Moda autoral é lucrativa? A Misci abre loja no shopping Cidade Jardim, em São Paulo
A marca de alfaiataria com toque de brasilidade espera faturar R$ 1,9 milhão só no mês de dezembro e consolida entrada no mercado internacional
Ivan Padilla
Publicado em 21 de setembro de 2022 às 06h30.
O nome diz muito sobre seu posicionamento. Misci vem da palavra miscigenação. A proposta aqui é fazer uma alfaiataria muito bem feita, estruturada, com atenção ao acabamento, e com um toque de brasilidade. “ Luxo não tem relação com preço, mas com identidade. Não adianta cobrar caro por uma peça igual ao que já existe no mercado”, diz o estilista e fundador da marca Airon Martin.
Essa identidade brasileira se traduz em matérias-primas nacionais de qualidade, como seda e algodão orgânico, e estampas inspiradas em frutas nativas e no cangaço, para ficar em alguns poucos exemplos. As peças da Misci podem ser encontradas na loja no bairro de Pinheiros, em São Paulo, além do e-commerce. Por enquanto.
Em outubro a Misci abre sua segunda loja em um ponto bem diferente, o shopping Cidade Jardim, em São Paulo, do grupo JHSF, um dos epicentros paulistanos do luxo. “O local do novo ponto de venda foi uma dúvida muito grande”, diz Martin. “Pesou a comunicação bem estruturada do Cidade Jardim e lá furo a minha bolha dos atuais consumidores.”
70% de novos clientes por mês
Marca pequena não significa pouco lucrativa, como mostram os números da Misci. A loja em Pinheiros e o e-commerce faturam entre 350.000 e 400.000 reais por mês. “No ano passado fiz 600.000 reais, e com poucos produtos”, conta. Dezembro é o mês mais forte. A projeção de vendas somente na atual loja é de quase 1 milhão de reais.
Com o novo ponto no shopping Cidade Jardim a marca espera atingir vendas de 1,9 milhão de reais apenas em dezembro. As peças não são baratas. Um blazer custa em média 3.000 reais. A produção artesanal e o uso de materiais de qualidade explicam o valor. Mas Martin não sabe calcular o tíquete médio devido ao sucesso das bolsas. A linha de acessórios responde por quase 40% das vendas hoje e tem um preço final mais em conta.
Mairon tem uma clientela fiel. Ele conta que um cliente chegou a gastar 70.000 reais de uma vez. Ainda assim, tem um bom trunfo: uma média de 60% a 70% de clientes novos a cada mês. “Eu não tiro produtos de linha, vou evoluindo as peças e acrescentando novas. Quero que meu ciente encontre sempre o que precisar e veja consistência no meu trabalho.”
Magazine na França
A Misci não tem investidor. Os recursos aplicados são próprios. Seu único sócio é seu marido, um médico neuro-radiologista que toca o administrativo e o financeiro. Mas tem recebido abordagens. “Tenho conversado com grupos grandes, mas preciso entender qual é a hora de vender parte da empresa”, diz.
Um sócio investidor poderia ajudar no projeto de expansão internacional já em curso. Martin afirma que 15% das vendas já acontecem fora com parceiros como o marketplace de luxo Farfetch e vendas por Instagram.
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“Alguns influenciadores na Europa começaram a usar peças minhas espontaneamente. Um colete em específico fez bastante sucesso”, conta. Ele negocia agora a entrada da Misci em um grande magazine na França, provavelmente para 2023.
Mais peças femininas
O estilista mato-grossense começou a marca ainda quando cursava design no Istituto Europeo di Design (IED), em São Paulo. “As pessoas gostavam do que eu fazia e me chamavam para participar de projetos. Eu montei um estúdio dentro da faculdade para fazer mobiliário no início, depois fui para vestuário”, conta. Em 2018 lançou a primeira coleção, poucas peças sem gênero, uma cadeira e uma banqueta, à venda na multimarca Cartel 011.
Durante um ano, o estilista apenas manteve as peças à venda, sem lançar novas coleções. “Trabalhei apenas posicionamento para que o formador de opinião entendesse minha ideia, o que eu queria para a marca. Depois lancei mais uma coleção pequena. Durante dois anos então fiquei nessa de pouco produto e muito storytelling.”
Em 2020 ele começou a investir em produtos, tanto em volume como portfólio. Cerca de 95% da matéria prima que usa é nacional. Apenas aviamentos são importados. “Quero mostrar a potencialidade da indústria nacional”, diz.
A Misci participa da São Paulo Fashion Week, mas é menos suscetível a tendências. Os produtos permanecem em linha, com adaptações. “Não posso esquecer que no fim do dia também preciso vender”, diz. Ele diz que sentiu de seu público uma demanda maior por peças mais fluidas, amplas. “Meu corte é mais estruturado, mas entendo os movimentos do mercado.”
Para onde Martin quer levar sua marca? No futuro próximo, seu investimento será na linha feminina. “Hoje meu público é dividido ao meio entre feminino e masculino, mas estou ainda em um processo de maturação da marca, até para entender para onde vamos daqui dois, três anos.”