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Manuscritos de Kafka podem ser conhecidos pela primeira vez

Manuscritos de Kafka, hoje propriedade de seu amigo Max Bord, serão transferidos para a Biblioteca Nacional de Israel e ficarão disponíveis para todos


	Livros: escritor tcheco pediu ao amigo que queimasse todos os seus manuscritos depois de sua morte. Bord, porém, não obedeceu
 (©AFP / Christophe Simon)

Livros: escritor tcheco pediu ao amigo que queimasse todos os seus manuscritos depois de sua morte. Bord, porém, não obedeceu (©AFP / Christophe Simon)

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Da Redação

Publicado em 21 de outubro de 2012 às 08h44.

Jerusalém - Milhares de manuscritos de Franz Kafka (1883-1924), autor imprescindível do século 20, poderão ser conhecidos pela primeira vez após uma recente decisão judicial israelense que segue um longo caminho de fugas, paixões, heranças, promessas, segredos e cofres ocultos.

Assim que for executada a sentença ditada no fim de semana passado pelo Tribunal de Família do Distrito de Tel Aviv, o legado do amigo íntimo de Kafka - o escritor e compositor judeu Max Brod - será em breve transferido de mãos privadas para a Biblioteca Nacional de Israel, onde estará acessível para pesquisadores do mundo todo.

Porém, a execução pode se prolongar durante anos se os até agora proprietários do tesouro literário resolverem apelar a uma corte superior, como seus advogados advertiram que farão.

O autor judeu nascido em Praga publicou poucos de seus trabalhos em vida, mas, anos antes de morrer, entregou seus textos, cartas, anotações e esboços a seu amigo Brod, não sem antes fazê-lo prometer que os queimaria após sua morte.

Felizmente, para os amantes da leitura e para dezenas de autores influenciados por Kafka, como Albert Camus e Jorge Luis Borges, Brod não cumpriu sua promessa e publicou o que rapidamente se transformaram em obras-primas da literatura, como 'O Processo' e 'A Metamorfose'.

Fugindo de Praga por conta do avanço dos nazistas, Brod emigrou em 1939 para a Palestina sob protetorado britânico e, antes de morrer em 1968, entregou os manuscritos de Kafka e milhares de documentos e correspondências à sua secretária e amante, Esther Hoffe.


Em seu testamento, pediu que com a morte de Esther, os papéis fossem levados a um arquivo público 'em Israel ou no exterior'.

Hoffe morreu faz cinco anos com 102 anos de idade, o que gerou uma batalha judicial entre as autoridades culturais israelenses e suas duas filhas, Eva Hoffe e Ruth Wiesler (falecida há poucos meses).

'Brod lhe entregou o legado só para que o tivesse em vida, suas filhas não podiam herdá-lo', explicou à Agência Efe o professor Hagai Ben Shamai, diretor acadêmico da Biblioteca Nacional de Israel, que considera que joias literárias dessa relevância 'não podem permanecer em domínio privado'.

Para ele, o fato de Brod trazer os documentos para Israel e de que os dois amigos eram judeus é uma clara prova de que pertencem ao público israelense e que devem ficar no país.

Há dois anos, outra sentença judicial israelense obrigou às irmãs a abrir cinco cofres de um banco em Tel Aviv e outro em Zurique (Suíça), que guardavam milhares de páginas.

Além do material que foi classificado então, os analistas desconhecem que outros documentos podem estar nas mãos das famílias Hoffe e Wiesler.

Alguns especialistas acham que pode haver mais cofres ocultos e mantêm a esperança de que exista alguma obra inédita no enorme legado de Kafka.

Eva Hoffe nunca permitiu às autoridades entrar em seu apartamento, onde vive 'com 50 gatos e cinco cachorros que convivem com Kafka', disse à Efe o advogado da Biblioteca Nacional, Meir Heller.

Shamai acredita que no legado de Brod 'não existe nenhum trabalho de Kafka que não tenha sido publicado antes', embora admitisse não saber com certeza 'o que exatamente há nessa casa'.

Uma vez recolhido, restaurado, estudado e classificado, o arquivo de Brod, explica, será 'a joia' da Biblioteca Nacional.

Durante os cinco anos de luta pelos valiosos documentos, as irmãs Hoffe contaram com o apoio do Arquivo de Literatura Alemã da cidade de Marbach, que no passado comprou de Esther Hoffe vários manuscritos, entre eles o original de 'O Processo'.

Heller garantiu à Efe que seu próximo passo será reivindicar ao arquivo alemão os documentos, cuja venda considera ilegítima.

'Os alemães acham que os escritos fazem parte da cultura alemã, por estarem em idioma alemão, mas nós consideramos que são parte da cultura judaica e que devem permanecer no Estado judeu', concluiu Shamai. 

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