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Móveis antigos não fazem mais sucesso

Numa época em que programas de TV enfatizam cores claras e interiores minimalistas, pode ser difícil vender residências mobiliadas com antiguidades

Bruce Mager e seu Showplace Antique + Design Center, em Manhattan (Jackson Krule/The New York Times/Divulgação)

Bruce Mager e seu Showplace Antique + Design Center, em Manhattan (Jackson Krule/The New York Times/Divulgação)

Guilherme Dearo

Guilherme Dearo

Publicado em 24 de outubro de 2019 às 08h00.

Última atualização em 24 de outubro de 2019 às 08h13.

Nova York – Os proprietários do loft em Chelsea adoravam antiguidades e mobiliaram o apartamento de acordo com sua preferência. Havia uma cristaleira de madeira trabalhada e um carrilhão ao lado da porta. Tapetes persas forravam o chão.

E tudo estava prestes a ser vendido.

"Era muito bem decorado com antiguidades valiosas, mas que não combinavam com a ideia que muitos têm de um loft em Chelsea", disse Charlie Miller, corretor da Corcoran que representava os proprietários junto com sua colega Laurie Lewis. "Não tem muito a ver com o tipo de comprador que viria visitar o espaço."

Os proprietários não queriam remover a mobília e os corretores não estavam felizes com o interesse gerado pelo apartamento.

Então, tiraram fotos dos quartos e usaram a tecnologia para dar uma aparência diferente ao apartamento. A primeira foto do anúncio era uma nova versão da sala de visitas, um espaço grande com uma parede repleta de janelas. "Nós praticamente a esvaziamos e deixamos as paredes nuas. Demos um toque de modernidade. Foi vendido em questão de semanas", contou Lewis.

Numa época em que programas de televisão e revistas enfatizam cores claras e interiores minimalistas, pode ser mais difícil vender residências mobiliadas com antiguidades. Os móveis grandes, em particular, podem dar uma sensação de que a propriedade é menor do que é ou esconder detalhes desejáveis.

Deborah Ribner, corretora da Warburg, exibiu recentemente um apartamento em Sutton Place. O falecido proprietário amava antiguidades: havia 16 lustres enormes, a mesa da sala de jantar comportava 12 pessoas e tinha uma cadeira com aspecto de trono em uma das cabeceiras. "Todos os cômodos do apartamento tinham uma vista espetacular, mas estavam tão cheios de coisas que era difícil apreciá-la", disse Ribner. Ela ajudou a filha do dono a se livrar das peças, e várias ofertas surgiram, com a venda sendo efetuada após cinco semanas.

E o mais importante: numa época em que a mobília escura é preterida, as antiguidades podem fazer uma propriedade parecer datada e menos atraente para os compradores – especialmente os mais jovens. Isso pode exigir uma conversa delicada entre proprietários de antiguidades e corretores imobiliários.

"Se é uma pessoa de negócios, digo-lhe que o que estou vendendo é o espaço", comentou Robin Kencel, corretora da Compass em Greenwich, Connecticut. "Se estou lidando com um proprietário mais ligado a seu mobiliário, sou mais cautelosa. Vou usar fotografias de revistas ou da Restoration Hardware, que é conhecida do comprador que tem entre 35 e 45 anos."

Showplace Antique + Design Center em Manhattan

Showplace Antique + Design Center em Manhattan (Jackson Krule/The New York Times)

O problema se agrava pelo fato de que a maioria dos móveis antigos perdeu muito valor nas últimas duas décadas. Vender um aparador do século XIX que você ama por duas vezes o preço original é uma coisa; implorar por ofertas no Craigslist é outra bem diferente.

William e Mary-Claire Barton herdaram alguns móveis antigos e na década de 1980 começaram a colecioná-los como um investimento. "Convenci o Bill", disse Mary-Claire Barton, de 70 anos, ex-proprietária e diretora da Galeria Hoorn-Ashby em Nantucket e Nova York. "'Quando vendermos essas coisas na nossa velhice, elas vão valer muito mais.' Adivinha? Não valem."

Isso agora é um desafio doloroso, pois o casal quer um apartamento menor que o seu de três quartos no Musician's Building em 50 West 67th St. "O fato de que recebemos centavos por dólar quando vamos vendê-los não é divertido", disse William Barton.

