, ela já escreveu 14 livros de contos - sem contar as coletâneas. Para Dauster, daqui para frente todo mundo que tiver direitos sobre algum deles vai fazer novas traduções ou reeditá-los.

"Se houver uma reapresentação de sua obra ao longo de três ou quatro anos, o público poderá ter um enriquecimento importante", diz. É provável que Alice Munro não volte atrás na decisão de encerrar a sua carreira literária.

Mas no Brasil, estamos apenas começando a conhecê-la.

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