O casal chamou uma conhecida casa de leilões para avaliar uma mesa de jogo e cadeiras George V que haviam sido compradas por US$ 10 mil em 2006. "Ele disse: 'Acho lindo, e todo mundo vai achar também'", disse Mary-Claire Barton. Mas provavelmente será vendido por apenas US$ 1.200.

Os filhos dos Barton gostariam de ficar com alguns móveis e procuraram outros compradores, mas os preços oferecidos eram muito baixos para que a venda valesse a pena.

"Cor escura não vende", declarou Amos Balaish, proprietário da New York Estate Buyers e do Showplace Antique + Design Center, em Chelsea. Ele acrescentou que costumava haver um bom mercado de antiguidades no Sul, "mas nem lá estão comprando mais. É meio triste".

Ele e seus funcionários têm muitas conversas difíceis com clientes potenciais que querem vender seus móveis. Andrea Baker, gerente da Showplace, disse que o mercado de tapetes caiu 90 por cento.

"Há o elemento da moda, em que as coisas são cíclicas, mas há outra trajetória, que é a vida ficando cada vez menos formal. Nos últimos 300 anos, tem havido uma tendência decrescente", disse ela.

Isso não significa, porém, que os proprietários de antiguidades precisam jogar tudo fora. Primeiro, Dennis Harrington, chefe do Departamento de Mobiliário Inglês e Europeu da Sotheby's, em Nova York, disse que o mercado de móveis escuros parecia ter chegado ao fundo do poço. "É muito cedo para falar sobre uma retomada, mas tivemos um ligeiro aumento no interesse nos últimos dois anos", afirmou ele.

A primeira coisa que um vendedor deve fazer é começar a se livrar das antiguidades o mais cedo possível: "Eu diria que, assim que você começar a pensar em colocar a propriedade no mercado, já não é sem tempo", disse Kencel, da Compass.

Se você suspeita que possa ter algo valioso, entre em contato com uma das principais casas de leilões. "Não se intimide com a marca e o nome", disse Harrington. Se não estiverem interessados, vão encaminhá-lo para outras fontes. Se estiverem, vão pedir fotos e documentos que porventura você tenha, para ter uma noção do valor da peça.

Recentemente, uma cliente quis vender duas cadeiras do século XIX que haviam custado originalmente US$ 12 mil. "O preço de mercado atual delas é de US$ 1.000. Mas ela tinha uns abajures de plástico que havia comprado por quase nada. Eles são mid-century – podemos pagar mais por eles", disse Balaish.

Adam Blackman, coproprietário da galeria de móveis Blackman Cruz, em Los Angeles, que lida com móveis novos e antigos, diz que há muitas casas de leilões regionais e locais que vendem móveis – e que os vendedores não precisam desanimar se suas peças forem rejeitadas. "Vá até o fim da lista", disse ele.

Ajuda saber quais tipos de móveis são mais fáceis de vender. Os artigos menores e mais versáteis, como mesas laterais, têm mais chances de ser vendidos, disse Baker. Harrington afirma que a oferta de mesas de jantar antigas superou a demanda, mas que as versões expansíveis tinham algum apelo, ao contrário das grandes escrivaninhas.

"As pessoas não leem ou escrevem do jeito que faziam antigamente", disse ele.

Apesar da popularidade da Ikea e da West Elm e do fechamento de lojas de antiguidades de Nova York à Califórnia, nem todos evitam os móveis mais velhos. E nem deveriam.

Quando bem usadas, as antiguidades podem dar mais riqueza e conforto a uma residência. Depois que os pais da decoradora Christina Murphy morreram há alguns anos, ela teve de esvaziar e vender suas duas casas tradicionalmente decoradas, uma na Flórida e outra no Maine. Ela contratou uma empresa na Flórida para a missão; a casa do Maine foi vendida com toda a mobília, mas os compradores deixaram Murphy escolher as peças que queria em sua própria casa em Manhattan.

"Pensava comigo mesma se compraria a peça se a visse em uma loja das antiguidades. Se a resposta fosse não, eu não a pegava", disse Murphy.

Ela pôs uma grande mesa redonda com uma base trabalhada em sua sala de visitas quase toda branca, uma escolha apoiada por Darryl Carter, que tem uma loja de decoração de interiores com seu nome em Washington, D.C.

"O ambiente é a coisa mais importante. As antiguidades podem parecer modernas se estiverem em um espaço branco", garantiu ele.

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